quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Divaldo Franco e a sua obsessão do "ter"


A obsessão pelo "ter" é apenas material? Ela se limita às orgias da matéria, do sexo, das drogas e do dinheiro? A busca do prazer mundano se limita aos gozos materiais? Até que ponto os prazeres mundanos também não podem estar a serviço da fé e da religiosidade?

Divaldo Franco, o maior deturpador vivo de toda a história do Espiritismo, depois que seu antecessor Francisco Cândido Xavier havia falecido, é um malabarista das palavras, que só não causa estranheza porque os brasileiros estão tomados de muita desinformação e apegados, de maneira doentia, a velhos paradigmas emotivos que garantem a santificação de "médiuns" que na verdade são figuras traiçoeiras e bastante levianas.

As pessoas se surpreendem com as palavras com sabor de mel de Divaldo Franco e não contestam. Ah, se conhecessem a mancenilheira, planta bela, de frutos saborosos, mas uma árvore venenosa em todo seu conjunto, com frutas que, mastigadas, dão um gosto maravilhoso, mas depois provocam infecções que causam a morte. Tocando nas lindas árvores, também se contraem queimaduras que podem ser fatais.

As recomendações trazidas pela literatura espírita original sempre alertaram para os deturpadores adotarem um tom amoroso e falarem as mais belas mensagens para inserir conceitos levianos e dominar as pessoas. O excesso de mel das palavras pode representar um risco de dominação e posterior controle das mentes das pessoas.

Não por acaso, os seguidores de Divaldo Franco e Chico Xavier são os que mais perdem a cabeça quando são contrariados. Quando tudo está bem, são dóceis, meigos e solidários. Quando são contrariados na menor crença, explodem em fúria, fazem ameaças e carregam em agressivas ironias. Eles são o exemplo de como pessoas podem ser manipuladas pelo açúcar das palavras e pelo colorido das imagens. 

No capítulo 20, Influência Moral dos Médiuns, em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, Erasto é explícito no seu recado:

"Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé". 

Por trás do discurso de mel de Divaldo Franco, já foram inseridos fatos imaginários: relatos fictícios de suposta materialização do médico Adolfo Bezerra de Menezes, um deles para furtar um caminhão de mantimentos para suposta caridade. Há a apropriação de Divaldo do risível modismo das "crianças-índigo". Há o terrível julgamento de valor contra os refugiados do Oriente Médio, acusando-os indevidamente de "buscar tesouros na Europa".

Isso sem falar da decisão de Divaldo Franco em abrir seu Você e a Paz  para homenagear o prefeito de São Paulo, João Dória Jr. - decadente, mediante acusações de maltratar moradores de rua e estimular as mortes no trânsito com o aumento das velocidades-padrão nas avenidas marginais da capital paulista - e permitir o lançamento de um composto alimentar, a "farinata", condenado por entidades ligadas à nutrição e saúde pública e pelos movimentos sociais.

Com seu verniz de "generosidade, humildade, misericórdia e simplicidade", Divaldo tenta enganar as pessoas com seu balé de palavras. Notemos que, enquanto, no caso de Chico Xavier, os apelos emotivos estão mais associados à inserção das imagens do "médium" mineiro a paisagens floridas ou celestiais, às vezes sob ilustrações de cenários cósmicos, Divaldo busca seus apelos através de seus próprios depoimentos, com seu tom de mansuetude excessiva, portanto suspeita.

A OBSESSÃO EM "TER" EM RELAÇÃO A VIRTUDES SIMBÓLICAS

Vejamos esse trecho da entrevista que Divaldo Franco deu para um evento "espírita" em Porto Alegre, no dia 06 de novembro de 2017, um mês após ter se envolvido no caso da "farinata", episódio no qual foi beneficiado pelo silêncio da imprensa, mesmo a de esquerda. "Médiuns espíritas" são mais blindados do que políticos do PSDB.

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Em 2014, o senhor publicou o livro "Seja Feliz Hoje". Como ser feliz hoje?

Ao realizar o estado de paz interior. Confundimos a felicidade com o prazer. O prazer é fugidio, resultado da vida sensorial. A felicidade é o aprofundamento de valores. Podemos ser felizes na doença, na pobreza, na situação deplorável. Mas logo vem a ânsia do prazer. A verdadeira felicidade é dar-se para que a vida seja útil. Quando ela se torna útil a alguém, torna também ao indivíduo. É a proposta de Jesus Cristo: ele veio para servir, e não se serviu de nós para evoluir. A lição dele está no espiritismo, que nos oferece, na caridade, o meio de exaltação do self. Buscamos sempre o prazer e esquecemos da felicidade. Muitas vezes temos as respostas físicas, mas não temos a paz interior para a plenitude. 

Há quem diga que hoje existe uma obsessão pela felicidade e que é por isso que as pessoas se frustram. Como o senhor avalia isso? 

A felicidade é pelo ter. Corremos atrás de coisas e esquecemos dos valores individuais. Muitas vezes renuncio a determinado prazer para encontrar a paz. Somente quando nos preenchemos de valores éticos é que as coisas perdem o significado. Elas têm o valor que nós atribuímos. No momento em que a dor nos surpreende, esses valores desaparecem. Mas quando temos certeza de que a dor é um apelo do universo para que nos tornemos melhores, a felicidade aparece. 

A felicidade envolve renúncia?

Sim. Sem a renúncia, não há felicidade. A renúncia é prova de amor, não exigir que o outro seja como nós queremos, mas ser feliz com aquilo que o indivíduo tiver. 

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É risível ele defender a "felicidade", dentro dos princípios da Teologia do Sofrimento "espírita", na qual Divaldo Franco é um seguidor bem mais dissimulado que Chico Xavier. Além disso, vejamos o jogo psicológico que representa a Teologia do Sofrimento: aos pobres, pede-se a renúncia ao que ainda não tem. Aos ricos (o principal público de Divaldo), permite-se a felicidade dentro de seus privilégios.

Divaldo não é uma figura de firmeza nem de coragem e nem de coerência, e muito menos de sabedoria. No caso da "farinata", ele nem sequer se armou de coragem para impedir o lançamento do vergonhoso alimento, algo que toda pessoa com um mínimo de responsabilidade deveria fazer.

Vendo essas opiniões de Divaldo, muitos não imaginam que a obsessão pelo "ser" e "pelas coisas" pode também envolver os próprios "médiuns". Afinal, embora não sejam atributos materiais, o prestígio religioso, movido por pretensas atribuições ligadas a ideias como "sabedoria", "caridade", "amor", "humildade" e "misericórdia", também se equipara a ambições materialistas.

A religião apenas transfere para outro contexto sensações e perspectivas próprios do materialismo pagão. As "sessões mediúnicas" de Chico Xavier, por exemplo, eram verdadeiras orgias, com o êxtase do "bombardeio de amor" e a morbidez de diversos sentimentos de emotividade extrema, da ansiedade à nostalgia doentia, que fazem desses eventos redutos de vibrações energéticas bastante inferiores.

Divaldo Franco e Chico Xavier se tornaram as pessoas que mais sentem essa obsessão do "ter". Fora os prêmios que colecionaram pelo prestígio religioso, em eventos comandados ou apoiados por pessoas ricas e poderosas - o próprio "movimento espírita" demonstra, comprovadamente, se equiparar a essas elites e, com elas, apoiou o golpe político-jurídico de 2016 e o governo Temer que dele se resultou - , eles parecem desapegados a caprichos materialistas. Mas não.

O prestígio religioso revela um materialismo ainda mais oculto e intenso. Que eventos como o "funk" demonstram uma inclinação aos chamados prazeres mundanos, através do sexo e da violência - embora o "funk" se afine com os "médiuns" nos apelos emotivos da glamourização da pobreza -  , isso é fato. Mas os "médiuns" também estão mais presos aos prazeres mundanos do que se imaginam, e não se fala da pura questão de comer carne ou buscarem se vestir bem.

O que se fala são de atributos simbólicos. A unanimidade que Divaldo Franco persegue de maneira frenética, mas pelo artifício de um tom de fala dócil nos depoimentos e teatral nas oratórias, pelo mel das palavras e pela aparente limpidez das mensagens, é um capricho materialista.

O próprio fato de se atribuir "superioridade moral", "perfeição espiritual" e "amor e dedicação aos mais necessitados" revelam atributos terrenos. As paixões religiosas, embora focalizem o mundo espiritual e a busca ao "Alto", são extremamente materialistas, niveladas ao mais baixo militante stalinista que rebaixa o marxismo a conceitos autoritários, militarescos e punitivistas.

Sobre Divaldo Franco, fala-se até que, à sua espera no além-túmulo, estão todas as autoridades do universo, corais de anjos com maestros em prontidão, medalhas e diplomas prontos para serem dados a ele e ainda tem a presença obrigatória de Jesus Cristo, para chamar o "médium" para o convívio com o pai. Tudo isso não seriam devaneios de natureza materialista?

O "espiritismo" brasileiro apenas transfere o materialismo para o além-túmulo, fazendo com que seus membros defendam sempre o sofrimento das pessoas, confundindo desafios com desgraças, prejuízos com aprendizados. Os "espíritas" confundem afogamento com natação, e acham que toda desgraça é válida para atingir os céus.

Há muito materialismo envolvendo os "médiuns espíritas". A "superioridade" deles é um atributo terreno, movido por paixões religiosas e motivado pela fascinação obsessiva (tipo de obsessão já alertado pela literatura espírita original). Mesmo a suposta humildade é uma vaidade às avessas, como se os "médiuns" perseguissem o prestígio de Jesus.

Os apelos emotivos garantem o aparato de mensagens que nem são tão coerentes assim. Divaldo Franco ainda consegue ser um artífice das palavras melífluas, o que Chico Xavier foi incapaz de fazer, porque suas frases são abertamente grosseiras, precisando do apelo das paisagens floridas, das fontes gráficas graciosas e outras imagens de apelo emotivo auxiliar para que as pessoas vejam alguma "beleza" nos ditos deixados pelo "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.

São ideias sem pé nem cabeça, mas tomadas pelo materialismo das palavras e imagens belas, e a própria emotividade é um capricho materialista, feito com o mesmo êxtase e as mesmas sensações das orgias sexuais. Em vez de sucumbirmos às paixões do sexo obsessivo e da luxúria, indiscutivelmente redutos de muita leviandade, se sucumbem às paixões religiosas, quase erotizando os "médiuns" diante de tanta adoração obsessiva e doentia de seus seguidores.

Sob o verniz do espiritualismo, esses sentimentos revelam o quanto existe materialismo nos seguidores do "espiritismo" brasileiro e nos "médiuns" desta doutrina igrejeira. A atribuição de "superioridade" também é uma obsessão do "ter", pois os "médiuns" também tem suas obsessões materialistas, tão cruéis quanto os que se afundam nas orgias do sexo, das drogas e do dinheiro.

Essa obsessão é a da "unanimidade", da pretensão de "humildade" (uma presunção às avessas), do domínio da humanidade com o aparato de palavras melífluas e aparente mansuetude, da "sabedoria" - que faz a festa de intelectuais, artistas e cientistas medíocres que usam o "espiritismo" para obter prestígio - , entre outras qualidades, que na essência soam como se fossem coisas, ainda que simbólicas, mas que revelam o quanto os "espíritas" são presunçosos e materialistas.

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