sábado, 1 de agosto de 2015

Por que o "espiritismo" ficou pior que as seitas neo-pentecostais?

COM TODOS OS DEFEITOS QUE TEM, A IGREJA UNIVERSAL PELO MENOS PROMETE O FIM DO SOFRIMENTO HUMANO.

Por que o chamado "espiritismo" no Brasil ficou em situação pior do que a das seitas neo-pentecostais, mesmo quando estas se envolvem em escândalos dos mais escancarados e em polêmicas que acabam repercutindo em desfavor de suas principais lideranças?

Sabe-se que escândalos diversos envolvendo essas seitas acabam abalando as reputações de seus líderes como Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, e Edir Macedo, da Igreja Universal. Ou outros personagens, como Marco Feliciano e Valdomiro Santiago, também se envolveram em vários escândalos, reportados pela imprensa.

De posturas reacionárias a ambições descomunais de crescimento ou dissidências formadas depois de conflitos sérios entre seus dirigentes, as seitas neo-pentecostais também têm como astro o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que leva o autoritarismo do PMDB carioca às últimas consequências, e que defende pautas retrógradas e não-obstante anti-constitucionais.

Alguns parlamentares dessas seitas também se empenham para transformar o país em teocracia, através da substituição do enunciado constitucional "Todo poder emana do povo" por "Todo poder emana de Deus". Nota-se que os retrocessos sociais são "bandeira de luta" de três forças reacionárias que mantém grupos influentes no Poder Legislativo nas esferas federal, estadual e municipal.

É a chamada "bancada do BBB". As três letras não se referem ao famoso Big Brother Brasil, mas ao trinômio Boi, Bíblia e Bala. Ou seja, a bancada ruralista, os evangélicos e os armamentistas (inclusive militares policiais da "velha escola", a da truculência), que defendem projetos que se voltam quase sempre para a exclusão social e para o prejuízo dos cidadãos.

Evidentemente, os evangélicos se empenham em retroceder o Brasil em muitos aspectos e estabelecer seu poder religioso utilizando-se da máquina política e do suporte legislativo. Querem usar o Estado laico para governarem em cima dele e subordiná-lo aos seus desígnios "cristãos".

OS ERROS "ESPÍRITAS"

O "espiritismo" tenta se colocar como "alternativa viável" às pregações antiquadas dos neo-pentecostais, como se oferecesse um grande diferencial de crenças, práticas e ideias, quando sabemos que, lamentavelmente, isso não é verdade.

O grande problema no "espiritismo" é que ele, autoproclamado a vanguarda dos movimentos espiritualistas, falhou em seus compromissos e se manteve perdido em seus vícios, preso nos seus dois maiores e piores erros.

Um foi a tentativa do "movimento espírita" em agir sempre para agradar a Igreja Católica e dela adaptar ritos, dogmas, práticas, procedimentos e compromissos, reduzindo a doutrina de Allan Kardec a um arremedo de Catolicismo sem batina e sem certa rigidez, como o uso da batina e o celibato, por exemplo, ou então a visão punitiva medieval.

Outro foi a preguiça e a falta de cautela na apreciação do tema mediúnico, da comunicabilidade dos espíritos e da vida espiritual. Em vez disso, a ignorância fez os "espíritas" fingirem uma especialização nessas áreas, criando uma visão especulativa da vida espiritual e uma prática improvisada e não obstante fraudulenta de atos mediúnicos.

No primeiro erro, leva-se em conta a herança que a religiosidade brasileira tem do Catolicismo português, vigente desde a fase do Brasil colonial, e observa-se que a religião lusitana ainda mantinha práticas e visões medievais até mesmo em meados do século XIX.

No segundo erro, levam-se em conta as concessões para práticas hereges, várias delas improvisadas e outras charlatãs, ligadas ao ocultismo, à feitiçaria e ao misticismo mais sombrio, sem qualquer vínculo com a ciência ou a transparência social.

Para piorar, esses erros acontecem impunemente, com os "espíritas" investindo na mentira, alegando "fidelidade absoluta e rigorosa ao pensamento de Allan Kardec" e traindo os ensinamentos do pedagogo francês o tempo todo. É como o marido infiel que fica nas festas falando o tempo todo de sua "inabalável fidelidade" à sua esposa.

E isso fez com que o "espiritismo" se tornasse uma doutrina cada vez mais retrógrada. Apegado à figura conservadora de Francisco Cândido Xavier, um dos que MAIS TRAÍRAM os princípios espíritas e que nunca foi mais do que um católico paranormal, a doutrina, através dele, sucumbiu a práticas contraditórias, confusas e defasadas que só fizeram afundar a doutrina.

Crises violentas e escandalosas surgiram através desses dois erros do "espiritismo" e, principalmente, pelas ações de Chico Xavier, relacionadas a pastiches e plágios literários, ao apoio entusiasmado às fraudes de materialização e à apropriação e exploração sensacionalista das tragédias familiares sob o pretexto da "caridade".

Se ele saiu imune, foi muito mais pela falta de coragem dos seus críticos de levar adiante suas denúncias e questionamentos, intimidados com a sedutora imagem de "humildade" do anti-médium mineiro, e isso fez com que o "espiritismo" resistisse como instituição, mas enfraquecesse como compromisso de adaptar no Brasil as ideias lançadas por Kardec.

Por uma curiosa ironia, o "espiritismo" sucumbe por causa de uma frase do versículo 48 do capítulo 12 do Evangelho de São Lucas: "A quem muito for dado, muito se exigirá". Esse versículo não se refere, por incrível que pareça, apenas aos bens materiais, mas à questão de que, para quem tem muita habilidade e conhecimentos, exige-se maior cautela e mais responsabilidade.

Isso porque quem é mais habilidoso e especializado não pode cometer os mesmos deslizes que se permite no âmbito da ignorância e da irreflexão. E isso faz com que o "espiritismo" esteja abaixo dos neo-pentecostais porque assumiu compromissos bem maiores do que estes, mas deixando de realizá-los, rebaixou-se ao mais ignorante dos ignorantes.

Isso porque os neo-pentecostais, pelo menos, são compreensíveis no seu horizonte ideológico mais atrasado, movido por crenças fantasiosas que, a exemplo dos católicos, fazem parte de sua formação sócio-cultural e mística. Não pretendem ser realistas com isso, embora julguem suas abordagens melhores do que aquelas defendidas por ateus, agnósticos ou religiosos de vida laica.

Já o "espiritismo", que prometia ser uma combinação elevada de Ciência, Filosofia e Moral Humana, como pretendeu ser o pensamento kardeciano, reduziu-se a um sub-Catolicismo esotérico e moralista, extremamente confuso e impreciso em seus propósitos e práticas, sob todos os aspectos.

Só para sentir a noção de gravidade, enquanto Chico Xavier fazia apologia do sofrimento humano, recomendando as pessoas a aceitar o sofrimento, por pior que seja, sem queixumes e com amor, a Igreja Universal, com todas as aberrações que tem - como os tais Gladiadores do Altar, os "pitboys de Cristo" - , tem a promessa de fazer cessar o sofrimento das pessoas.

Até o projeto que o "bispo" da Universal e engenheiro Marcelo Crivella, que chegou a ser candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro, no ano passado, tem para a população nordestina, baseado em iniciativas feitas no Oriente Médio, dão um banho de assistência em muitos projetos "espíritas" que não passam de frágeis projetos de esmolas coletivas e escolas básicas.

Os neo-pentecostais pecam por sua ideologia rígida e retrógrada, pela sua ânsia de poder e pelo pouco caso em atropelar a Constituição Federal de 1988, mesmo que seja para sacrificar duras conquistas democráticas, alcançadas com os sangues, suores e lágrimas de muitos brasileiros.

No entanto, o "espiritismo", como promessa de uma alternativa nobre de crença espiritualista, se perdeu em ser um conjunto de antiquado receituário moralista, mediunidade duvidosa e cientificismo pedante e, por isso, pôs por terra todo o compromisso que, em tese, assumiu.

Como advertiu o ensinamento de Jesus colhido por Lucas através de testemunhas do convívio com o ativista judeu: "a quem foi muito dado, muito se será exigido".

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