quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Madre Teresa de Calcutá teria sido uma farsa

LAR DOS MORIBUNDOS, UMA DAS CASAS CRIADAS POR MADRE TERESA, É FAMOSO POR SUAS PÉSSIMAS CONDIÇÕES DE CONFORTO E HIGIENE.

Nós sabemos o quanto é difícil questionar Francisco Cândido Xavier até nas mídias sociais. No Facebook, o querido Chico Xavier dos devotos religiosos, é lembrado em memes que reproduzem suas frases. No YouTube, as curtidas são sempre a favor do anti-médium, com o sinal positivo para vídeos que o apoiam e o sinal negativo para os vídeos que contestam qualquer coisa dele.

No exterior, Madre Teresa de Calcutá chega a ser um caso mais verossímil do que Xavier. No entanto, se Xavier, com todos os seus pastiches literários, todas as suas fraudes da "leitura fria" (consultas prévias de parentes dos mortos) para forjar supostas mensagens espirituais, é considerado uma "pretensa unanimidade", pelo menos entre seus fanáticos seguidores, Madre Teresa parece ser ainda mais "convincente".

Em compensação, no exterior é permitida a produção de documentários independentes contestando totens religiosos. Aqui não existem documentários contestando Chico Xavier e Divaldo Franco, e o próprio mercado cinematográfico brasileiro, que costuma castrar pautas contestatórias - é o país da mídia ultraconservadora, gente! - , cria obstáculos severos para tais temáticas.

Se você vier com um documentário desmascarando Chico Xavier, ou relembrando a misteriosa tragédia de seu sobrinho Amauri Xavier Pena - possivelmente assassinado por queima de arquivo, depois de ameaçar denunciar os bastidores do "trabalho espírita" - , você pode ter todo o suporte científico e documental em mãos que ninguém vai investir no seu trabalho.

Pelo contrário, se você fizer um trabalho oco sobre a "personalidade amorosa" do anti-médium, seu "dom maternal" de atender as pessoas, criando um poema de imagens dos mais piegas e idiotas, vão chover patrocinadores diversos para seu trabalho, desde empresas de caminhões de mudanças até grandes agências de viagens e instituições financeiras.

O caso da freira albanesa Agnes Gonxha Bojaxhiu, nome de batismo de Madre Teresa de Calcutá, pode ser até mais verossímil que Chico Xavier, mas também mostra sérias irregularidades que podem ser denunciadas em documentários, como o intitulado Anjo do Inferno: Madre Teresa de Calcutá (Hell's Angel), apresentado pelo intelectual ateu de esquerda, o inglês Christopher Hitchens (1949-2011).

Hitchens, que em 1995 escreveu o livro A Intocável Madre Teresa de Calcutá (The Missionary Position: Mother Teresa in Theory and Practice), fala da construção do mito de Madre Teresa que junta mídia sensacionalista com superstição medieval, o "casamento" que no Brasil construiu o mito de Chico Xavier - cuja investigação deveria apontar a origem de todo esse mito, provavelmente depois de 1944 - , e aponta a origem de toda a imagem "santificada" da freira, através de um documentário da BBC em 1969.

Neste documentário, o mito de Madre Teresa teria sido fabricado pelo jornalista inglês Malcolm Muggeridge, da BBC. O filme é intitulado Algo Bonito para Deus (Something Beautiful for God). A visita do jornalista inglês à Casa da Esperança, lar infantil, e ao Lar dos Moribundos, em Kalighat, bairro de Calcutá. Ambas as casas foram fundadas em 1952.

As iniciativas foram definidas como "expressões máximas de caridade". Um membro da equipe deste documentário de 1969 chegou a pensar em dizer, a respeito dos rolos de Kodak, usados nas filmagens, um comentário irônico, quando o filme já estava na sua primeira projeção. Só que, quando o produtor ia dizer "Três Vivas para a Kodak", Malcolm, sentado na primeira fila, gritou, entusiasmado: "É a Luz Divina", atribuindo "santo milagre" à obra da Madre Teresa.

O grande problema é que as instalações das casas "de caridade" são irregulares e precárias, sem o devido conforto, mais parecendo alojamentos improvisados. As macas - mais tarde foram colocadas camas, igualmente desconfortáveis - mostram o pouco caso que se tem com os pobres, enquanto eles são alojados de qualquer maneira, sem muito cuidado nem qualidade de vida.

Não há higiene. Os doentes graves são colocados em várias fileiras de camas, sem separação sequer por biombos. Eles se expõem uns aos outros, o que favorece a contaminação. Além disso, as poucas seringas usadas eram reutilizadas, e a única limpeza era feita com água de torneira, que, num país como a Índia, é tão ou mais suja do que a água de torneira que se serve nas casas brasileiras.

Portanto, é estarrecedor. E imaginar que seringas são partilhadas dessa forma, sendo algo mais típico de turmas de drogados. As doenças se agravam com essa falta de cuidado, com a exposição de doentes em condições humilhantes, numa obra que muitos atribuem como de uma "santa viva".

Outro aspecto a observar é o conservadorismo ideológico de Madre Teresa de Calcutá. Sua visão conservadora contra o aborto, mesmo para condições excepcionais (como graves doenças de uma gestante, por exemplo, cuja cura depende do sacrifício do feto), é notória, assim como seu trânsito fácil entre os poderosos.

Hitchens chega um momento a questionar por que Madre Teresa não "afligia os confortáveis", e por que os poderosos, responsáveis por governos corruptos ou por medidas golpistas e até belicistas, envolvidos em carnificinas, elogiaram tanto a Madre, que os retribuiu também com seus elogios.

Em uma cena do documentário, Madre Teresa recebe uma condecoração do então presidente dos EUA, Ronald Reagan. Ela havia comentado, bastante agradecida: "Eu nunca percebi que você (Reagan) amava as pessoas tão ternamente".

Detalhe: Ronald Reagan foi responsável por financiar e equipar o crime organizado nos países da América Central, patrocinando, junto à CIA, uma grande carnificina que assassinou sindicalistas, ativistas sociais, jornalistas, camponeses, operários e outros cidadãos que lutavam por direitos humanos, incluindo missionários religiosos. Um padre chegou a ser morto enquanto rezava missa, diante de várias pessoas.

Quando ocorreu a explosão na cidade de Bhopal, também na Índia, devido ao vazamento de gás de uma fábrica da companhia estadunidense Union Carbide, instalada no país asiático, em 1984, matando diretamente 3 mil pessoas e causando cerca de outras 10 mil mortes por doenças resultantes da inalação do gás, Madre Teresa parecia pouco sensível à revolta coletiva.

Ao ver a indignação diante de tragédia provocada pela irresponsabilidade dos técnicos de uma grande corporação, a freira parecia ter incorporado Chico Xavier, embora ele estivesse vivo naquela época, ao simplesmente dizer, em inglês, mas à semelhança do que o anti-médium diria: "Perdoe, perdoe".

A freira cortejava outros poderosos, como o ditador do Haiti, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, do qual pediu dinheiro para "a caridade". Consta-se que ela desviava dinheiro doado pelas autoridades para os cofres dos chefes do Vaticano, deixando os doentes e carentes em geral sem remédios e sem assistência digna.

Madre Teresa de Calcutá foi adepta da "teologia do sofrimento" e pedia aos pobres e sofredores em geral a resignação pelos infortúnios que têm que suportar. Mas, por outro lado, era parceira na "lavagem de dinheiro" de magnatas corruptos, como o empresário da grande mídia Robert Maxwell - tcheco radicado na Grã-Bretanha - e do banqueiro e militante católico Charles Keating.

Maxwell era dono do grupo Mirror, do Daily Mirror, e como empresário cometeu fraudes que alimentaram sua fortuna e o poder de sua empresa. Depois de morto, em 1970, várias dessas fraudes foram denunciadas. Já Charles Keating, católico de extrema-direita, foi depois envolvido num escândalo de corrupção depois de alimentar sua fortuna pessoal com o dinheiro dos fiéis.

Madre Teresa viajava em aviões particulares, recebia medalhas e outros prêmios reunidos para seu tesouro pessoal, e sempre estava ao lado dos ricos e poderosos. Como Chico Xavier, Divaldo Franco e outros "espíritas" que, "humildemente", apareciam ao lado da alta sociedade usufruindo de seus privilégios, enquanto recomendavam aos pobres "resignação" pelas vidas que tinham.

Num dos salões do Lar dos Moribundos, há uma placa com a frase "Eu estou no meu caminho para o Paraíso", fixada na parede, enquanto pobres e doentes abrigados não recebem digna assistência. Mesmo doentes terminais só recebiam aspirina. Não era oferecida alimentação digna e nutritiva, mas "o que havia para comer", como nas piores prisões. Não há conforto nem o devido amparo.

Christopher Hitchens, no final do documentário, faz um comentário contundente que sintetiza o propósito do polêmico documentário, que é muito chocante para quem se mantém preso à devoção católica e seus ícones e totens, que veremos abaixo.

No YouTube, curiosamente Madre Teresa não tem lobby tão poderoso quanto Chico Xavier: Anjo do Inferno conta com 234 adesões (botão Curtir - mãozinha com polegar para cima) e 30 rejeições (botão Não Curtir - mãozinha com polegar para baixo). Aqui Chico Xavier tem mais adesões que rejeições. Os vídeos que contestam o anti-médium é que recebem maior número de rejeições.

Segue então o comentário de Hitchens, que serve sobretudo para os brasileiros pensarem a respeito de sua viciada devoção e sua mania de religiosizar as coisas, não só no âmbito da religião como mesmo em medidas relacionadas à política, à mídia e ao mercado:

"Modéstia, simplicidade, humildade. Com estas principais palavras canônicas, somos ensinados que podemos reconhecer santos. No entanto, Madre Teresa considera-se como ordenada pelos céus, o que é dificilmente modesto. Ela empresta consolo espiritual a ditadores e a exploradores ricos, o que dificilmente é a essência da simplicidade. E ela prega a rendição e a prostração para o pobre, que uma pessoa verdadeiramente humilde mal teria a coragem de fazer. 

Quando ela fala sobre moralidade pública ou privada, opondo o planejamento familiar, por exemplo, ou definindo o aborto como literalmente a maior ameaça para a paz mundial, ela assume os tons horrendos e enfadonhos dos zelosos e dos fanáticos.

Em uma era cínica e sem Deus, talvez seja inevitável que as pessoas vão procurar louvar o modesto, o altruísta e o puro de coração. Mas apenas um colapso completo de nossas faculdades críticas podem explicar a ilusão de que tal pessoa se manifesta na forma de uma demagoga, uma obscurantista e uma serva de poderes terrenos". 

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