sábado, 3 de janeiro de 2015

O "conceituado" sanatório que "não salvou" Amauri Xavier


O "espiritismo" brasileiro cria graves contradições a si mesmos. Por isso o temor do senso crítico, a demonização que seus líderes fizeram e fazem do questionamento público, atribuído a uma "temerosa fogueira", e sua ideologia prega apenas o "silêncio da prece" e a "aceitação serena e devota" do sofrimento, já que o "espiritismo" brasileiro tem como hábito glamourizar o sofrimento humano.

Uma séria contradição, relacionada a Amauri Xavier, sobrinho de Chico Xavier, é que a religião que tanto se define "a mais dedicada na pregação do amor e da fraternidade" se lançar, contra o jovem que denunciou o tio, uma carga de ódio e fúria tão estarrecedoras. É como diz o ditado popular: "faça o que lhes digo, não o que faço".

Como um pobre coitado indefeso numa arena de leões famintos, nós tivemos que observar, espantados e chocados, que os leões em questão são justamente aqueles que adoçam suas bocas com palavras dotadas de puro sabor de mel. "Palavras de amor", que se abundam em palestras, livros e tantos outros documentos e atividades, mas que escondem o veneno que as luzes do "movimento espírita", tão "maravilhosas", só escondem.

E aí vemos o caso de Amauri. Em 1958, ele denunciou Chico Xavier porque a mediunidade deste seria, na verdade, uma fraude. Em vez de investigar as denúncias de Amauri como seria correto, por mais que discordemos ou víssemos algo duvidoso de suas denúncias, o menino foi vítima das mais torpes reações de ódio, da mais abjeta falta de perdão por parte daqueles que justamente pregam o "perdão incondicional" e a "eliminação de todo ódio do coração".

Amauri foi chamado de delinquente para baixo. Tratado como se fosse um mau-caráter, um lixo em forma de homem. Uma espécie de encarnação de um "espírito obsessor" (eufemismo para a personificação do "demônio" católico), sem que se dessem ouvidos ao que o jovem tentava dizer.

E aí o ódio expresso pelos amigos e seguidores de Francisco Cândido Xavier contra Amauri, um ódio muito mal disfarçado que destoa de todas suas pregações de "amor e misericórdia", e se voltou da forma mais cruel possível contra um jovem que, primeiro, foi expulso de Sabará, onde ele vivia, acusado de "muitos crimes" e de "personalidade difícil" e foi para um sanatório bem distante.

SANATÓRIO EXISTE ATÉ HOJE

Definido como "hospital psiquiátrico" ou "instituto espírita", o Sanatório Bezerra de Menezes existe até hoje e é localizado na cidade de Espírito Santo do Pinhal, um município pouco conhecido do interior paulista. É tido como conceituado e recebeu seu nome em homenagem ao médico tido como uma "unanimidade" positiva entre os seguidores do "espiritismo" brasileiro.

Lá Amauri Xavier teria vivido seus últimos anos, até ser socorrido, "muito doente", para Sabará, onde morreu, aparentemente, de hepatite, em 1961, antes de completar 28 anos de idade, supostamente "irredutível" e "rebelde", até além do que se pode esperar de um rapaz como ele.

Há aspectos muito estranhos. Espera-se que um sanatório "espírita" pudesse, com todo o amor e compaixão que julgaria ter, alcançar algum êxito no tratamento de Amauri, pois, mesmo quando se consideram as ações do livre arbítrio, seus responsáveis poderiam ao menos ter ajudado na cura dos vícios de Amauri, se é que os vícios do jovem eram tantos assim.

É até estranho que ele tenha, justamente quando teria recebido a assistência fraternal do sanatório, passado a beber o dia inteiro e, de repente, morrer numa idade ainda mais prematura do que se imagina que alguém com tais vícios possa morrer, já que era provável que Amauri pudesse morrer por volta dos 35 aos 50 anos de idade. Raramente uma pessoa que só consuma álcool possa morrer tão cedo, e, mesmo assim, acrescido de algum outro consumo vicioso.

A título de exemplo, o jogador Manuel Francisco dos Santos, o célebre Mané Garrincha, era um dos maiores ídolos de futebol brasileiro daquela época, e seu consumo de bebidas alcoólicas era notório já naqueles tempos. No entanto, ele faleceu apenas poucos meses antes de completar 50 anos.

Numa outra comparação menos específica, o empresário Raul Fernando do Amaral Street, o Doca Street, símbolo da "defesa da honra" machista depois que matou a namorada Ângela Diniz, chegou aos 80 anos no ano passado com um histórico de tabaco, álcool e cocaína que afligia seus melhores amigos, embora as leis naturais indiquem que Doca hoje esteja perto de morrer, já sem um dos rins e talvez com algum tipo de câncer.

Portanto, é algo muito estranho que Amauri tenha falecido tão moço, se juntarmos as circunstâncias de atendimento fraternal que, em tese, teria dado o sanatório, e, contraditoriamente, o agravamento dos vícios do jovem, quando já se pensava na época em promover atividades de ressocialização. Quando muito, Amauri escrevia livros ou mensagens que, supostamente, se atribuiu a espíritos.

O drama de Amauri parece uma história muitíssimo mal contada. Até mesmo a morte e o local de falecimento de Amauri eram misteriosos, havendo rumores de que ele havia sido morto por atropelamento ou que seu falecimento havia ocorrido em Espírito Santo do Pinhal.

O misterioso sobrinho de Chico Xavier era vítima de uma campanha difamatória sem precedentes, despertando as antigas lavas do vulcão do Catolicismo medieval romano adormecido no "espiritismo" brasileiro, em surpreendentes explosões de ódio vindas justamente de quem "prega o amor".

Ou o "espiritismo", através do "conceituado hospital" de Espírito Santo do Pinhal, foi fraco demais na assistência ao Amauri, e deixou-o sucumbir a uma autodestruição rápida demais, ou então houve alguma coisa estranha. Ninguém deu ouvidos ao Amauri para coisa alguma. Ninguém investigou, e ele foi vítima de uma campanha de ódio e difamação por parte dos mesmos que juram "trabalhar sempre em favor do amor e da misericórdia".

Estranho que pessoas caridosas deixem uma pessoa sucumbir tão rapidamente. Fraqueza e incapacidade de ação, dentro de um sanatório "muito bem conceituado" e até hoje em funcionamento? Que "espiritismo" é esse que afirma sua força através de fraquezas e hesitações em momentos como esses?

O ódio que se deu no "movimento espírita" contra Amauri Xavier Pena, que iria colocar Chico Xavier mais uma vez nos tribunais, não bastasse os comentários, na época, de críticos indignados com as irregularidades de qualidade literária das "obras espirituais", sobretudo um Osório Borba que chegou a prometer uma devassa nos poemas e prosas "espirituais" trazidos ao público pelo anti-médium mineiro.

Daí que Amauri Xavier merece uma nova investigação. Suspeitas de maus tratos, envenenamento ou mesmo de que alguém teria incitado o jovem a se embriagar mais, mesmo dentro do "movimento espírita", são muito fortes, porque tudo se tornou muito estranho. Foi um jovem denunciar irregularidades no "trabalho espírita" de um tio e, sem que alguma investigação fosse feita, o jovem foi vítima de ódio e difamação, e morreu cedo demais para quem era apenas "bebedor inveterado".

Amauri talvez pudesse ter dado informações sobre os bastidores do "movimento espírita" mineiro e até da FEB que poderiam revelar escândalos piores. Sua morte misteriosa teria sido motivada como "queima de arquivo".

Para piorar, nos exatos dez anos após Amauri ter falecido, foi Chico Xavier em um programa de TV pedir aos brasileiros que orassem em favor dos generais que também condenavam outros brasileiros inocentes a sofrerem mortes igualmente misteriosas.

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