A história de Amauri Xavier anda muito mal contada. Ele havia denunciado, em 1958, o tio, Francisco Cândido Xavier, de ter cometido fraudes na sua mediunidade. Amauri, que teria feito colaborações para a quinta edição de Parnaso de Além-Túmulo, foi vítima justamente do rancor e da fúria que os "espíritas" julgam não possuir, mas que assim agiram com a maior agressividade.
Sim, a religião do "amor", da "caridade", da "luz", agiu sobre Amauri de maneira furiosa e mesquinha. Sem investigar as acusações feitas contra o tio, mesmo que elas possam estar equivocadas, Amauri, por ter sido muito jovem, foi alvo das mais abjetas e impiedosas calúnias, justamente por parte daqueles que se julgam só agir pelo perdão e pela misericórdia.
O caso traz controvérsias. Oficialmente, Amauri teria sido pressionado por um padre católico ou por uma moça católica a acusar Chico Xavier. Amauri teria sido alcoólatra, ladrão, arrombador de casas, falsificador de dinheiro e coisa e tal. Um delegado de Sabará, Agostinho Couto, o havia detido e depois ordenou a expulsão do "garoto-problema" da cidade.
Ninguém investigou as acusações de Amauri, e olha que Xavier já havia sido alvo de processo judicial, podendo enfrentar uma nova investigação. Mas, até pela repercussão negativa do caso Humberto de Campos, os partidários de Xavier agiram com toda a fúria contra Amauri.
Três anos depois, Amauri, já internado em um sanatório, faleceu depois de "beber o dia inteiro", em 1961. Há aspectos muito misteriosos sobre Amauri, que nenhuma investigação imparcial sequer cogitou ser feita pelos "espíritas", porque as acusações contra Amauri foram demais exageradas, e isso partindo de pessoas que dizem reprovar julgamentos e condenações infundadas.
Amauri, sobrinho de Xavier e filho de uma irmã dele, de repente passou a ser a "encarnação do mal". Delinquente, embriagado, ladrão, até falsificador de dinheiro! E como denunciou Chico Xavier de não praticar mediunidade, desabou-se uma reação de fúria dos "espíritas", dos quais um exemplo é este texto abaixo.
O texto foi publicado no jornal mineiro O Semanário, edição 126, da semana de 11 a 18 de setembro de 1958, na coluna "Nos Domínios do Espiritismo", dirigida por Olívio Novaes, de autoria do já falecido líder "espírita" mineiro, Henrique Rodrigues, que demonstra o quanto é o rancor dos "espíritas" contra Amauri, por mais que tentem desmentir esse sentimento.
Afinal, num momento ou em outro, a "serpe venenosa" de suas palavras aparece, até mesmo em tiradas bastante irônicas, e aqui mostramos este texto, como uma prova de que nem tudo é "amor e compaixão" dentro do "movimento espírita" brasileiro. O texto é chocante pela agressividade:
CHICO XAVIER E OS ETERNOS INIMIGOS
Henrique Rodrigues - Coluna Nos Domínios do Espiritismo - O Semanário, BH, Semana de 11 a 18 de setembro de 1958 - n. 126
O mundo profano, não os espíritas, ficou alvoroçado com as recentes declarações do jovem Amauri Pena que a par de uma mediunidade inconteste mas extremamente oscilante, exibia e exibiu, para maior proveito seu e do escândalo que pretendia fazer, a condição de "sobrinho" de Chico Xavier. Se o Espiritismo nada tem a ver com a conduta dos médiuns, porque estes existem em todas as religiões ou associações humanas, nenhuma nódoa pode recair sobre o abnegado de Pedro Leopoldo pelo fato de ter um sobrinho do quilate do Amauri. Há muito padre, político, gente de "importância" e sem importância nenhuma, honrada e humilde que possui parente desclassificado ou enclausurado nas grades de um presídio ou de um hospício. Ou pretendem estabelecer uma correlante responsabilidade penal ou social pelos laços da consanguinidade? Se assim é, cuidado!... Muita gente digna poderá levar a pecha infamante, por ter um parente na categoria de refinado patife.
Não é nosso propósito atacar ou esmiuçar a conduta moral do Amauri, pobre diabo já estigmatizado nos próprios arquivos da polícia mineira, onde a palavra autorizada do delegado de Sabará o classifica como "falsificador de dinheiro", "bêbado contumaz", "desordeiro incorrigível" e outras coisas mais, conforme publicação feita no "Diário da Tarde" de Belo Horizonte. Os espíritas sabem, pelos fatos acima, que Amauri é médium. Em geral, a mediunidade divorciada da vigilância moral possibilita a "sintonia" com os espíritos afins, com o que o cidadão responde, por sua invigilância por crimes e falcatruas insinuados pelas esferas espirituais inferiores.
Pois bem, esse rapaz, expulso de Sabará pelo delegado de polícia, escorraçado por todos, ainda encontrou abrigo em alguns corações espíritas de boa formatura que lhe deram casa e comida, mas que não lhe podiam dar dinheiro. E dinheiro era o que o Amauri queria. Dinheiro que viria caso seus trabalhos, arduamente corrigidos por um espírita eminente em Belo Horizonte, fossem publicados como de "autoria" dele, Amauri. Nós podemos provar que os escritos de Amauri não são dele, e o último numero de "Almenara", jornal espírita do Rio, prova o que dizemos.
Tudo iria muito bem, com plena compreensão dos espíritos que jamais perseguiram ninguém. Não é preciso; Amauri está agora entregue a sua própria sorte, ao destino que procurou com a sua invigilância. Seus companheiros de hoje, encarnados e desencarnados, hão de ensinar-lhe a lição a dignidade. Vai doer, mas vai ser útil.
Pois bem, foi esse jovem que serviu de prato aos "eternos inimigos" da doutrina, muito mais interessados em atacar a doutrina de Kardec do que propriamente "desmoralizar" Chico. Chico é um nome firmado, ao longo de inúmeros anos de serviço. Suas obras aí estão. Quem quiser investigar que investigue. Não há portas fechadas, não há dogmas, salas escuras, ou "latinorum" cabalístico. Mas, o Amauri era um elemento "trabalhado" por encarnados e desencarnados. Bastou o rapaz, querendo cartaz a custa dos outros e de nomes firmados, vir a público, e a matilha entrou a ladrar. Alguns pseudo-cientistas, diplomados embora, entraram a deitar falação com poses doutorais.
E lá veio o caudal de tolices com que pretenderam, por tabela, estigmatizar todos os médiuns. Disseram que o Chico era um "neurótico", um "nevrótico", "histérico", "dissociado mental", "recalcado" etc.. e muito etc... Não respondemos ao Amauri, mas revidamos ao insólito ataque dos "diplomados". Pelo mesmo jornal, e com o título "Chico Xavier e o Espiritismo", transcrito agora por "Almenara", revidei ao que foi dito. Para o primeiro a nossa compaixão e compreensão. Para os segundos, o ensino que corrige e ilumina. Nem podia ser de outra forma. Jamais agredimos a religião de quem quer que seja por entendermos, como espírita, que cada uma delas atende a determinada necessidade para a evolução humana. Tudo que existe foi feito por Deus, inclusive a fragmentação religiosa. Todas são necessárias. Mas, essa compreensão de nossa parte não nos caça o direito de defesa quando a religião que abraçamos é atacada por outros.
Ainda bem não havia silenciado a "voz dos diplomados", e eis que a lebre sai da toca. Sim, percebíamos que havia alguém por traz (sic) do Amauri... Quem seria?
O "Diário de Minas" do dia 12 de agosto inseriu um artigo assinado pelo Pe. José Cândido de castro S. J. com o título: "Amauri Pena, Espiritismo e Verdade". Estava a mostra do novo espírito incorporado no Amauri. Naturalmente o Pe. Cândido discordou de tudo o que eu dissera, mesmo subvertendo, negaceando ou omitindo minhas palavras ou conceitos. Fará justificar-se, lançou mão de tudo. Estudemos um pouco sua preciosa peça:
Diz o Pe. Cândido:
"Tivemos um encontro (com o Amauri) deveras interessante e proveitoso". Não duvidamos dos "proveitos" para o padre Cândido e para o Amauri.
"Foi de uma delicadeza e de uma isenção próprias de homem que busca exclusivamente a verdade". Mas, se o Amauri foi buscar a verdade com o Pe. Cândido, só nos resta lamentar seu engano.
"Viu-se claramente que o drama de Amauri teve origem em sua consciência, nela se desenvolveu por um imperativo de honestidade e coerência". Aí, o "viu-se" do padre chocou-se com o "verificou" do delegado de Sabará. O Pe. Cândido viu no Amauri alguma coisa útil aos seus propósitos e, apressadamente, lhe passou a bula de santidade. O delegado comprovou o contrário. É o caso do Pe. Cândido desmentir também a polícia de Minas Gerais.
"Todos saímos dali com a mesma convicção: Amauri disse a verdade". Cuidado Rev. Pe., sua convicção está muito fácil de ser conquistada. Resta agora saber se, daqui a um ano, quando o Amauri deixar de ser a "vedete" de sua "companhia", porque o Sr. é um S. J., ou seja, pertence a "companhia de Jesus" quando outro qualquer ofereça vantagens ao Amauri, vamos ver se o Sr. aceitará a palavra do Amauri como verdadeira. E se ele um dia contar tudo o que está se passando agora? Pense bem, ilustre sacerdote... Eu ficarei atento ao caso.
Depois de inúmeras tolices sem fundamento, o Rev. Pe José Cândido Castro me faz um desafio quando diz:
"Gostaria de saber se o sr. Rodrigues topa mesmo um debate público com o Frei Boaventura".
Supondo não ser o Pe. José Cândido Castro S. J. um leviano para fazer um desafio em nome de outrem sem a devida autorização, deixo aqui, como já frisei pela Rádio Guanabara na noite de 21 do corrente, a respoeta ao seu repto.
- Saiba o Pe. Cândido e o Frei Boaventura Klopenburg O. F. M. o seguinte: - TOPO.
Se, por possuir o jovem Amauri, considera-se portador de um trunfo, está muito fraco para uma polêmica. Para um ou dois casos de "espíritas" que "reingressam" no catolicismo, temos milhares de casos de antigos católicos como militantes ativos da seara espírita. E não apenas católicos, mas antigos padres, conhecedores profundos do que se passa no rebanho papal.
Será interessante um confronto entre o Espiritismo e o Catolicismo...Meu problema será apenas o de saber por onde começar...
(Nota do Editor: abaixo da coluna, é publicado um texto muito conhecido de Emmanuel, intitulado "Chamados e Escolhidos")
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.