terça-feira, 8 de setembro de 2015

O Brasil e a mania do espetáculo do consumismo

A DISNEYLÂNDIA É NO BRASIL.

Copa do Mundo, Olimpíadas, Rock In Rio... De repente, o Brasil, principalmente o Rio de Janeiro - que há 55 anos perdeu o status de capital do Brasil e há 25 anos sucumbiu ao provincianismo que lhe tirou a condição de referencial de modernidade para o país - , virou uma meca do consumismo e da espetacularização.

Infelizmente, os destinos do país, não digamos apenas os políticos, mas os empresariais, midiáticos, acadêmicos e tecnocráticos, estão nas mãos de uma minoria que não possui a necessária visão do mundo para que suas decisões encontrem ressonância no interesse público.

Hoje muitas dessas decisões, surreais, na medida em que prevalecem na vida cotidiana sem que favoreçam realmente a sociedade (embora autoridades, tecnocratas, empresários e acadêmicos jurem que favoreçam, sim), só servem para criar um país do consumismo, falso, pasteurizado e caricato.

Do apartheid social promovido pela Prefeitura do Rio de Janeiro para dificultar o acesso da população da Zona Norte à Zona Sul - para "limpar" os bairros de Copacabana, Ipanema, Leblon e arredores - ao excesso de pompa e de investimentos para grandes eventos, o Rio de Janeiro torna-se o "modelo" de país fictício que o resto do Brasil terá que seguir... e consumir.

Pois a ideia é criar paisagens de consumo, ou seja, pontos turísticos sem muita serventia social. Áreas de "distribuição populacional" em que os pobres ficam "presos" nas favelas e eles mesmos são "contemplados" com um entretenimento que os impele ao consumismo, à sua maneira.

O "funk carioca" é um exemplo, em que todo o discurso "libertário" e "ativista" só foi feito para forçar a aceitação da sociedade ao gênero, enquanto ele trabalhava no desenvolvimento de um estereótipo de classes populares que agrada mais às elites empresariais, que ficam felizes ao saberem que "ativismo" agora é ver pobre "descendo até o chão" e não lutando por melhorias.

Isso porque as melhorias "existem" na disneylandização que o Rio de Janeiro desenvolve para si e quer vender em breve para o resto do país. A qualidade de vida é apenas considerada quando se trata de transformar também a cidadania ou até a emotividade humana em mercadoria, e o grande temor é criar uma cidade de ficção, uma Disneylândia carioca que irá se impor a todo o Brasil.

A falsa mobilidade urbana de ônibus de pintura padronizada dá uma senha, com seus trajetos mutilados em linhas "alimentadoras" e o rigor militar com que motoristas se sobrecarregam com dupla função de conduzir e cobrar passagens além  de ter que cumprir horário com ruas de trânsito congestionado - o que faz aumentar drasticamente a velocidade em ruas de pouco movimento para compensar o horário, com risco de acidentes - dá o tom de "milagre brasileiro" reeditado nesse espetáculo do "desenvolvimento" carioca.

Se o "funk carioca" domestica a juventude pobre e transforma as classes populares em caricaturas que são reforçadas pelo tendenciosismo das atrações de TV, o jovem rebelde de classe média passa a também ser domesticado pela Rádio Cidade, que agora trabalha "em definitivo" para uma exploração estereotipada da cultura rock, nos moldes das novelas e filmes adolescentes do cinema e TV.

Tudo isso é feito para transformar os brasileiros em caricaturas de si mesmos, caricaturas de cada extrato social, com uma imagem domesticada em que a essência original é sacrificada em prol de uma imagem "agradável" e limitada aos clichês.

Essa onda de espetacularizar as cidades, a partir do "modelo carioca", e vender esses valores, muitos deles retrógrados (como sistemas de ônibus que se fundamentam em pinturas padronizadas e mutilação de itinerários funcionais), para o resto do país, soa como uma reedição do "milagre brasileiro" dos tempos do general Emílio Garrastazu Médici, adaptado aos contextos atuais.

Paisagens de consumo, sub-celebridades, estereótipos de rebeldia domesticada, ônibus de definição avançada que mostram a pintura única da prefeitura ou do órgão estadual, a mercantilização de tudo, a multiplicação de eventos e atrações estrangeiras, tudo isso revisita a Era Médici, em que o Brasil estava mais preocupado em ser uma máquina de fazer dinheiro do que promover justiça social.

Tudo passa a se voltar para a Economia, que passou a ser o centro de todas as coisas. Todo absurdo passou a ser defendido por causa da chance do dinheiro fácil, desde a "musa" que infla busto e traseiro com muito silicone até a "adesão definitiva" de uma Rádio Cidade ao rock, gênero que a emissora carioca nunca teve competência, vocação nem tradição natural e nem foi sua origem.

Isso preocupa. A sociedade brasileira se submete às decisões de uma minoria de políticos, acadêmicos, tecnocratas, empresários e outros poucos que querem definir o Brasil conforme suas convicções pessoais. Um país tão socialmente fictício quanto a Disneylândia, voltado mais ao consumismo e à mercantilização de tudo, até da emotividade e da cidadania.

Será péssimo aceitarmos um país que continuará desigual e injusto, embora force todos a consumir objetos, valores e emoções, quase todos deturpados, e será horrível ter que dizer para nossos netos que esses anos eram "um período áureo" só porque "chovia muito dinheiro no Brasil". Se as novas gerações forem mais esclarecidas que as atuais, elas irão desconfiar.

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