SILAS MALAFAIA E DIVALDO FRANCO - O mesmo conservadorismo, que o segundo trabalha de forma mais sutil.
O Brasil vive uma grande crise de valores. Um enorme conflito ideológico em todos os sentidos, que faz com que movimentos progressistas e reacionários disputem espaços de influência e ação em diversos setores, de forma legal ou ilegal.
Problemas como os crimes cometidos por menores, o feminicídio, a intolerância religiosa, a homofobia e outros desafiam a sociedade, através da violência que, até pouco tempo atrás, prevalecia sob o manto da impunidade.
As pressões vão de ambos os lados. No lado progressista, projetos como a transformação do feminicídio em crime hediondo viram lei, enquanto o conservadorismo é golpeado pela decadência da grande mídia que o representava. No lado reacionário, há o crescimento da direita anti-PT, e a manifestação de atos criminosos de intolerância social, desde as difamações nas mídias sociais, várias delas racistas e homofóbicas, até atentados de motivação homofóbica e anti-nordestinos.
Numa cidade do interior da Bahia, pai e filho chegaram a sofrer atentado, com um deles morto, por grupos radicais que imaginavam se tratar de um casal de gays, só porque os dois estavam se abraçando como ato de profunda amizade e respeito.
A reboque disso tudo, há a intolerância religiosa, que é muito mais complexa do que se imagina. Afinal, não se trata apenas de polarizar evangélicos - categoria religiosa ligada a atos e posturas extremistas - e outras crenças, mas pensar o conservadorismo ideológico por trás das três principais religiões do país, a católica, a evangélica e a "espírita", esta em franco processo de declínio.
A decadência "espírita" é um fato que até agora não foi oficialmente constatado. Tida como a "vanguarda" dos movimentos espiritualistas, a religião, supostamente associada ao pensamento de Allan Kardec, surgiu deturpando, desde o começo, as ideias do pedagogo francês, reduzindo a um repertório ideológico conservador e mistificador.
O "espiritismo" só aparenta uma certa popularidade devido à alegação de caridade que sua imagem publicitária promove. No entanto, além dessa "caridade" não ir além de medidas paliativas, como doações de cestas básicas, ela não promove a fidelidade às ideias kardecianas, sendo apenas um arremedo de filantropia, mesclado com misticismo improvisador e moralismo religioso, que nada têm a ver com o Espiritismo original.
O fato do "espiritismo" alegar ser vítima de "intolerância religiosa" encontra sentido num contexto em que a religião, mesmo nas piores deturpações da doutrina de Kardec, é visto como novidade e há muita desinformação no país.
A crise religiosa envolve não somente posições de radicalismo de algumas seitas, mas o conservadorismo ideológico que compromete a realização de progressos sociais. Isso não é coisa exclusiva de católicos e evangélicos, os mais visados nessa situação.
O "espiritismo" brasileiro, mesmo com suas falsas apreciações à ciência e ao progresso social e intelectual, comete também sua intolerância social, seu moralismo conservador e outras posturas nada progressistas.
É de praxe o "espiritismo" culpar as vítimas e "relativizar" a culpa dos algozes, usando como desculpa os "resgates morais" ou "reajustes espirituais". Certos palestrantes "espíritas" também adotam posturas racistas, machistas e homofóbicas, além de expressarem uma visão moralista patriarcalista.
O "dedo acusador" dos "espíritas", que mesmo desconhecendo a Ciência Espírita e improvisando conceitos pedantes sobre vida espiritual, acaba criando atitudes preconceituosas graves, como no caso da ida dos imigrantes africanos à Europa, em que a negritude foi vista como um "castigo" e os cidadãos em questão acusados de forma leviana e generalizada de terem sido tiranos no passado.
O próprio Chico Xavier também marcou sua trajetória com uma visão nada progressista, dando a sua visão adocicada de castração espiritual, defendendo sempre o conformismo e o silêncio diante das adversidades e absurdos da vida, além de fazer apologia ao sofrimento humano, com uma retórica tão dócil que consegue iludir e enganar as pessoas.
No fundo, a "polarização" de um nome evangélico, como Silas Malafaia, e o astro do "espiritismo", como Divaldo Franco, não passa de duas faces de uma mesma moeda. Divaldo só ganha de Silas pela habilidade retórica, mas o conservadorismo e o charlatanismo de ambos se equiparam, mesmo diante da diferença de contextos.
Poucos conseguem perceber isso e o assunto da intolerância religiosa se perde em banalidades maniqueístas óbvias e previsíveis. A crise religiosa existe, mas o status quo tenta abafar parte dela para que seus problemas não possam ser totalmente resolvidos. Dessa forma, o "espiritismo" e suas deturpações continuam na sua habitual pasmaceira.
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