terça-feira, 27 de janeiro de 2015

"Espiritismo" brasileiro nunca rompeu com a Igreja Católica

BUSTO DO PADRE MANUEL DA NÓBREGA EM SÃO PAULO.

É um mito fantasioso a ideia de que o "movimento espírita" brasileiro rompeu com a Igreja Católica. O aparente conflito entre "espíritas" e católicos, na verdade, foi entre os "espíritas" e setores ortodoxos do Catolicismo, que não aceitavam práticas que iam além de seus ritos e dogmas tradicionais.

Desde Luiz Olímpio Teles de Menezes - sem relação com Adolfo Bezerra de Menezes, apesar de similar devoção católica - , que criou as primeiras comunidades "espíritas" na Bahia, já por volta de 1865, em Salvador, o Grupo Familiar de Espiritiismo, o "movimento espírita" sempre procurou se afinar com os princípios defendidos pelo Catolicismo.

Não era o "movimento espírita" tão progressista como se propagava ser, mas a sociedade brasileira é que era bem mais conservadora do que o contexto do mundo em que vivia. Portugal ainda não havia se desapegado de seu ranço medieval quando ainda exercia influência sobre o Brasil, mesmo depois da Independência e atingindo até parte do período do Segundo Império.

Figuras como Bezerra de Menezes e, mais tarde, Francisco Cândido Xavier, revelaram-se católicos entusiasmados, devotos que continuavam sendo à Igreja Católica e a todos os seus dogmas e ritos que não encontram contradição com os valores espiritualistas que apreciavam.

Em vez de significar uma ruptura, o "espiritismo" brasileiro se afastou do cientificismo de Allan Kardec, primeiro através de Jean-Baptiste Roustaing, depois com a adaptação brasileira de Chico Xavier, e mesmo as evocações à ciência se aproximam mais do pedantismo e do tendenciosismo do que da essência difundida pelo professor lionês.

É só observar que muitos ritos católicos foram adaptados para o "espiritismo" brasileiro: a água benta virou "água fluidificada", o confessionário virou "auxílio fraterno", as missas viraram "doutrinárias", os sermões viraram "palestras", a Bíblia deu lugar aos livros de Chico Xavier, a ideia do "céu e inferno" virou a do "mundo superior versus umbral" e por aí vai.

Até mesmo o culto às imagens se manteve, como no caso das fotos de figuras de "centros espíritas" ou personalidades conhecidas - como Chico Xavier, Divaldo Franco, Bezerra de Menezes e Emmanuel - , adaptando os santos católicos, que no "espiritismo" ganham equivalente na figura dos "espíritos de luz".

Mesmo o moralismo familiar defendido pela Igreja Católica aparece inteiro no "espiritismo" brasileiro, para compensar o pouco valor que a doutrina feita no suposto "coração do mundo" dá aos conhecimentos científicos do pedagogo francês.

Fora aspectos relacionados a mediunidade, passes e a consciência da vida do além-túmulo e da reencarnação, além das curas espirituais, o "espiritismo" brasileiro sempre se manteve afinado com as tradições da Igreja Católica, preferindo adaptá-las do que romper com as mesmas.

Daí o eventual apelido de Espiritolicismo para uma doutrina que se diz "kardecista" mas que preferiu se afastar completamente da essência das lições de Allan Kardec.

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