segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Patriotismo é uma condição material, não espiritual


Uma tese que derruba por definitivo o mito da "data-limite" e da suposta profecia de Francisco Cândido Xavier (corroborada por Divaldo Franco) é o caráter puramente material da delimitação de nações. Essa delimitação é válida, para o contexto sócio-cultural de quem vive na Terra, mas é completamente inútil e supérflua, se observarmos o contexto da vida espiritual.

É ilusória a ideia de um Hemisfério Norte sendo destruído para permitir a ascensão de um Brasil não só problemático mas dotado de um Rio de Janeiro - que deixou de ser capital administrativa, mas continua valendo como capital cultural, tida como "modelo" para o resto do país - cada vez mais retrógrado e extremamente provinciano e prepotente.

A suposta profecia não passa de fantasia de um anti-médium que só é considerado "maior brasileiro de todos os tempos" e "espírito da mais alta elevação moral" pelo sabor das conveniências e do pretensiosismo típicos do Brasil.

Sabemos que Chico Xavier nem de longe representou para valer esse carisma todo, foi apenas uma pessoa "boazinha" e "simpática" sem muita importância, mas que também cometeu erros terríveis que só prejudicaram não apenas a Doutrina Espírita quanto a sociedade brasileira como um todo.

No caso de sua perspectiva em relação ao Brasil, Chico Xavier desejava, da mesma maneira tola de um caipira conservador, que o Brasil estivesse na liderança das nações do planeta, mesmo sem ter qualquer condição para isso.

Afinal, o Brasil é um país recente, que não enfrentou muitas dificuldades que o "velho mundo" enfrentou. E querer que o "velho mundo" se destrua lembra muito a recordação histórica do declínio da Antiguidade Clássica para o crescimento do Império Romano e para a formação das condições que desenharam a sociedade da Idade Média.

Mas, independente de achar que o Brasil liderará ou não o mundo, querer que um país comande a evolução da humanidade é uma condição puramente materialista, que contraria frontalmente a essência da Doutrina Espírita de Allan Kardec.

O pedagogo francês nunca defendeu o estabelecimento de prazos para evolução da humanidade. Coerente, lógico e prudente, Kardec sempre pensou que a humanidade, pela caraterística própria de imprevisibilidade, não tem período certo para se evoluir.

Da mesma forma, não existem territórios marcados para progressos humanos, eles ocorrem mais pela ação das vontades dos homens, dos jogos de interesses, dos contextos sociais diversos. A evolução da humanidade é completamente indeterminável e imprevisível quanto ao tempo e ao espaço.

Restringir o progresso humano ao tempo e espaço é uma visão materialista. O patriotismo que anima os "espíritas", tão "fiéis" a Allan Kardec, a eleger o Brasil como o "Eldorado do futuro", não faz o menor sentido lógico, sendo uma visão radicalmente contrária a do pedagogo francês, porque é uma fantasia materialista e tão tola que dá pena defini-la como infantil, porque até as crianças poderiam questioná-la.

O Brasil nem precisa ser líder da comunidade das nações. É essa paranoia de liderança que está estragando o Rio de Janeiro, sujeito a se tornar um Estado feito só para turistas, com sua estrutura social, cultural, política e econômica surreais, em que até mesmo a mobilidade urbana e a cultura rock são deturpados para o bem dos investidores estrangeiros.

Pega até mal querer que o Brasil seja líder do mundo. Primeiro, cria expectativas e perspectivas ilusórias demais. Faz as elites exploradoras do povo ficarem cada vez mais poderosas e cruéis. Faz com que o país tenha pressa em se progredir, quando todavia regride cada vez mais. E faz aumentar ainda mais as injustiças e desigualdades dissimuladas pela ilusão do progresso.

Não há necessidade de nação alguma querer ser o centro do mundo. Isso cria mais desvantagens do que vantagens, além de ser uma visão puramente material, sem validade alguma para o âmbito espiritual. Temos que pensar a justiça social independente desse isolamento ideológico do tempo e do espaço que tanto corrompe emoções e esperanças pessoais ou coletivas.

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