domingo, 29 de janeiro de 2017

Brasil é "balneário" para espíritos atrasados?


O Brasil é atrasado em todos os sentidos. Na complacência com os crimes de gente rica e na forma um tanto paternalista e espetacularizada de "caridade", observa-se um país viciado em muitos retrocessos. Os retrocessos são tantos que, no âmbito econômico, já assustam até os tecnocratas do conservador Fundo Monetário Internacional, boquiabertos com o radicalismo ultraconservador do presidente Michel Temer e sua "equipe de notáveis".

Nosso país está tão atolado em visões reacionárias ou retrógradas - que veem as necessidades humanas sob a ótica "pragmática" (limitada a motivos utilitaristas, como a mera sobrevivência, pouco importando desejos diferenciados de qualidade de vida e valorização do prazer) e os méritos mediante a noção material de relações de hierarquia - que o mundo fica estarrecido diante do Brasil que parece ter se perdido em algum período da Idade Média.

Preconceitos sociais liberados e trazidos por gente de elite, antes considerada "gabaritada". Veículos de mídia perdidos entre a libertinagem sexual quase troglodita e o moralismo punitivista severo. Aliás, a mídia que temos - Globo, Abril, Folha, Estadão, Jovem Pan etc, sem esquecer regionais como a gaúcha RBS e a baiana Metrópole - é simplesmente tão atrasada que até os sucessos musicais mais contemporâneos soltam um forte cheiro de mofo.

Tudo está velho no Brasil e a maioria das pessoas presa na zona de conforto de convicções, temores e neuroses que não fazem mais sentido. Paradigmas de valores morais, religiosidade, justiça social, punições humanas, méritos de toda espécie, parecem terem regredido para tempos de barbárie ou de profundo conservadorismo sócio-político na humanidade, deixando o Brasil numa preocupante situação de decadência social, que atinge até boa parte dos "esclarecidos".

Só para sentir o estranho moralismo em que vivemos, uma parcela da sociedade chega a ter medo de ver feminicidas ricos morrerem de repente ou então seitas religiosas entrarem em falência - os "espíritas", então, devem estar tremendo diante da crise de sua doutrina que só se agrava - , e a ignorância generalizada cria uma moral um tanto cambaleante que criminaliza ou inocenta conforme as conveniências.

O Brasil é um "balnerário" para espíritos atrasados? O que vemos são ecos diversos de sociedades ou grupos retrógrados: o Brasil foi tomado de patrícios do Império Romano, de medievais, de nazi-fascistas, de seguidores do apartheid, de macartistas, de absolutistas franceses. Até parece que, desde 1500, nosso país se tornou o depósito de lixo da humanidade.

É certo que o Brasil teve essa "missão" a partir da ideia concebida pelas autoridades portuguesas de mandar para longe do território lusitano prostitutas, ladrões, assassinos, desordeiros e loucos, que passaram a viver no território brasileiro e, provavelmente, a atravessar os séculos reencanando de maneira viciada, sempre de acordo com seus caprichos pessoais, ao mesmo tempo obscurantistas e extravagantes.

O Brasil é o sexto país mais ignorante do planeta, ocupando o primeiro lugar entre os sul-americanos. A estupidez viciada se reflete nas redes sociais, em que o ultraconservadorismo social é notado até em pessoas ditas "rebeldes", aparentemente modernas, mas cujas ideias que defendem deixariam um fidalgo medieval cair da cadeira de tão chocado.

Já tivemos tempos ultraconservadores que, todavia, obedeciam a uma lógica social e a uma certa coerência de contexto. Se abusos havia, eles obedeciam a um estágio de evolução institucional, que ainda estava atrasado. Se havia elitismos, eles pelo menos se manifestavam de maneira mais sutil ou controlada.

Hoje todos parecem ter surtado de vez. Práticas de clientelismo político que só seriam normais na República Velha estão sendo retomadas de forma escancarada pelo governo Michel Temer. O descaso político ficou institucionalizado, com os cortes de investimentos em Saúde e Educação, antes frutos da omissão política, virando leis de emenda constitucional. As empresas já estão livremente demitindo pessoas e querendo reduzir salários, sob a desculpa de se adaptar aos "novos (?!) tempos".

O machismo, não bastasse o medo de ver seus membros mais violentos "vestirem o paletó de madeira" (por mais que eles fumem ou usem drogas), tem também o dado surreal de contrapôr as mulheres-objetos com as "rainhas do lar", atribuindo às primeiras um falso feminismo, muito mal justificado pela "liberdade do corpo" e muito mal expresso por uma aparente solteirice das musas siliconadas.

O próprio "espiritismo" acompanha o "espírito do tempo" (olhe o trocadilho) e faz apelos para os sofredores aceitarem o sofrimento, não reclamarem e encararem tudo com fé e esperança. Expressando maior identificação com a Teologia do Sofrimento católica, o "movimento espírita", com tais apelos, demonstra subliminarmente seu apoio ao retrógrado governo Temer.

O Brasil está caótico, institucionalmente inseguro, socialmente viciado. O país vive uma catástrofe social sem precedentes, e as pessoas não percebem, como aqueles doentes da Síndrome de Riley-Day que são incapazes de sentir qualquer dor. Parecem até felizes, rindo dos problemas da vida. Não é à toa que, levando isso às últimas consequências, o Estado do Rio de Janeiro é agora conhecido como "Riley-Day Janeiro".

Isso é um alerta terrível. E já que fazem quatro anos de tragédia com a Boate Kiss, fruto da imprudência e intransigência de vários envolvidos - empresários, autoridades e banda musical, que soltou rojões que causaram o terrível incêndio - , quantas Boates Kiss vão acontecer, quantos voos da Chapecoense ocorrerão, para mostrar às pessoas que nem tudo é sonho e fantasia e que o Brasil está no caos e na desordem social?

Politicamente, o governo Temer é uma sucessão interminável de confusões, ameaças, retrocessos, recuos e tudo de ruim. É uma tragicomédia em que o lado trágico ainda é mais forte. E não é só a tragédia de Teori Zavascki, que, como ministro do STF e relator da Operação Lava Jato, deixou a seus envolvidos uma complicada lacuna, mas a tragédia da "normalidade" de seu governo, com ministros-problema como Eliseu Padilha, José Serra, Alexandre de Moraes e outros.

A grande mídia está cada vez mais retrógrada, com uma cultura musical plenamente abominável - em que os bregas mais antigos, como "pagodeiros" e "sertanejos" dos anos 90, agora são jogados para cantar clássicos da MPB, num oportunismo canastrão e pedante - cujo "maior acontecimento" é o Big Brother Brasil, já na 17ª edição.

Tudo isso revela ecos de todo tipo, desde a religiosidade medieval que faz muitos deslumbrados endeusarem Chico Xavier com uma emotividade piegas, até o erotismo compulsivo de uma Mulher Melão ou Solange Gomes que servem para as masturbações de machistas juvenis sexualmente descontrolados.

Até parece que o Brasil virou um "hotel" para espíritos retrógrados que perderam a sua razão de ser em outras áreas do planeta, e que agora tentam fazer o feitiço do tempo forçando o país a regredir mais ainda, a andar para trás desafiando as transformações dos tempos e criando um autismo isolacionista no qual uma considerável parcela de brasileiros ainda esnoba o resto do mundo, confundindo o atraso em que vive o Brasil com "originalidade". Coisa de quem pensa retrógrado.

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