segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Brasil como "coração do mundo": outra mania de Chico Xavier

ALEGORIA ILUSTRATIVA DO BRASIL COMO "CORAÇÃO DO MUNDO".

Outra das manias de Francisco Cândido Xavier é sua obsessão em ver o Brasil como nação mais poderosa do planeta, um devaneio tipicamente caipira, de um ufanismo a princípio bastante ingênuo e fantasioso, mas que passou a ser a "bandeira de luta" do "movimento espírita" brasileiro.

A expressão "coração do mundo" veio de sua cabeça, quando, já na primeira edição de Parnaso de Além-Túmulo, ele inseriu, por exemplo, num poema intitulado "Brasil", que ele colocou como de autoria do espírito do poeta parnasiano Olavo Bilac, mas que, com toda a certeza, não é de autoria desse espírito, por destoar completamente de seu estilo bastante pessoal.

Em seguida, Chico usava o nome de Humberto de Campos, para fazer o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de 1938, cujo ponto de partida, na verdade, teria sido a palestra de Leopoldo Machado feita em 1934 na FEB e mencionada em O Reformador (edições 03-10-1934, pg. 519 e 01-11-1934, pg. 575) intitulada "Brasil, Berço da Humanidade, Pátria dos Evangelhos".

Segundo o livro de Chico Xavier, o segundo e o principal que ele atribui a Humberto de Campos - o que gerou o famoso processo judicial de 1944 - , o Brasil seria a nação predestinada do Evangelho, a partir de uma conversa do espírito Helil com um estranho Jesus Cristo, triste, atormentado e desinformado sobre a localização do que hoje é o território brasileiro.

Helil teria dito que havia uma nação sob a constelação celeste do Cruzeiro do Sul que seria preparada para conduzir a humanidade planetária e a guiar a evolução da população da Terra. Com uma narração típica de contos de fadas, a chegada de Pedro Álvares Cabral e sua esquadra a Porto Seguro, na Bahia, em 22 de abril de 1500, foi "motivo de festa" no "mundo espiritual".

Ao longo da vida, Chico Xavier defendeu a causa, e seu complemento ocorreu três décadas depois do livro ufanista. Em 1969, Chico descreveu o tal sonho que inspirou o livro Não Será em 2012 e o documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier que reafirmava a suposta profecia descrita no livro de 1938.

Era a sua obsessão a conversão do Brasil como "coração do mundo". Devaneio caipira, fantasia infantil, sonho movido por razões puramente emocionais. Mas que toda a verborragia "espírita" tentou dar um tempero "científico", apoiado pelo próprio Xavier, ele mesmo cúmplice e colaborador do pseudo-cientificismo "espírita".

Com isso, a "pátria do Evangelho" seria não somente uma teocracia "espírita", mas também um paraíso de "avanços culturais e científicos", de "profundo progresso social", virtudes consideradas "certeiras" apesar do quadro lamentável que encontramos nesses aspectos.

Pelo carisma que Chico acumulou ao longo dos anos, seus devaneios passaram a ser vistos como "otimismo realista", como "lição de esperança" para seus seguidores, que dormem tranquilos acreditando que, depois de 2019, o Brasil liderará a comunidade das nações, depois que o "velho mundo" for derrubado pelas catástrofes e pelo terrorismo.

Afinal, às vezes todo sonho fantasioso tem seu lado cruel. E o problema não são as flores a serem cultivadas pelo devaneio emotivo, mas os espinhos a serem "plantados" no outro lado. O "lado oposto" da ideia do "coração do mundo" é que é o perigoso enigma que pode revelar o lado sombrio da "maravilhosa profecia".

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