quarta-feira, 21 de junho de 2017

Brasil ainda é um país preconceituoso

CENA DE "BAILE FUNK" DE UNIVERSITÁRIOS EM PERNAMBUCO - PRECONCEITO SE ROMPE COM... PRECONCEITO.

O Brasil é um país ainda marcado de muito preconceito. São preconceitos que existem até em pessoas que se dizem "contra o preconceito", como na recente onda da pretensa cultura popular de mercado, em que uma imagem caricatural do povo pobre era defendida por uma facção de intelectuais e celebridades como se fosse "fim do preconceito", confundindo "romper o preconceito" com aceitação passiva, não raro bem mais preconceituosa que qualquer rejeição.

Na onda conservadora dos últimos dois anos, houve várias demonstrações de preconceitos e humilhações sociais, partindo de cyberbullyings ou de relatos de teor machista, racista e homofóbico. A coisa ficou tão aberrante que vieram fenômenos pitorescos como o "pobre de direita", que defende o privilégio dos ricos, e o "patriota entreguista", capaz de parar para ouvir o Hino Nacional Brasileiro, mas que defende a venda de nossas riquezas para empresas estrangeiras.

Até a imagem da mulher solteira é depreciada, de maneira mais agressiva do que se imagina. A campanha da mídia do entretenimento de promover uma imagem depreciativa da mulher solteira, que só curte noitadas e praia, se "sensualiza" demais e enche o corpo de tatuagem, piercing e silicone, mas que comete gafes quando tenta opinar sobre alguma coisa, é um "convite" para a mulher que quiser se emancipar procurar um marido com algum cargo de liderança ou poder.

A arrogância com que certas mulheres siliconadas se projetam, com um falso feminismo e um suposto empoderamento não esconde que essas mulheres, que são as que mais vendem a imagem pejorativa da "solteiríssima", abusando de seu narcisismo e caindo em contradição quando, num momento, se afirmam serem "solteiras e felizes" e, em outro, soltam bordões como "estou à procura de um príncipe encantado" e "os homens fogem de medo de mim".

A cultura popular é a que mais sofre com a imagem preconceituosa, e não é pela rejeição aos "sucessos do povão", mas à própria expressão de uma imagem caricatural das classes populares, nas quais se legitimam como "qualidades positivas" situações que, em verdade, são bastante negativas para o povo pobre: a prostituição, o comércio de produtos piratas ou contrabandeados, o alcoolismo, a pedofilia, as moradias precárias nas favelas, a ignorância, entre outros.

É chocante que, durante muito tempo, prevaleceu um discurso de "ruptura do preconceito" que recomendava a aceitação dessa imagem degradada do povo pobre. Um discurso que era difundido pela Rede Globo mas foi também inserido na mídia de esquerda. Era, portanto, um discurso hipócrita, mas cujo apelo emotivo fazia atrair o apoio de muita gente e fabricar uma pretensa unanimidade entre as pessoas que se achavam progressistas e modernas.

A hipocrisia era tanta que, se alguém rejeita o "funk" por conhecê-lo profundamente, é "preconceituoso", mas se outro acha o "funk" genial sem ouvir e sem saber do que se trata, ele é tido como "sem preconceitos", quando na verdade o primeiro é que estabeleceu um conceito ao gênero e o último é que estabeleceu uma visão pré-concebida da coisa.

Os movimentos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros ou travestis) também ainda são muito estereotipados. A "mulher sapatão" de comportamento agressivo e o gay estereotipado que se veste de drag queen revela ainda uma visão espetacularizada da coisa, muito diferente da sobriedade que se vê nas relações homoafetivas que acontecem no exterior. Até as passeatas LGBT que ocorrem nas capitais são presas a uma estética "carnavalizada" que não raro compromete a causa.

O preconceito é tanto que poucos imaginam que as mulheres siliconadas que "sensualizam demais" são crias do machismo. O Brasil ainda se apega tão selvagemente ao machismo que muitos ainda têm medo de ver um feminicida conjugal, desses que mataram mulheres pela "defesa da honra", falecerem de repente. Se eles morrem mesmo, nem a imprensa se dispõe a noticiar, diante desse medo.

Há até o preconceito que leva as pessoas a adotar uma postura seletiva a tipos sociais que cometem o mesmo descuido de saúde. Digamos que três tipos de homens fumam demais: o ator de teatro, o roqueiro e o feminicida conjugal e todos morrem de infarto na casa dos 55 anos.

A sociedade moralista vê a morte do primeiro com resignação, a do segundo com alívio e a do terceiro com desespero. Há quem diga, pasmem, sobre o óbito do feminicida: "Mas já, assim tão cedo?". E isso quando suas mulheres teriam sido mortas, quase sempre, com bem menos idade.

No caso do racismo, a expressão de grupos musicais de "pagode", seja ele "romântico" ou "sensual", também revela esse preconceito contra os próprios negros que interpretam tais canções. Seja a imagem auto-ridicularizada de certos conjuntos, letras sobre "macacos" e "baratas da vizinha", seja o apelo "sensual" de negros caricatos da Bahia, que trabalham o estereótipo pejorativo do "tarado abobalhado", a negritude que tais intérpretes dizem defender é, na verdade, bastante depreciada.

E isso tudo ainda é temperado com a ideia restritiva de "bondade" ao institucionalismo religioso. Embora o discurso apele para defender a "bondade" como uma "virtude de todos e de qualquer um", com ídolos religiosos "reconhecendo" até a generosidade de muitos ateus, a verdade é que sempre existe um empenho para privatizar a "bondade" como uma virtude que tenha sempre um selo religioso, como nos selos de garantia de produtos industrializados.

Mas isso ainda é pouco, se percebermos, no caso do "espiritismo" brasileiro, a "bondade" serve de escudo para proteger os deturpadores. O "espiritismo" brasileiro agora conhece o preço caríssimo da catolicização, expressa na quase totalidade das "casas espíritas" e em quase toda a literatura produzida, de romances "mediúnicos" a livros teóricos, e tenta abafar os questionamentos profundos com todas as alegações de "bondade" e "caridade", por meio de apelos emocionais.

Só que isso mostra mais preconceito. A ideia das pessoas de que todo apelo emocional é "positivo" e "saudável" as conforta e qualquer religião que venha com ilustrações de corações fofinhos é sempre "digna de confiança". Só que esquecemos que esse gênero de apelos emocionais, o Ad Passiones, é reconhecido como um tipo de falácia, que é a mentira veiculada como se fosse "verdade indiscutível".

Da mesma forma, também poucos imaginam que o "espiritismo" possa fazer Assistencialismo. Mas faz. Poucos percebem, quando defendem os "médiuns" pela suposta caridade que fazem, que os resultados obtidos são muito medíocres e bastante inexpressivos, afinal se essa "caridade" funcionasse, o Brasil teria atingido padrões escandinavos de qualidade de vida, até pela grandeza e triunfalismo que se costuma associar aos ídolos "espíritas".

Isso cria uma postura bastante ridícula. É muito comum os "espíritas", diante de um suposto progresso humanitário, dizer num momento que "já estamos progredindo" e, em outro, desmentir isso, dizendo que "não foi possível". Dizer taxativamente uma coisa e depois desmentir é um hábito e isso também é usado para mascarar o Assistencialismo, diante dos resultados medíocres obtidos: alegam "terem dificuldades" para "levar adiante os progressos sociais".

A figura do "médium" acaba sendo distorcida diante de tantos preconceitos que se tem da atividade. Perdendo o caráter intermediário original da atividade, o "médium" vira um sacerdote do "espiritismo", sendo o centro das atenções e dublê de pensador e ativista social. E, através de "mediunidades" que claramente soam fake, os "médiuns" nem precisam receber os mortos, diante da arrogância deles em "falar em nome deles" e se promover às custas dos nomes dos falecidos.

O Brasil tem três problemas que permitem tantos preconceitos, aberrações e retrocessos. Um é a desinformação generalizada, combinada com a baixa escolaridade. Outro é o moralismo severo que quer controlar demais a liberdade humana. Terceiro, oposto ao segundo, é a libertinagem que quer condenar até a moral mais prudente.

Isso cria sentimentos surreais como ter medo de ver feminicidas conjugais falecerem e aparecerem nos obituários de imprensa, ou de exaltar a "caridade espírita" em função mais do prestígio do "benfeitor" do que o "mero detalhe" dos "beneficiados". E isso quando funkeiras dançam com os glúteos exibidos para a plateia enquanto se autoproclamam a "melhor definição de feminista" que se tem no Brasil. Depois acusam as feministas do Primeiro Mundo de verem Harry Potter demais...

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