sexta-feira, 9 de junho de 2017
"Espiritismo" e o homem acuado
Muitas pessoas reclamam depois que fazem tratamentos espirituais em "casas espíritas" ou leem os livros tidos como "mais conceituados" do "espiritismo" brasileiro. Acabam contraindo azar, de diversas formas, e isso é coincidência demais para se considerar "injusto" responsabilizar os "espíritas" pelo mau agouro.
Mas o mau agouro é trazido pelo "espiritismo", sim, por diversos motivos. É uma doutrina de raiz fincada no livro Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing. Se comporta como se fosse uma versão repaginada do velho Catolicismo jesuíta do período colonial, que tem matizes medievais. Institucionalmente, funciona como um clone da Legião da Boa Vontade, com suas práticas de Assistencialismo, com atrações musicais, literatura e entretenimento igrejeiros e coisa e tal.
No entanto, há uma desonestidade doutrinária na qual os "espíritas" juram que "seguem rigorosamente" os postulados kardecianos, dizem "combinar com equilíbrio" os princípios de Ciência, Filosofia e Moral e juram que estão em dia com as compreensões da Ciência Espírita. Dizem praticar "ativismo social" que julgam ser "revolucionário" e de "resultados amplamente transformadores".
Esse festival de mentiras e dissimulações atrai energias confusas que abrem caminho para espíritos atrasados. As contradições em torno do "espiritismo" brasileiro atraem não só jesuítas medievais, como acaba atraindo também, devido a diversos equívocos, espíritos que vão de feiticeiros também medievais até espíritos atrasados ligados a contextos menos antigos, como o fascismo europeu e o macartismo estadunidense.
Isso traz energias aqui e ali, e a coisa piora quando os palestrantes "espíritas" abraçam a Teologia do Sofrimento, corrente medieval católica que faz apologia da desgraça humana como "meio de alcançar as bênçãos futuras". Isso cria um senso moralista ainda mais retrógrado, que faz com que os tratamentos espirituais não sejam apenas inócuos no propósito de resolver problemas, mas também viram fontes de maldição e azar.
O "espiritismo" também atrai más energias quando tenta ser arremedo de qualquer coisa. Arremedo de "filosofia", com seus "médiuns" verborrágicos bancando dublês de pensadores. Arremedo de grupos literários, como os primórdios da Federação "Espírita" Brasileira (1884-1932) com seus dirigentes e escritores posando como se fossem genéricos da Academia Brasileira de Letras.
Há arremedos de folhetins, os romances "espíritas". Há arremedos de textos científicos, uma masturbação teórica que mistura compreensões básicas com pedantismo. Há arremedos de ativismo social, com um Assistencialismo que serve mais de propaganda para os "benfeitores" das "casas espíritas" ou dos "médiuns" sedentos pelo culto à personalidade.
De repente, até idosas donas de casa passam a falar de "universos cósmicos", alunos medíocres de Física passam a ser "cientistas" em palestras "espíritas" e tudo que for de intelectual frustrado e escritor medíocre passa a ser "pensador espírita" às custas de umas palavrinhas belas, mas ocas.
Tudo isso gera um clima de muito pretensiosismo, presunção, arrivismo e falta de sinceridade. Os "espíritas" pedem para os outros aceitarem dificuldades e "mudarem os pensamentos", mas eles mesmos precisam se autoconhecer, antes de levarem um choque quando são definidos por outrem como roustanguistas e adeptos da Teologia do Sofrimento.
Tem palestrante "espírita" que prega a Teologia do Sofrimento, mas fica chocado quando alguém lhe alerta sobre isso. Recolhe num canto, chora e diz "eu não quis defender isso". Mas defendeu, sem prestar atenção às ideias expressas, ao discurso do "inimigo de si mesmo" tão abertamente medieval.
Outro repositório de más energias é a mediunidade fake. Combinando ignorância aos ensinamentos da Ciência Espírita e o típico vício brasileiro da falta de concentração (tem-se falta de concentração para ler livros e ouvir música, por exemplo), a mediunidade se reduz ao faz-de-conta em que o suposto médium faz, criando mensagens da própria mente, mas imitando (mal) o estilo do morto de sua escolha, e jogando propaganda religiosa para evitar desconfianças.
O mais chocante disso tudo é que essas irregularidades graves não partem de "casas espíritas" de fundo de quintal ou de "médiuns" de alfaiataria, que "só veem fantasminhas de cobertor". Isso vem de gente tida como "a mais gabaritada", "médiuns", palestrantes e dirigentes que aparecem em colunas sociais, são aparentes unanimidades no Brasil e no mundo e são tidos como "de altíssimo conceito e confiabilidade".
Daí que as pessoas que recorrem ao "espiritismo" acabam sofrendo de uma forma. Em muitos casos, um sofrimento que é maior do que tais pessoas poderiam aguentar, que as faz abrir mão de suas próprias habilidades, de seus planos de vida e fazem compactuar até com pessoas desonestas, fúteis ou prepotentes para vencer na vida.
Terrível saber que muitas pessoas acabam ficando acuadas depois de fazerem tratamentos espirituais ou leem obras "espíritas" brasileiras - incluindo muitas tidas como "conceituadas" - , sofrendo dificuldades e aflições sem fim, estando em becos sem saída e ainda ouvindo a falácia de "combater a si mesmo", que é uma sutil condenação dos "espíritas" à individualidade humana.
Mas o mais deplorável é ver que as pessoas sofrem dificuldades demais diante dessas más energias e os "espíritas" ainda esperam receber agradecimento com isso. Eles não querem se responsabilizar pelos erros gravíssimos cometidos por suas múltiplas más escolhas e ainda choram quando alguém lhes diz para assumir de verdade seus erros.
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