quarta-feira, 2 de setembro de 2015
Rio de Janeiro peca pelo autoritarismo de uma minoria
Recentemente, muitas denúncias apontam para o retrocesso que sofre o Rio de Janeiro, que como metrópole brasileira sucumbe a uma decadência vertiginosa, que os noticiários do cotidiano não podem mais esconder.
Afinal, todas as crises, transtornos e tragédias que sofre não só a outrora Cidade Maravilhosa, mas as cidades de sua região metropolitana - Niterói impressiona por um provincianismo comparável ao de uma cidade do Norte do país - , não podem ser vistas como "naturais" a pretexto da complexidade da zona urbana, mas como reflexos de uma decadência grave e preocupante.
Desde os anos 90, o Rio de Janeiro sofre retrocessos, mas eles, infelizmente, se consolidaram hoje, em que tudo acabou dependendo das decisões de grupos minoritários de políticos, empresários, tecnocratas e outros agentes que determinam desde o gosto musical dos cariocas até a mobilidade urbana, com ideias que, geralmente, são originárias da ditadura militar.
Daí a forte reputação de pessoas como Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha, só para citar políticos locais (embora Jair seja de origem paulista), marcadas pelo autoritarismo mais histérico, que no entanto também pode envolver pessoas aparentemente discretas como o tecnocrata Alexandre Sansão, cuja visão de mobilidade urbana é completamente fora da realidade do povo carioca.
O autoritarismo é tanto que até rádio de rock o mercado decide qual emissora deve ser. Pouco importa se a equipe da Rádio Cidade é especializada ou não em rock (na verdade, não é, nem um pouco), mas é ela que o mercado decide que vai representar o gênero, para o bem de executivos e empresários associados e ao esquema de mercado e mídia que os envolve.
O fanatismo do futebol em que o inconsciente coletivo dos cariocas não é mais do que um brinquedo a ser manipulado pelos dirigentes esportivos dos quatro times principais - Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo - é algo preocupante, porque o fanatismo pelo esporte é usado como moeda obrigatória para as relações sociais.
Dessa forma, os cariocas que não curtem futebol estão sujeitos à discriminação social, a ponto de sofrer constrangimentos diversos nos grupos sociais. Para piorar, o fato de não torcer por futebol chega mesmo a fazer baixar o conceito de algum profissional no mercado de trabalho, fazendo com que ele se torne um dos mais cotados para programas de demissão em massa.
Pensar assim dessa forma é provincianismo, como se observa também quando se defende a pintura padronizada nas empresas de ônibus ou a permanente dedicação de uma FM pop ao rock, medidas tidas como "moderninhas" não porque assim elas são (na verdade, são ideias antiquadas e decadentes), mas porque elas partem de decisões de gente poderosa.
Daí o problema. Uma minoria de senhores decide como deve ser a vida no Rio de Janeiro, seja no trabalho, no lazer, no transporte, na cultura. A desculpa é criar um padrão de vida agradável aos grandes investidores e aos turistas. Até o espaço urbano é afetado, com "paisagens de consumo" no Centro do Rio que o fazem um pastiche de Barcelona.
As pessoas deveriam se preocupar com isso. O Rio de Janeiro sofreu um atraso retumbante que praticamente pôs a perder todo um caminho de modernização e organização social, que chegaram a ter um rumo bem-sucedido entre 1958 e 1960, mas depois decaíram de forma dramática.
Hoje não é exagero chamar o Rio de Janeiro de província, numa situação mais traumática que Salvador, a capital da Bahia que sofreu um surto de retrocesso desde 1989, mas que nos últimos anos começa lentamente a superar esse quadro.
Isso porque o Rio de Janeiro só parece moderno na forma. Aliás, nem tanto assim, vide os complexos do Alemão e da Maré que fazem a cidade ter um ranço de Oriente Médio, de "faixa de Gaza". Se o povo carioca é tão submisso a ponto de achar até subcelebridades e ídolos musicais decadentes como se fossem "coisas de outro mundo", então não há como esconder nem negar esse provincianismo.
O perigo é que o Rio de Janeiro ainda se considera referencial para o Brasil. E o resto do país ainda "dá ouvidos" a esse Rio tão provinciano e matuto, isolado do mundo e dos novos tempos, perdidos numa "pragmática" década de 90 que só favorece o poder das elites legalmente constituídas, mas outras fundamentadas na criminalidade.
Se o resto do país fechar os ouvidos a esse decadente Rio de Janeiro, em que uma minoria decide pela maioria, mesmo sem ter uma boa visão social e sociológica para isso, é possível que a cidade e sua região metropolitana tenham consciência de seu isolamento ideológico, que faz o Estado do Rio de Janeiro ficar de costas para os novos tempos e as novas necessidades humanas.
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