terça-feira, 22 de setembro de 2015

Madre Teresa de Calcutá pode ter sido uma farsa, mas nem por isso ela escreveu 'A Força Eterna do Amor'


Evidentemente, documentários mostraram que Madre Teresa de Calcutá nunca passou de um mito inventado pelo sensacionalismo midiático, num casamento que, conforme nos lembrou Christopher Hitchens, unia essa qualidade com a superstição medieval.

Podemos inferir que a esse casamento entre sensacionalismo midiático e superstição medieval, há muitos e muitos clichês relacionados à moral, à humildade e à devoção religiosa, que temperam esse mito que causa muita catarse e deslumbramento entre as pessoas.

Madre Teresa de Calcutá foi duramente questionada por Hitchens, a partir do livro A Intocável Madre Teresa de Calcutá (The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice), de 1995, dois anos antes do falecimento da freira albaneza (na verdade nascida na atual Macedônia).

Depois, foi lançado o documentário com o título contundente de Anjo do Inferno: Madre Teresa de Calcutá (Hell's Angel), em 1997, ano de morte da freira, um feito considerado muito agressivo diante da repercussão da perda de uma figura ainda considerada intocável e muitíssimo adorada.

Entre as acusações contra a freira, denunciadas não só por Hitchens mas por pesquisadores sérios da Universidade de Montreal, estão a apologia ao sofrimento humano, as alianças com líderes poderosos de valor duvidoso, como ditadores de diversos países e o presidente dos EUA, Ronald Reagan, que na época financiava os esquadrões da morte que dizimaram até missionários na América Central e reduziram os movimentos sociais da época a quase nada, com os assassinatos de seus membros.

Madre Teresa é acusada também de não dar o tratamento devido aos assistidos, sobretudo no Lar dos Moribundos, em Kalighat, bairro de Calcutá, que eram tratados e alojados sem qualquer tipo de higiene e não recebiam alimentação digna e saudável nem assistência médica e concessão de remédios necessários para o tratamento de suas doenças.

Ela também é acusada de estabelecer alianças com magnatas envolvidos em corrupção empresarial, pedofilia, estelionato e outras práticas ilícitas, para arrecadar dinheiro que a freira desviava para as fortunas dos líderes do Vaticano.

O "ESPIRITISMO" E A "AMOROSA" MADRE TERESA

Christopher Hitchens nunca foi processado pelas denúncias que divulgou. E mesmo o título "anjo do inferno" não lhe rendeu qualquer tipo de processo por calúnia. As críticas se mostram pertinentes, sobretudo porque Madre Teresa era amiga de magnatas e tiranos políticos, enquanto deixava os pobres à própria sorte, ou melhor, à falta de sorte.

O próprio alojamento dos doentes no Lar dos Moribundos é algo estarrecedor. Eles eram alojados sem qualquer separação por biombos ou quartos, dentro de um grande salão, expostos uns aos outros, com grave risco de transmissão de doenças, que piorava pela falta de higiene com que eram tratados pelos funcionários da casa, que teve outras instalações similares bancadas por Madre Teresa.

Enquanto essa visão realista era difundida - e surpreendentemente aceita pelo sentido lógico e verídico das denúncias - , no Brasil o "espiritismo" chegou a lançar um trabalho favorável a Madre Teresa de Calcutá, atribuindo a ela uma suposta autoria espiritual.

O "espiritismo" brasileiro consegue fazer com que a aberrante "teologia do sofrimento", que impõe ao sofredor a conformação com seus próprios infortúnios, vista como aberrante e patética pelos investigadores do caso Madre Teresa, em algo como "positivo" e "necessário" quando associado a Francisco Cândido Xavier, que defendia a ideia da mesma forma que a freira.

Robson Pinheiro, suposto médium "independente" - não tem vínculo com a FEB - havia lançado em 2009 um livro atribuído à Madre Teresa, A Força Eterna do Amor, um misto de pregações piegas com auto-ajuda, em que chama a atenção o caráter conservador de quando o "espírito da freira" diz que não se deve mudar de profissão ou de igreja, da mesma forma que sutilmente prefere o trabalho angustiante do que "a vivência sadia do lazer, da diversão". Ei-los:

"O trabalho..a distração mais bela...transforme o trabalho em motivação.
É preciso trabalhar com o espírito da perseverança, sem desanimar, insistindo na continuidade da tarefa, e se for necessário mudar, mudemos apenas o campo onde plantamos. Não podemos ter tudo o que desejamos, é necessário abrir mão de certas coisas para se ter outra, são as escolhas...o trabalho precisa ser visto por nós como fonte de recursos, de felicidade e como oportunidade de desenvolver o amor. Podemos até usar o momento de desafio de nosso trabalho para criar.
A nossa incapacidade de nos organizarmos, leva a insatisfação com o trabalho. Em nossa indisciplina, as coisas não são  e nem funcionam como desejamos...ai vem um pesar por não conseguir conciliar  as tarefas e o lazer ou coisas que julga necessário fazer.
Valorize o seu trabalho, viva bem com aquilo que tem, seja muito ou pouco, até porque, muito ou pouco, são ideias bem elásticas e bastante relativas. O trabalho, a medida que valorizado,  começara a perceber a satisfação que ele trás, as inúmeras possibilidades que ele faculta, olhando por esse lado, facilita ver, que tens o que tens pelo fruto de seu trabalho.
Vivemos em constante conflito entre o trabalho ao qual nos dedicamos e a vivência sadia do lazer, da diversão e de outros aspectos da vida que desejamos muitíssimo experimentar, mas que devido a nossa falta de vocação, não vemos como conciliar; ora porque então perder tempo, ninguém no mundo pode tudo, compete a nós a descoberta de qual é o foco de nossa vida!

A pior derrota: o desânimo. Há momentos que não encontramos motivação que dê vida ao que realizamos, e nada resolve cedermos à melancolia, à depressão, às cobranças e à procura de culpados. Falta nos vida, paixão, amor e entusiasmo que se foram ao longo de nossa caminhada, não sem a nossa permissão. Diante dessa crise, não resolve trocar de atividade, igreja ou profissão. O problema é que perdemos ao longo do caminho o sonho, o entusiasmo, a paixão. Tornamo-nos amargos tanto com o desenvolver do trabalho quanto a colheita dos frutos. Para recomeçar é preciso avaliar os passos que levaram ao esfriamento, ao afastamento ou às desculpas, lançar mão de justificativas intermináveis e adotar postura defensiva.
Procurar então, a partir de uma reavaliação sincera, de uma atitude íntima e corajosa, reacender a chama da fé, dar alma ou adquirir paixão por aquilo que se faz e assim reaver o elo vocacional com a tarefa abraçada por inspiração divina. Ressuscite como Cristo, reacenda-se, ilumine-se!

Se mesmo com imensas atividades, ainda assim se sinta insatisfeito, talvez seja porque esteja buscando algo diferente, querendo reconhecimento ou promoção, ou mantendo os olhos na atividade do outro, ansiando desempenhar um papel que não lhe compete, esse tipo de atitude traz desgostos, desapontamentos, porque não estamos preparados para fazer, assumir o que compete a outro. Isso traz decepção consigo mesmo e dificuldade em reconhecer que não se está preparado para voos maiores no campo das realizações"

O trecho a seguir chama a atenção na suposta postura de "não eximir aqueles que erram de forma calculada, que tem como objetivo lesar o próximo, o sistema ou a comunidade em que se veem envolvidos", sem perceber que o "espiritismo" está cheio desses indivíduos, muitos deles condenando os erros dos outros enquanto têm medo de assumirem tais delitos quando partem deles próprios.

"O perdão ou exercício de perdoar assenta-se sobre esta verdade absoluta: todos estamos em fase de aprendizado no contexto em que nos encontramos no mundo. Ninguém pode se isentar do erro, do pecado ou da queda, como queiram se utilizar das palavras; resta-nos unicamente constatar nossos poucos acertos e muitos erros de caminhada, ao longo do percurso. Naturalmente não intenciono eximir aqueles que erram de forma calculada, que tem como objetivo lesar o próximo, o sistema ou a comunidade em que se veem envolvidos. Não me refiro ao erro premeditado, pensado, planejado. Quero examinar é quanto de nós cobramos do outro aquilo que nem nós mesmos estamos preparados para viver; experimentar ou oferecer. Assim sendo, fico refletindo sobre como nos especializamos em cobrar; punir e ser cruéis com aqueles que estão como nós, aprendendo. Por isso acredito que devemos nos dedicar mais ao exercício do perdão. Sem nos perdoarmos, não há como ser feliz de maneira plena; sem perdoar o próximo não há como conviver; ser parceiro, caminhar de mãos dadas. Acho que por isso tudo, o conselho de Nosso Senhor Jesus Cristo é deveras atual, urgente e terapêutico para nós, os que precisamos do médico das almas para nos curarmos das feridas íntimas que trazemos do nosso passado".

POR QUE MADRE TERESA NÃO ESCREVEU O LIVRO

Apesar de muitos trechos do livro condizerem com o pensamento conservador de Madre Teresa de Calcutá, devemos chamar a atenção para o seguinte: a mediunidade quase nunca é praticada no Brasil, sendo o que se chama de "atividade mediúnica" um enorme engodo de pastiches e fraudes consequentes da pouca concentração dos "médiuns" e de sua ignorância da Ciência Espírita.

Robson Pinheiro é famoso por usar o suposto espírito de Ângelo Inácio para descrever um Cazuza patético, igrejista e que se comportava como um calouro debiloide do Cassino do Chacrinha, tão caricato que o suposto Cazuza mais parece um clone do Sérgio Mallandro.

Recentemente, Robson usou o nome de Tancredo Neves para escrever uma mensagem igrejista em que o suposto político errava por falar em "mídias sociais" como se fosse um universitário viciado em WhatsApp, uma "psicografia" tão patética quanto a trajetória política de seu neto, Aécio Neves, conhecido pela corrupção política e pelo comportamento fanfarrão.

Madre Teresa, portanto, não escreveu esse livro, até porque seu espírito, quando deixou a vida material, já havia sofrido o choque da desilusão, e a essas alturas ficou com a consciência perturbada quando sua suposta santidade era contestada duramente com o título de "anjo do inferno" dado por Christopher Hitchens.

A "Madre Teresa" que aparece no livro de Robson Pinheiro é ainda a "freira serena", com a consciência tranquila para transmitir um receituário moralista de forma semelhante que Joana de Angelis (mentora de Divaldo Franco que, todavia, não teria sido a sóror Joana Angélica pelo conflito de aspectos pessoais; a soror baiana era valente, mas não autoritária) transmitiu na literatura divaldista.

A freira albaneza, a essas alturas bastante abalada pelos escândalos de 1995-1997, não poderia aparecer serenamente em 2008 ou 2009 para trazer palavras "positivas". Com a moral abatida, ela pode até ter se reencarnado antes ou tendo alguma crise ou autocrítica, mas, com toda certeza, sem qualquer disposição para lançar um livro como o que Robson Pinheiro havia lançado.

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