quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

"Caridade espírita": Cortina de fumaça para permitir a ação de deturpadores?

AD PASSIONES - Divaldo Franco, na Mansão do Caminho, e o truque de aparecer ao lado de crianças em evento natalino.

"(...) conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".

O texto se refere ao suposto médium Divaldo Franco e, no entanto, não foi dito por algum evangélico ou católico mais idoso, e nem por algum moleque internauta que odeia ídolos religiosos, mas do eminente jornalista José Herculano Pires, estudioso do Espiritismo autêntico, em carta a Agnelo Moreto.

Embora Pires esteja aparentemente defendendo o amigo Francisco Cândido Xavier, que havia sido vítima de plágio nos primeiros livros de Divaldo, causando um escândalo nos bastidores do "movimento espírita" brasileiro, o que comprova o quanto de confusão envolvem os "médiuns" brasileiros, aos quais nunca se deve associar à ideia de coerência e bom senso.

O que chama a atenção é o trecho "conduta condenável no terreno da caridade", uma declaração que choca os fãs de Divaldo Franco. Embora o jornalista J. Herculano Pires não mencione na referida carta as irregularidades do amigo Chico Xavier, estas são conhecidas através dos fatos, vide por exemplo os inúmeros escândalos, como o caso Humberto de Campos e a fraude de Otília Diogo, entre outros.

Levando em conta a ideia de "conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação de posições anteriores" (leia-se a suposta mediunidade, citada na carta, ou o fato dos "médiuns" deturparem os ensinamentos kardecianos com ideias estranhas à Doutrina Espírita), uma questão é inevitável: a "caridade", cuja associação aos "médiuns" emociona multidões, não seria uma cortina de fumaça para a sua atuação como deturpadores do Espiritismo?

CARIDADE DE FACHADA

Divaldo Franco foi definido como o "maior filantropo do Brasil" por ter ajudado cerca de 163 mil pessoas durante 63 anos de Mansão do Caminho. O número parece muito grande, porém é de uma ridicularidade total: combinando a trajetória de anos com a quantidade média de beneficiados por ano, leva-se a uma porcentagem de 0,0012 % da população brasileira. Em termos estatísticos, é praticamente nada. E não coloca Divaldo sequer na lista de cem maiores filantropos do país.

Deve-se questionar a "caridade" que é o maior marketing dos "médiuns espíritas" no Brasil, criando situações constrangedoras como a da mãe do falecido Ryan Brito, a atriz Márcia Brito - a Flora Própolis da Escolinha do Professor Raimundo - que avisou aos céticos que questionavam a "mediunidade" de um "espírita" de um "centro" em Campo Grande que "conhecessem primeiro o trabalho de caridade dele", como se filantropia e mediunidade fossem a mesma coisa. Só que não.

Enquanto Divaldo Franco vende uma imagem de grandiloquência de si mesmo nas viagens confortáveis a palestras pomposas na Europa e EUA, ele não consegue resolver os problemas do bairro de Pau da Lima, onde fica a Mansão do Caminho, pois o bairro de Salvador é um dos mais violentos da capital baiana.

Na véspera do Você e a Paz, mais um dos milhares de incidentes ocorreram em Pau da Lima, com um homem atacando a ex-mulher e a família dela com soda cáustica, na noite, ao entrar numa loja das Casas Bahia. O caso foi reportado pelo jornal A Tarde.

Em 2016, havia o caso de uma jovem que foi sequestrada, num ponto de ônibus em Pau da Lima, por um motoqueiro para estupro coletivo. O caso traz um trocadilho irônico. Numa das palestras, Divaldo Franco narrava o caso de uma jovem que se livrou de um estupro coletivo porque o dr. Adolfo Bezerra de Menezes de repente se materializou (!) e chamou a polícia para prender os rapazes que se preparavam para o crime. Faltou o Dr. Bezerra para socorrer a pobre coitada no Pau da Lima.

Outras localidades, como Uberaba e Abadiânia também são cenários de muita violência, acompanhando a tendência de "casas espíritas", situadas em áreas perigosas sob o pretexto de "resolver a violência", só piorarem a situação.

Em Salvador, áreas como a Cidade da Luz, em Patamares, e o Centro Paulo e Estevão, em Amaralina, são redutos de regiões intensamente violentas, como o entorno Pituaçu-Boca do Rio, no primeiro caso, e o "triângulo" Nordeste-Santa-Cruz-Vale das Pedrinhas, no segundo.

A "caridade espírita", pelos resultados que não consegue efetuar se não a promoção pessoal dos "médiuns", alvo de adoração de muitos seguidores aos quais pouco importam se os pobres realmente foram beneficiados ou não. O foco acaba sendo o ídolo religioso que a pouca caridade produz, o que comprova que essa "filantropia" corresponde ao Assistencialismo, e não Assistência Social, como tanto alardeiam os "espíritas".

ASSISTENCIALISMO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

É bom deixar clara a diferença entre Assistencialismo e Assistência Social. Enquanto a Assistência Social investe na "cura" da "doença" da pobreza, o Assistencialismo apenas alivia suas dores, diminui seus efeitos drásticos, sem no entanto "trazer a cura".

No Assistencialismo, as ajudas são pontuais, parciais ou provisórias, e mesmo quando há resultados efetivos, eles são bastante medíocres, trazendo apenas níveis medianos de qualidade de vida. O foco acaba sendo mais a promoção pessoal do "benfeitor", que "comemora demais pelo pouco que faz", do que o atendimento aos mais necessitados.

Há também casos em que atos considerados "caridade" se comprovam perversos. O perigoso ato das "cartas mediúnicas" de Chico Xavier, oficialmente considerado a "maior bondade da vida do médium", foi uma atrocidade: mediunidade fake, exploração ostensiva das tragédias familiares, sensacionalismo místico e sobrenatural, falso consolo, prolongamento dos lutos familiares mesmo com a "certeza da vida após a morte" e promoção pessoal do "médium".

O que se observa nos "médiuns espíritas" é que, como eles produzem mediunidades fake, baseados no habitual vício dos brasileiros da falta de concentração mental - se o brasileiro não tem concentração sequer para ouvir música ou ler livros, esperaria que ele conseguiria realmente se comunicar com os mortos? - , e deturpam os ensinamentos espíritas, eles precisam de um apelo emocional para obterem a popularidade a níveis próximos da unanimidade.

Daí a "caridade", que tanto arranca lágrimas, no processo de "masturbação com os olhos" da comoção fácil e premeditada, e que serve como o maior marketing dos "médiuns espíritas", que com esse arremedo de ativismo social passam a ser blindados com mais intensidade que qualquer político do PSDB. Não seria hora dos tucanos mudarem o nome de seu partido para ESPÍRITAS?

É por isso que existem piadas sobre a elevada blindagem dos "médiuns", que fez com que a imprensa reagisse em silêncio diante do envolvimento de Divaldo Franco no caso da "farinata". Anedotas como "'médium espírita' é diferente de doença contagiosa; sarampo, por exemplo, se pega, já o 'médium', ninguém pega" ou "no ENEM, 'médium espírita' não cai em prova", começam a surgir.

Portanto, é bom demais para ser verdade que os "médiuns espíritas" se configurem em pessoas supostamente de alto nível de elevação espiritual. Observando bem a coisa, se revela o contrário, e se vê o quanto mesquinho é usar a caridade como cortina de fumaça para abafar atos como as irregularidades mediúnicas e a deturpação dos ensinamentos espíritas.

Usar o "amor" como desculpa para tais desonestidades é muito mais cruel do que bondoso e só acoberta a indignidade com apelos emocionais feitos para forçar o apoio, perto do unânime, das pessoas. Mas a ilusão é terrena, por mais que se usem pretextos espirituais. No além-túmulo, os "iluminados" da Terra sempre levam um choque quando se revelam as trevas de suas consciências.

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