domingo, 19 de novembro de 2017

Por que a "geração 74" tomou o poder no Brasil?


O que faz surgirem estranhezas como um velho reacionarismo contaminando a juventude, a partir de grupos como o Movimento Brasil Livre? O medo de ver velhos feminicidas morrerem, mesmo na velhice plena? Ou o medo de ser cancelada uma simples padronização visual nos ônibus, voltando cada empresa a exibir sua identidade visual? Ou a leviandade de cancelar as conquistas trabalhistas históricas, criando uma "reforma" que só beneficia os patrões?

São loucuras que ainda são acrescidas, nessa novela surreal enlouquecida que se tornou o Brasil, com um "médium espírita" oferecendo seu evento para o lançamento oficial de um composto alimentar duvidoso condenado pelos movimentos sociais e pelas entidades sérias de saúde pública, e depois saindo de fininho beneficiado pelo "silêncio" da imprensa em geral.

E que situação enlouquecida é essa em que vive o Brasil? Explica-se isso pelo fato de que, desde 2016, a "geração 74", de privilegiados sociais do decorrer da década de 1970 - 1974 é o ano em que se combinou a herança do "milagre brasileiro" do general Emílio Médici com a "democracia com limites" proposta pelo sucessor Ernesto Geisel - , retomou o poder e se impõe como "dona" do presente e do futuro do nosso país.

A situação se compara à da "geração Nixon" dos EUA que se ascenderam durante a vitória eleitoral de Richard Nixon, em 1969, que em parte elegeu Donald Trump, se reúne em grupos reacionários que vão do Tea Party à Klu Klux Klan, apoia a truculência policial contra negros e tem muito medo de ver o psicopata Charles Manson (que prestou serviço à sociedade reacionária ao promover uma chacina que desmoralizou os hippies em 1969), já em idade avançada, falecer de repente.

Recentemente, Manson foi internado em estado grave, pela segunda vez este ano. Aparentemente, ele continua vivo até o momento de edição de nosso texto, ainda que esteja já com 83 anos de idade. Por sorte, a prisão lhe prolongou a vida, porque, se tivesse saído da prisão, na época da sentença perpétua dada em 1971, Manson, pelo seu estilo de vida, já teria morrido entre 1994 e 1997, talvez até antes.

O medo de ver assassinos ricos morrerem antes dos 90 anos é uma tônica dessa estranha sociedade nos EUA e Brasil. Se, por exemplo, um feminicida morre de infarto aos 55 anos, ninguém noticia - a não ser que ele sofra o mal no meio da rua, diante de tanta gente, porque aí não dá para esconder (ou alguém teria coragem disso?) - e ele só será declarado oficialmente morto após completar 93 anos de nascimento.

O que será que move essa sociedade que parece ser "invulnerável" e até "imortal"? A "geração 74" é a geração dos Illuminati contemporâneos? Diz a lenda que os Illuminati são um conjunto de diversos grupos sociais, reunidos sob critérios que vão do machismo ao jornalismo conservador, passando pela religião aos grupos paramilitares, sob o compromisso de estabelecer um modelo "ideal" de sociedade.

A "geração 74" sempre quis destruir ou enfraquecer o Brasil dos anos 1960 (1960-1964) e suas tentativas de recuperar e ampliar os progressos sociais nos anos 1980 e 2000. É identificada com valores medievais, sendo alguns membros mais radicais inclinados ao fascismo, e só admitem a modernização em aspectos formais, como o vestuário, a tecnologia, o vocabulário etc.

É uma geração que mistura o autoritarismo da Oceânia, a nação tirânica do livro 1984 de George Orwell com o autoritarismo "benevolente" do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, e que deseja uma democracia controlada no Brasil, movida pelo trabalho precarizado, pela caridade paliativa que mais expõe seus executores do que traz benefícios aos necessitados, e por uma "liberdade cultural" limitada que não permite questionamentos aprofundados.

Ela tomou o poder porque mantém sob controle os processos financeiros, hospitalares, técnicos, tecnológicos, publicitários, coercitivos, jurídicos e midiáticos, ou de outra natureza, que os fazem sobreviver a incidentes incômodos ou ameaçadores. São os privilegiados da sorte, cujos privilégios variam do porte de arma ao prestígio religioso, do poder financeiro à visibilidade pública, do caráter tecnocrático ao domínio jurídico.

E O "ESPIRITISMO"

Cada vez mais se comprova o apoio do "movimento espírita" aos movimentos conservadores dos mais diversos. De um longo caminho que indicou o apoio de "espíritas" (a partir da FEB e com o respaldo de Francisco Cândido Xavier) ao golpe de 1964, manifesto pela participação da religião na Marcha da Família Unida com Deus pela Democracia (fato registrado pelo historiador Jorge Ferreira) ao apoio ao governo Michel Temer, vai um longo caminho.

Esse caminho inclui tanto o próprio Chico Xavier apoiando, com indisfarçável prazer, a ditadura militar em sua pior fase (a título de comparação, o maior apoiador do golpe militar, o jornalista Carlos Lacerda, estava na oposição), sepultando a imagem de "progressista" associada de forma equivocada ao "médium", quanto o entusiasmado encontro do "médium" João Teixeira de Faria, o João de Deus, com o presidente Michel Temer.

A atitude explícita de Divaldo Franco em usar o Você e a Paz, na sua edição paulista, para o lançamento oficial da "farinata" ou "ração humana" do decadente João Dória Jr., poderia até ter rendido um escândalo de gigantescas proporções dentro do "movimento espírita" não fosse o silêncio absoluto da imprensa. Nem a mídia de esquerda, normalmente mais informada que a hegemônica e de centro-direita, levou em conta esse fato e, dos religiosos, só criticou o católico dom Odilo Scherer.

Isso porque Divaldo entrou numa grande enrascada, como o rei de um jogo de xadrez que foi pego num xeque-mate. Divaldo, tido como "humanista", apoiou um complexo alimentar condenado por sanitaristas e ativistas sociais sérios, e o "médium" não sai inocente de sua grave decisão porque ambos os argumentos o deixam em grande desvantagem.

Se Divaldo agiu sem saber e desconheceu a gravidade do caso da "farinata" (feito com restos de comida e potencialmente nocivo à saúde humana), isso derrubou sua fama de "sábio", de suposto vidente de fatos futuros e de orador ilustre capaz de responder a todo tipo de questão da vida. Imagine um "médium" tido como capaz de ter respostas para tudo (o que rendeu os dois volumes de Divaldo Responde) não ter respostas para uma "comida estragada" disfarçada de complexo nutricional.

Se Divaldo agiu sabendo, isso derruba a sua fama de "humanista", porque apoiou um projeto alimentar que previamente - em relação ao dia do evento Você e a Paz - era condenado por nutricionistas, especialistas em saúde pública em geral e pelos movimentos sociais, ao consentir que João Dória Jr. lançasse a tal "farinata". Também derrubou a imagem de Divaldo como "caridoso", já que há denúncias de que o alimento de Dória teria envenenado internos em Jarinu.

Isso não é boato nem fofoca. Foi dado por uma imprensa conservadora, o jornal O Estado de São Paulo, que divulgou uma denúncia de que em uma instalação da Missão Belém, parceira do prefeito de São Paulo e da empresa Plataforma Sinergia na criação da "farinata", ocorreram várias mortes de internos, vários deles ex-moradores de rua, por efeito de desnutrição, desidratação, vômito e diarreia por suposta dieta a base de "farinata". Teriam sido usados como "cobaias" do produto.

As pessoas não perceberam isso, que demonstra o entrosamento dos "espíritas" com o atual momento. Serão eles também integrantes da plutocracia, ou dos "Illuminati" da "geração 1974"? A imprensa deixou perder uma boa oportunidade de analisar isso, achando que o apoio do "espiritismo" brasileiro ao governo Temer e seus associados "nada tem a ver", apenas sendo uma "formalidade de um espírito movido pelo perdão".

Não. Isso significa que os "espíritas" estão, sim, afinados com o momento de retomada conservadora. A complacência dos brasileiros, mesmo muitos progressistas ou de esquerda, esquece que Chico Xavier sempre pregou o silêncio em detrimento do questionamento, sendo um anti-Kardec convicto, e, o que é pior, um "médium" ultraconservador e até reacionário que fez "escola" para o verborrágico Divaldo Franco (um professor aos moldes da Escola Sem Partido) e o latifundiário João de Deus.

Isso comprova o quanto o "espiritismo" brasileiro rompeu com Allan Kardec, apesar de tantas e tantas e tantas bajulações ao professor francês, preferindo seguir com o igrejismo roustanguista que tanto empolgou os "espíritas" brasileiros, e cada vez mais voltado para ser uma atualização do antigo Catolicismo jesuíta do Brasil-colônia puxando o projeto neo-medieval do "Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", que recriará sob novo contexto o Império Romano e o Catolicismo medieval.

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