terça-feira, 17 de maio de 2016

Humberto de Campos Filho foi religiosamente seduzido por Chico Xavier?

HUMBERTO DE CAMPOS FILHO (E), AO LADO DE HEBE CAMARGO E JOSÉ TAVARES DE MIRANDA, NOS BASTIDORES DA TV PAULISTA, EM 1956.

O jornalista, escritor e radialista Humberto de Campos Filho integrou o grupo familiar dos herdeiros do escritor maranhense, nos processos movidos contra Francisco Cândido Xavier e a Federação "Espírita" Brasileira, em 1944, devido ao uso do nome de Humberto de Campos nas supostas psicografias lançadas pelo "médium" mineiro.

Era a viúva do escritor, Dona Catarina Vergolina dos Campos, ou Dona Paquita, e os filhos Henrique de Campos, o mais velho, e Humberto Filho, representados judicialmente pelo advogado Milton Barbosa. A outra filha do escritor, Maria de Lourdes Campos, preferiu apoiar de longe, não se envolvendo no processo.

Embora o enunciado do processo fosse "melindroso" - limitava-se a ação a pedir para que especialistas designados pela Justiça analisassem as obras "psicográficas" para que, no caso de veracidade, os direitos autorais seriam passados para os herdeiros, e, no caso contrário, FEB e Chico Xavier seriam multados a título de indenização - , nota-se que a intenção sinalizava para contestar a autenticidade da suposta obra espiritual.

Na reportagem da Revista da Semana de 08 de julho de 1944, Humberto de Campos Filho parecia bastante cético em relação à obra "psicográfica". como mostra um trecho que reproduzimos da referida reportagem:

(...) Quando lhe (Humberto de Campos Filho) indagamos o que pensa dos famosos livros póstumos editados sob a responsabilidade do médium referido, fez suas as palavras que o irmão (Henrique de Campos) nos havia dito:

- Querem fazer o espírito trabalhar mais do que o corpo. - Gracejo ou evasiva, quem sabe?

- Mas, encarando a questão seriamente - insistimos - acha concebível que aqueles livros tenham sido escritos pelo seu pai?

- Claro que não - é a resposta categórica. Tanto assim que evitamos tocar no assunto e nunca demos a nossa permissão para a publicação desses livros atribuídos a meu pai. Frequentemente apareciam delegações espíritas ou padres católicos e até representantes de outras religiões, todos querendo convertê-lo. Ele a todos recebia e ouvia com a devida consideração, mas era só. Nunca foi espírita.

Humberto adiantou-nos então que a família realmente evita o assunto. Porém, faz notar que tudo que sai publicado nesse gênero é totalmente sem a sua aprovação ou consentimento. Diz mesmo que nunca se dignaram esses editores, ao menos, comunicar a publicação de um novo livro, os quais se elevam ao número de cinco ou seis. Portanto, a família de Humberto de Campos está totalmente alheia a essa "onda" de espiritismo - classificação textual de Humberto Filho.

A QUESTÃO DOS DIREITOS AUTORAIS

- Os direitos autorais de todas as obras de meu pai são exclusivamente da família - adianta-nos o filho do escritor. Humberto de Campos tem publicados 39 volumes, que pertencem aos herdeiros. De toda a sua obra unicamente um livro de histórias infantis - "Histórias Maravilhosas" - foi vendido por ele à Empresa O Malho. Todos os livros de meu pai foram reeditados por José Olympio. Depois, a W. M. Jackson assinou contrato conosco, destinadas a serem vendidas as coleções. Os direitos, portanto, são da nossa família exclusivamente. E o serão ainda por cinquenta anos. Meu pai faleceu há dez anos e a lei diz que a propriedade literária é garantida por sessenta anos. Só em 1994 deixará de ser nossa.

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Já no livro Irmão X, Meu Pai, Humberto de Campos Filho adota uma postura diferente. Do ceticismo inicial passou-se para uma complacência com o mito de Chico Xavier e a sua completa dúvida sobre a obra atribuída a Humberto de Campos passou-se a uma condescendência que o autor não consegue explicar no livro, mas que cabe inferirmos algumas pistas.

Primeiro, pelo fato de Humberto Filho não dar detalhes sobre a autenticidade ou não das supostas psicografias, e, segundo, pelo fato de ter sido um ateu (como o pai foi) que depois passou a frequentar os "centros espíritas".

Segue um trecho do referido livro que o filho homônimo de Humberto de Campos escreveu, relatando o encontro dele com Chico Xavier na Comunhão "Espírita" Cristã, em Uberaba, no qual se observavam tanto os clichês da "caridade" religiosa e um clima de fascinação, um perigoso tipo de obsessão alertado por Allan Kardec, marcado por um misto de submissão e deslumbramento:

1957

Um grupo de amigos do Centro que então frequentava aprovou a ideia de que já era tempo de conhecermos Chico Xavier pessoalmente. Da ideia passamos aos fatos. Éramos uns seis turistas, apertados em um Aero Willys, a caminho de Uberaba. Desses passageiros, dois, Lauro Mendonça e Vamiré Soares, já passaram para o lado de lá.

Chegamos a tempo de conseguir entrar na sala superlotada, onde, pouco depois, começaria a sessão, com a presença de Chico. Lá pelas tantas, vozes partidas da mesa, por ele presidida, pediam que Humberto de Campos Filho se aproximasse para falar com o médium. É fácil imaginar minha emoção. Sei que meus olhos estavam inundados pelas lágrimas quando nos abraçamos, comovidamente. De início, foi o Chico que falou, dizendo coisas tocantes e carinosas. À certa altura, era outro alguém... Talvez meu pai?... E o que ouvi teve o efeito de um impulso que me fez disparar uma sucessão de soluços, que pareciam que jamais iriam parar.

No dia seguinte, um sábado, ainda com a impressão de que meu espírito havia tomado um banho de luz, fomos participar da distribuição de mantimentos.

Sem mais nem menos, tive a nítida impressão de que estava em alguma cidade da Galileia, nos primórdios do cristianismo.

Em um enorme galpão, sem paredes laterais, senhoras e moças, alegres e sorridentes, preparavam a sopa que, mais tarde, seria distribuída entre os pobres. Pilhas de cenouras, montes de batatas iam sendo descascadas e levadas para os caldeirões que, a um canto, fumegavam cheirosamente.

Ao cair da tarde, nos incorporamos à caravana, liderada pelo Chico, que ia distribuir sacolas com mantimentos pelos casebres da periferia. Ao lado do Waldo Vieira, caminhamos naquele pôr-do-sol, com a certeza de que uma legião de espíritos luminosos também caminhavam conosco. Lá pelas tantas, Chico entrou numa palhoça, de um só cômodo. Ficamos à porta, com espaço bastante para ver Chico sentar-se na beirada de uma cama estreita e miserável. Nela estendido, um pobre velho, pouco mais que um monte de ossos, sob uma cabeça coberta por uma grande barba e cabelos desgrenhados. O coitado fez menão de erguer-se mas Chico, colocando a mão no seu peito, não deixou. De onde estávamos não era possível ouvir o que ele dizia. Mas o que disse fez o pobre homem se transformar em um enorme sorriso, cheio de gratidão e alegria. E, ao mesmo tempo, sentimos uma onda de perfume, de jasmins colhidos naquele instante, invadir completamente aquela tapera...

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No capítulo do livro Nosso Amigo Chico Xavier, de Luciano da Costa e Silva, há uma atribuição de "livrar a culpa" de Humberto de Campos Filho do processo movido contra Chico Xavier e a FEB. Sabe-se que, depois, ele argumentou que o processo não era "uma campanha contra o espiritismo" nem se voltava "contra Chico Xavier, mas contra a FEB". O trecho dava a entender de que era uma iniciativa movida pela estranheza da viúva do escritor:

D. Catharina Vergolina de Campos realmente não gostava de ver o nome do marido propagar-se de tal forma e procurava encontrar falhas nos escritos, descobrindo sempre novas coisas que depunham contra a veracidade do fato. Na verdade, nunca acreditou que as mensagens fossem de seu falecido esposo.

Chama a atenção a postura invertida adotada em 1977 (ano do livro de Luciano) em relação a 1944, quando o mesmo Humberto de Campos Filho, sem expressar detalhadamente suas posições, se limita a aceitar as supostas psicografia de seu pai, do qual teria recebido supostas cartas trazidas por Chico Xavier:

Quanto à psicografia, não se estende muito, dizendo simplesmente que acredita serem as mensagens do espírito de seu pai, por intermédio de Chico Xavier, autênticas.

Em seguida, é narrado o encontro de Chico Xavier com Humberto de Campos Filho, mais de uma década após Ana de Campos Veras, mãe do autor maranhense, ter agradecido o "médium" pelas obras atribuídas ao filho. Vamos ao trecho de Luciano da Costa e Silva:

Esteve (Humberto de Campos Filho) uma única vez com o médium, por volta de 1957, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba. Naquela sexta-feira após a sessão, embora incógnito, Chico chamou-o pelo nome. Ambos emocionados, abraçaram-se e derramaram lágrimas. Trocaram várias palavras. Humberto diz ser perceptível o fato de que, em alguns momentos, é ele quem fala, em outros, as entidades. O difícil é perceber a passagem de um estado a outro.

Resumiu esse encontro como: "foi uma experiência muito bonita..."

Terminamos este artigo com sua opinião pessoal sobre o médium Chico Xavier, que achamos sintética, simples e tremendamente feliz:

"Chico é um paranormal acima de qualquer nível conhecido, totalmente bem intencionado. Um ser excepcional! Não um indivíduo, um ser excepcional!"

CONCLUSÃO

A fascinação, o tipo de obsessão que se manifesta pelo aparato da emotividade e da comoção, da submissão a algum indivíduo leviano, encarnado ou não e à submissão a este e seus artifícios, tomou Humberto de Campos Filho, que deixou a antiga postura crítica a um deslumbramento em torno de Chico Xavier.

Humberto foi religiosamente seduzido, com as mesmas armadilhas que os contestadores do "movimento espírita" encontram em dado momento: o aparato de "bondade" e "caridade", ações feitas sob uma perspectiva religiosa, a causar deslumbramento nas pessoas e a dar um freio em investigações mais apuradas de irregularidades.

A fascinação, através desses artifícios de "mensagens de amor" e "caridade", torna-se um processo obsessivo muitíssimo perigoso, o que torna Chico Xavier um dos espíritos mais traiçoeiros que passaram no Brasil, um grande ilusionista e hipnotizador de almas, de longe o pior deturpador da Doutrina Espírita do mundo inteiro, e o maior inimigo interno que o legado kardeciano encontrou em sua trajetória.

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