domingo, 25 de janeiro de 2015

Chico Xavier: seus hábitos e suas manias

NOSSA SENHORA DA ABADIA - A santa de devoção do sempre católico Chico Xavier.

Francisco Cândido Xavier entrou na Doutrina Espírita pela porta dos fundos e ninguém quer tirá-lo de lá. Nem mesmo alguns brasileiros que se preocupam com as bases de Allan Kardec querem tirar Chico Xavier de seu pedestal, apesar das traições violentas que ele fez à doutrina codificada pelo pedagogo francês.

Chico Xavier foi superestimado de tal forma que virou uma obsessão daqueles que buscam uma orientação na sua espiritualidade. Vão pelo caminho errado, porque não conseguem, ou não se interessam, em procurar outro brasileiro que tenha lições de vida bem melhores que o anti-médium brasileiro. E isso apesar de termos tido Paulo Freire, Oscar Niemeyer e Milton Santos.

Como figura do Espiritismo, Chico Xavier foi uma figura abaixo do medíocre. Ele mais errou do que cometeu acertos, essa é a dolorosa verdade. Muito do que ele fez de "positivo" é controverso e duvidoso, muito do que ele fez de errado é dolorosamente verídico. E tal constatação não vem de "perseguidores" nem de "juízes terrenos", mas pela observação cautelosa.

Na verdade, Chico Xavier, que construiu seu carisma por acumular, ao longo da vida, estereótipos considerados agradáveis relacionados à humildade, velhice e bondade, foi um católico excêntrico, com hábitos tradicionais e algumas manias.

Ele era um colecionador de imagens religiosas e um católico fervoroso - posição que, do contrário que muitos acreditam, ele nunca rompeu - , como se observa na sua devoção à Nossa Senhora da Abadia, a principal entre os tantos santos cultuados pelo anti-médium mineiro.

Chico era também um devorador de livros que nunca o fez um intelectual, mas apenas um leitor exemplar de obras literárias, como muitas pessoas interioranas com capacidade de leitura faziam, pelo menos desde o século XIX.

Ele tinha poderes paranormais que foram valorizados ao extremo. O que se comprova é que ele conversava com o padre jesuíta Manuel da Nóbrega, que adotou o codinome Emmanuel, mas é muito duvidoso que ele tenha realmente outros dons que fizeram sua fama de "médium".

Mas ele tinha suas manias. Além da contradição de ideias, que o fascinava e fazia elaborar um jogo de ideias em suas frases e gestos - como contrapor pobreza e riqueza, fraqueza e força, ignorância e sabedoria, silêncio e voz, conformação e transformação etc - ele sentia um fetiche por pessoas que morriam cedo.

Daí a apropriação de Chico Xavier pelos jovens falecidos, a ponto de parecer "donos deles", o que faz com que, hoje, um Humberto de Campos dificilmente seja lembrado fora da "tutela" do anti-médium mineiro.

O fetiche pelos jovens falecidos, que se estende pela devoção exagerada à instituição Família - herança do catolicismo fortemente arraigado em Xavier - , se torna claro, neste caso, com as chamadas "cartas espirituais" que glamourizam as tragédias prematuras dos filhos e a comoção de seus pais e, sobretudo, mães, considerados "órfãos de filhos".

Esse é também um aspecto contraditório, pois a religião "espírita", que glamouriza o sofrimento e as tragédias humanas, se fundamenta, através de Chico Xavier, pela preservação simbólica do velho, em detrimento do sacrifício dos jovens. O "novo" ceifado para salvar o "velho".

E só mesmo o conservadorismo latente em muitos brasileiros, esse "complexo de vira-lata" que faz do Brasil um país com a teimosia em "modernizar" o atraso, sempre cosntruindo o "novo" com bases envelhecidas, que transforma Chico Xavier num "mestre" sem qualquer razão para isso.

E ainda tem outra mania, que detalharemos a seguir, que é de Chico Xavier sonhar com o Brasil como nação mais poderosa do planeta. Daí que, desde as primeiras obras, botando tudo nos nomes de Humberto de Campos, Olavo Bilac e outros, mas eventualmente defendendo ele mesmo a causa, a do "Coração do Mundo e da Pátria do Evangelho".

Xavier era um católico excêntrico que conversava com padre, colecionava imagens de santos, sentia fetiche por pessoas precocemente falecidas e adorava justapor ideias contraditórias. Um caipira mineiro com tais hábitos nem de longe estaria pronto para ser o "mestre" que muitos atribuem a ele, a ponto de julgar até mesmo os destinos futuros da humanidade planetária.

Mais do que as manias que marcaram a vida de Francisco Cândido Xavier, é a mania maior de seus seguidores verem ele sempre como um "mestre" absoluto para suas vidas num país confuso como o Brasil.

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