ROUSTANGUISMO SE TORNOU AINDA MAIS INTENSO A PARTIR DE CHICO XAVIER E DIVALDO FRANCO.
Foram mais de 40 anos de promessa para melhor aprender os ensinamentos de Allan Kardec. Tanto se prometeu a respeito disso, mas o que vimos foi apenas aparatos, fingimentos, simulações. As promessas foram em vão e nunca passaram de promessa para boi dormir, de conversa mole para os "místicos" agradarem os "científicos".
Enquanto isso, o nome de Jean-Baptiste Roustaing - ou J. B. Roustaing - , renegado oficialmente a ponto do referido sobrenome se tornar um "palavrão" entre uma parcela de "espíritas", ou um "estranho desprezível" do qual os "espíritas" menos iniciados nunca ouviram falar, continua ressoando através de seu legado, pois o roustanguismo tornou-se ainda mais forte e intenso entre os "espíritas" que se autoproclamam "rigorosamente fiéis a Kardec".
Há mesmo os "espíritas" que estufam o peito para fazer falsos ataques à "vaticanização", dizendo, com um discurso envaidecido, serem contra os "constantinos" que corrompiam a Doutrina Espírita, sem olhar para si mesmos, "constantinos" convictos até a medula, beatos que pensam que Kardec é o "sacerdote moderninho" que aceitaria qualquer capricho igrejeiro.
Palestrantes que diziam, com ar triunfante, "devemos não só conhecer Kardec, mas vivê-lo no dia a dia" eram os que mais traíam o legado do pedagogo francês, misturando todo o apelo do "Kardec total" com um engodo igrejeiro medieval e até cheio de firulas esotéricas e ocultistas.Em nome do "espiritismo de verdade", evocava-se até o Horóscopo nas palestras, livros e artigos.
Quanta erosão doutrinária se observa nas "casas espíritas" mais diversas, nas publicações do gênero, quanto vazio de ideias camuflado por um simulacro de caridade - Assistencialismo, a "caridade" que mais ajuda o "benfeitor", na projeção pessoal, do que os mais necessitados - , por um espetáculo de palavras bonitinhas, músicas piegas, fora tantas e tantas tolices.
"MÉDIUNS" INTENSIFICARAM O ROUSTANGUISMO
Tudo virou um igrejismo inócuo. Nem mesmo quando há palestrantes e "médiuns" teorizando "corretamente" os ensinamentos kardecianos originais adianta. É aquele ditado: "primeiro o serviço, depois a diversão", e, assim que esses "teóricos" supostamente cumprem a "lição de aula" de expor, em seminários e programas de TV, a verdadeira teoria espírita, eles vão a outros eventos expressar o mais viscoso e exultante igrejismo.
A partir de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, o igrejismo herdado do pioneiro deturpador Roustaing, que prometia ser definitivamente descartado, foi mantido e intensificado mesmo sob o verniz do "espiritismo autêntico". O roustanguismo foi uma postura que já havia prevalecido oficialmente no "movimento espírita", mas sem o apetite redobrado que se obteve após "engavetar" o sobrenome de Roustaing em nome do falso ideal do "Kardec total".
Chico Xavier e Divaldo Franco mantiveram seu igrejismo roustanguista com o máximo de convicção. Mas é como na política de hoje, em que o nome do deputado Eduardo Cunha faz muitos adeptos da "derrubada do PT" de 2016 hoje torcerem o nariz, se esquecendo que ele presidiu a sessão da Câmara dos Deputados que abriu o processo de impeachment que depois tirou a presidenta Dilma Rousseff do poder.
As propostas do governo Michel Temer, como as ditas reforma trabalhista e previdenciária, além de aspectos como a flexibilização nas negociações entre patrões e empregados e a terceirização total (para atividades-fim das empresas, pois a medida antes se limitava para atividades-meio), já faziam parte das pautas-bombas do então presidente da Câmara, atualmente preso. Aliás, essas mesmas propostas são apoiadas pelos "espíritas".
Pois é a mesma coisa. O governo Michel Temer se autoproclama "legalista" e "democrático" e usa as ideias de Eduardo Cunha jogando o nome deste na lata de lixo, aproveitando as ideias e escondendo o idealizador. O "espiritismo" brasileiro, que se diz "progressista", vestiu a camisa de Roustaing sem mostrar a sua grife, jogando o nome do deturpador pioneiro por debaixo do tapete.
Os "médiuns" são os maiores propagandistas deste roustanguismo enrustido. E sabemos por que o nome de Roustaing foi desnecessário: ele foi inteiramente adaptado ao contexto brasileiro pelas obras de Chico Xavier e Divaldo Franco, que agora são representantes oficiais de tais ideias igrejeiras.
A figura do "médium" já se tornou uma grande aberração, revelando um processo de clericalização à paisana, canonização em vida e na base do "achismo" e intenso culto à personalidade. Ela perdeu o sentido intermediário da função original, e o "médium" ainda tem o agravante de produzir obras fake que não condizem aos aspectos pessoais dos autores mortos alegados.
NÃO FOI SEM QUERER
Muitos acreditam que Chico e Divaldo tenham sido "católicos" sem querer. A desculpa usada para seu igrejismo é que eles "estavam empolgados demais" com o Catolicismo que "botaram tempero católico em excesso" no conteúdo da Doutrina Espírita. Oficialmente, aceita-se isso sob o pretexto, em verdade bastante discutível, das afinidades com os ensinamentos de Jesus, ignorando que os "médiuns" adotam uma interpretação medieval do mito do homem de Nazaré.
Mas um simples raciocínio revela que os dois "médiuns" não catolicizaram o Espiritismo sem querer, por acidente ou falta de tempo para estudo. Eles fizeram isso de propósito e com a consciência plena do que estavam fazendo.
Chico Xavier e Divaldo Franco não teriam catolicizado sem querer o Espiritismo porque não faz sentido fazer algo de longa data, grande repercussão e amplo alcance sem propósito ou por um lapso de consciência. Eles veicularam seu igrejismo em obras publicadas durante décadas, que repercutiam num público de grandes dimensões, pelo Brasil e pelo mundo, algo que deve ser entendido como um procedimento feito com a mais evidente intenção de "vaticanizar" a Doutrina Espírita.
Outro dado a considerar é que Chico e Divaldo continuaram igrejistas mesmo após a promessa que os dois haviam feito há mais de 40 anos, para agradar espíritas autênticos diante da crise vivida pela cúpula da FEB após o falecimento do ex-presidente Antônio Wantuil de Freitas (que havia sido descobridor e "empresário" de Chico Xavier), de que os dois "médiuns" iriam "aprender Kardec".
Nem mesmo a pose de humildade, diante dessa promessa de, supostamente, obter um aprendizado melhor da doutrina kardeciana, convence, pois o aprendizado nunca foi devidamente alcançado, em que pesem exposições eventuais de ideias teóricas do Espiritismo original. Até porque, sabemos, é insuficiente expor a teoria kardeciana original num momento, e praticar igrejismo em outro. Não se faz um bom mestre por ele ensinar bem numa ocasião, e depois ensinar mal em outra.
Por isso, vemos que o "espiritismo" brasileiro vive uma crise bastante severa pelas más escolhas que teve. E agora as dívidas da promessa não cumprida se tornam ainda mais fortes, de forma que é impossível que essa promessa seja feita novamente, com o mesmo papo de "viver Kardec de verdade".
O apetite igrejeiro dos "espíritas" só aumentou, superando até mesmo os tempos em que o roustanguismo era mais aberto e mais explícito. Isso porque o que antes parecia uma formalidade acabou sendo a "alma" do "espiritismo" brasileiro, que, por ironia, se tornou ainda mais roustanguista quando o sobrenome Roustaing foi escondido nas gavetas da FEB.
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