sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Allan Kardec começa a desaparecer das livrarias "espíritas"


A coisa está grave, gravíssima. As deturpações do "movimento espírita" ainda resistem, sobretudo com o status de "superioridade" atribuído tendenciosamente aos anti-médiuns Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, ou à influência de "aventureiros" da "boa palavra" como José Carlos de Lucca e Robson Pinheiro.

A predominância quase absoluta de livros mistificadores, que, embora prometam trazer à luz mensagens "positivas" e aleguem fidelidade a Allan Kardec, trazem um conteúdo anti-doutrinário dos mais explícitos, está praticamente eliminando a presença do pedagogo francês das sessões de livros espiritualistas nas livrarias comuns e até nas próprias livrarias "espíritas".

Ainda existem livros de Kardec no mercado, sobretudo em sebos, e as edições traduzidas por José Herculano Pires e parceiros até não são difíceis de encontrar. Mas o que começa a ocorrer é que eles já perdem espaço para a bibliografia mistificadora, sobretudo quando já surgem livros de terceiros falando sobre as "lições" e as vidas de Chico Xavier e Divaldo Franco.

A presença de Allan Kardec começa a se reduzir às traduções da Federação "Espírita" Brasileira, da parte de Guillón Ribeiro, além de outras traduções em editoras menores mas que sempre "dissolvam" o pensamento de Kardec a palavras que sugiram igrejismo.

Hoje o "espiritismo" brasileiro sofre sua grave crise, mas, em contrapartida, seus líderes tentam enfatizar as "ações de fraternidade" em sucessivas campanhas, fora da Internet. No ano passado tentaram usar a grande mídia e, recentemente, a Rede Globo festejou a "filantropia" de Divaldo Franco que mal chegava a beneficiar 0,08% da população de Salvador.

Seus líderes tentam correr contra o tempo, e, quando usam a Internet, procuram carregar de "mensagens amorosas" ilustradas com flores, crianças, céus ensolarados, poemas, ações filantrópicas, seminários sobre bondade e família, mensagens contra o orgulho, o estresse e o egoísmo.

Tentam usar temas morais e familiares para desviar o foco de sua ignorância ao pensamento de Allan Kardec. como se ser "bonzinho" fosse necessariamente ser "espírita". Imagine se você, leitor, contratasse um encanador bonzinho, gentil, simpático e capaz de dar mensagens fraternais, mas realiza um trabalho desastroso que quase põe a casa para destruir! Pois é...

A maioria dos livros publicados é de relatos sobre Chico e Divaldo, romances sobre "reajustes espirituais", auto-ajudas do mais típico apelo religiosista, pretensas psicografias que quase sempre usurpam nomes de pessoas famosas ou anônimos que se tornaram conhecidos através da mídia.

O "espiritismo" tenta usar a beleza das palavras e a aparente bondade retórica para tentar fazer convencer as pessoas, atraindo e mantendo seguidores. Tentam com tudo isso compensar a incompetência doutrinária, o desconhecimento do cientificismo de Allan Kardec, cujo pensamento é desprezado pelos mesmos "espíritas" que se dizem "rigorosamente fiéis a ele".

E é assustador que Allan Kardec, nos livros editados pela LAKE (em que pese a editora, apesar do nome Livraria Allan Kardec Editora, ter inclinação roustanguista mais flexível que a da FEB), que contém as traduções mais fiéis às obras originais, começam a se tornar inacessíveis em livrarias distantes das grandes capitais.

Em muitos casos, apenas as obras O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno e O Evangelho Segundo o Espiritismo, e mesmo assim nas edições da FEB e de outra editora, IDE, são as mais fáceis de serem encontradas. Mesmo nessas editoras, nem todos os livros são de fácil presença nas livrarias. A Revista Espírita, em seus diversos volumes, então, é uma raridade.

Através dessa dificuldade, os leitores que começam a conhecer a Doutrina Espírita correm o grave risco de pegar a coisa distorcida, como há muito ocorre. Mas, desta vez, com maior dificuldade para encontrar outras opções, que seriam as obras e traduções que mais estivessem de acordo com o pensamento original de Kardec, muito distante desse igrejismo paranormal que está aí.

Em mais de 101 anos de FEB e mais de 70 anos de popularização, o "movimento espírita" continua causando estragos irreparáveis na compreensão do pensamento de Allan Kardec, e dificultar esse acesso só pode representar a vitória dos mistificadores e anti-doutrinários, que se passam por "bonzinhos" e por falsos "heróis" a se autoproclamarem "fiéis" ao mesmo Kardec que traem.

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