domingo, 10 de dezembro de 2017

Divaldo Franco não tem moral para criticar obras anti-doutrinárias


A deturpação do "movimento espírita" tornou-se um processo tão engenhoso que os deturpadores passam a criticar a deturpação dos outros, pois no Brasil quem pratica a "vaticanização" do Espiritismo, mesmo quem diz criticar a própria "vaticanização" que praticam, se acha em posição de tamanho prestígio que se julga acima até mesmo da própria Codificação.

Faz-se o "espiritismo à moda da casa" que embora no discurso não se declare o "melhor de todos", se coloca numa posição que se faz de equivalente ou superior à própria Codificação. Ou seja, os deturpadores, no seu complexo de superioridade, chegam se achar acima do próprio Allan Kardec, como penetras numa festa que se acham mais anfitriões do que o próprio anfitrião.

Uma palestra do anti-médium baiano Divaldo Pereira Franco é extremamente risível no que se diz à denúncia de uma série de obras anti-doutrinárias e pseudo-mediúnicas que surgem sob o nome do Espiritismo, algo que é bastante constrangedor, vindo daquele definido por José Herculano Pires como impostor e adepto de Jean-Baptiste Roustaing.

As queixas de Divaldo envolvem sobretudo obras de Ramatis e outras figuras de conteúdo bastante esotérico. Só que há rumores de que o próprio Divaldo, que se recusa a assumir seu roustanguismo - ele alega "não ter tido tempo" para ler Os Quatro Evangelhos, mas nós sabemos que obras ele realmente não teve tempo para ler com profundidade - , também é simpatizante de Ramatis e adora esoterismo, como Horóscopos e coisa parecida.

Uma prova dessa sua inclinação é que ele encampou para si uma grande piada esotérica, a das "crianças-índigo", uma espécie de combinação entre misticismo, discriminação social "positiva" - quando a discriminação sugere uma imagem falsamente positiva de um tipo social ou humano - , uma farsa esotérica feita para aquecer o mercado de livros de auto-ajuda, que produz milionários a cada temporada.

Além do mais, Divaldo Franco nem de longe é alguém que possa falar em nome da pureza doutrinária, ele que é o maior deturpador ainda vivo do Espiritismo e o maior da história da Doutrina Espírita depois de Chico Xavier. Suas obras são do mais puro igrejismo, suas paletras, da mais velha verborragia dos oradores à maneira dos da República Velha, e sua pretensão de "ter respostas prontas para tudo" é algo que não condiz a uma qualidade de intelectual tão atribuída a ele.

Muito pelo contrário, sabemos que um verdadeiro intelectual, um autêntico sábio, não traz respostas, mas perguntas. Não é alguém que necessariamente tenha respostas para todas as coisas, mas alguém que tem a iniciativa de lançar ideias e problemas antes não devidamente analisados.

Num país como o Brasil, considerado o terceiro mais ignorante do mundo e no qual as redes sociais - que mais divinizam os "médiuns espíritas" - são reduto de estupidez e reacionarismo extremos, a ideia mais popular de "sábio" é associada ao sujeito de poses aristocráticas, discurso verborrágico, pedantismo, pretensões de responder tudo e ares de pretensa erudição. Divaldo faz esse tipo.

Divaldo e Chico publicaram, ao longo das décadas, obras do mais escancarado igrejismo de raiz roustanguista. Muitas de suas ideias são lançadas ao arrepio dos ensinamentos kardecianos originais, e a malandragem de se supor, na "catolicização" do Espiritismo, que isso "está de acordo com Kardec" por causa da alegada "afinidade com Jesus Cristo", não resolve uma série de problemas identificados com a deturpação que atinge o legado da Codificação.

As próprias obras de Chico Xavier e Divaldo Franco são, portanto, anti-doutrinárias. Isso se revela numa leitura atenta, e na comparação cautelosa e sem a permissividade das paixões religiosas, e quem não está acostumado a tais questionamentos sairá bastante chocado ao saber que, por exemplo, o livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (de autoria de Chico Xavier e Antônio Wantuil de Freitas, mas atribuído levianamente ao espírito de Humberto de Campos), está mais próximo de Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing do que de qualquer obra kardeciana original.

O mais contrangedor é quando Divaldo Franco deu a sua receita para não aceitar as obras anti-doutrinárias: o silêncio. Segundo ele, deve-se apenas orar em silêncio que as obras fracassam e desaparecem. Essa recomendação também vai contra os ensinamentos kardecianos originais.

Afinal, o próprio Kardec já recomendou o debate e o questionamento como formas de zelar pela pureza doutrinária. O que desagrada muitos brasileiros é que esse questionamento, cujo roteiro está em obras como O Livro dos EspíritosO Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Médiuns, além de muitos artigos da Revista Espírita, acaba tendo como alvos os próprios "médiuns espíritas", eles mesmos os que mais investem em um massivo e persistente trabalho anti-doutrinário.

Se existe uma profusão de trabalhos anti-doutrinários, o próprio Divaldo, assim como Chico, devem ser responsabilizados por isso. O "médium" não pode achar que, tomado de prestígio religioso e social, seja isento de responsabilidades graves, e no caso das violações aos ensinamentos espíritas originais, os dois foram os primeiros a fazer e não podem ser inocentados de tão gravíssima influencia.

Em outras palavras, se Divaldo está preocupado com as obras anti-doutrinárias, ele deveria parar de ver o argueiro dos olhos de outros deturpadores e ver a trave nos seus próprios olhos, porque se há obras reconhecidamente anti-doutrinárias, foi ele e Chico Xavier os maiores responsáveis.

Um "médium" tem que ser responsabilizado, como eu, você e qualquer pessoa que comete um ato grave. O próprio Divaldo, recentemente, permitiu, no Você e a Paz, homenagear um político decadente como João Dória Jr. e aceitar, sem pedir qualquer perícia ou documentação técnica a respeito, que se lançasse um engodo alimentício rejeitado por entidades sérias de saúde pública e visto pelos movimentos sociais como uma "ofensa à dignidade humana".

Sabemos que muitos seguidores de Divaldo Franco irão protestar, mas ele tem sua responsabilidade pelo episódio da "farinata", porque cometeu decisões de muita gravidade. Ter prestígio religioso nunca pode permitir que se fuja a certas responsabilidades, e é constrangedor que "médiuns espíritas" só sejam responsabilizados quando cometem atos positivos, mas quando são atos negativos a culpa sempre vai para terceiros, para não dizer os "obsessores do além-túmulo".

Isso revela o estrago que a deturpação causou em todo o legado trabalhoso do Espiritismo. A aberrante figura dos "médiuns", movida pelo culto à personalidade, e uma intrincada série de artimanhas para que a deturpação fosse bem sucedida e aceita por todos, mostra o quanto de confusão se provocou, por culpa de Chico Xavier, Divaldo Franco e seus seguidores.

Não são os veteranos de toda uma série de confusões que podem falar mal da confusão dos outros, se os primeiros influíram de maneira decisiva para que isso acontecesse. A deturpação se espalhou como pólvora e essa sucessão de obras anti-doutrinárias se deu porque, há muito tempo, essa pólvora foi acesa por Chico Xavier e Divaldo Franco, os pioneiros traidores do Espiritismo.

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