sábado, 17 de setembro de 2016

O "espiritismo" e sua fortuna imaginária


O religioso se equipara a um aristocrata. Sobretudo o "espírita". A suposta humildade não impede que pessoas desse nível se comportem como as elites das fortunas da terra, porque neste caso as fortunas são imaginárias, mas mesmo assim objeto de muita vaidade e extravagância.

O "espírita", não bastasse seu triunfalismo como um deturpador dissimulado da Doutrina Espírita, praticando o velho igrejismo mas bajulando Allan Kardec e seus semelhantes, acredita estar garantido o lugar no céu mesmo diante de conduta tão irregular e gravemente falha.

O palestrante "espírita", espécie de atualização dos velhos sacerdotes e escribas, presunçosos eruditos da fé religiosa tão severamente criticados por Jesus de Nazaré - que, para decepção dos próprios "espíritas", lhes daria reprovação imediata e severa - , se achando possuidor da "melhor palavra", sempre lutando para ficar com a "palavra final" para tudo.

A Teologia do Sofrimento, que identificamos estar presente em Francisco Cândido Xavier, é a bússola ideológica do "espiritismo" brasileiro, que na prática nada tem a ver com a doutrina original de Allan Kardec, usado apenas como fachada e simulacro para acobertar um velho Catolicismo medieval, moralista e ultraconservador por influência explícita de espíritos de antigos jesuítas.

O próprio Chico Xavier adotou um jesuíta como seu "orientador", o retrógrado padre Manuel da Nóbrega, o que estimulou a "revoada de jesuítas" que haviam sido influenciados pelo Catolicismo português de fase anterior ao terremoto de Lisboa de 1750, evento que devastou Portugal e que, para solucionar a crise, o primeiro-ministro Marquês de Pombal cancelou as atividades da Companhia de Jesus na colônia brasileira, bastante onerosas à Coroa portuguesa.

Foi como uma revanche de espíritos jesuítas que não gostaram de ver sua influência ser cortada na colônia sul-americana. Diante disso, usaram a novidade da Doutrina Espírita, mas, como sempre, misturando pioneiros com deturpadores - Allan Kardec e Jean-Baptiste Roustaing - , de forma a prevalecer sobre o próprio cientificismo kardeciano um padrão medieval de religiosidade.

É como se a Igreja Católica brasileira tivesse, nos anos 80 do século XIX, excomungado católicos medievais que, divergindo com as graduais transformações da igreja sediada no Vaticano, resolvessem criar uma dissidência que recuperasse os valores medievais introduzido no Brasil-colônia. Essa dissidência passou a ser o "espiritismo" brasileiro.

A ilusão que se produziu diante de tantas espertezas e dissimulações - hoje existe a postura "dúbia" em que um suposto "kardecismo autêntico" acoberta um igrejismo entusiasmado e viscoso - faz com que o "espiritismo", mesmo dispensando todo o aparato de ouros e joias dos católicos apostólicos romanos, também se serve de fortunas simbólicas, imaginárias, mas que inspiram a mesma vaidade de níveis bastante aristocráticos.

Ver Divaldo Franco colecionando condecorações, medalhas e prêmios, por conta de sua verborragia que mais manipula e engana do que esclarece, de uma filantropia que quase nada ajudou e de um projeto educacional que só produz cidadãos-carneiros a exemplo do que quer a Escola Sem Partido, é algo que não deveria sequer receber admiração, mas profundas lástimas.

Divaldo tem um apetite de viajar em aviões de primeira classe, fazer palestras em hotéis caríssimos, expor para brasileiros que vivem no exterior e puxar o saco dos kardecianos (espíritas autênticos e não-deturpadores) que atuam em outros países. Um apetite de viagens e adulações comparável ao de Madre Teresa de Calcutá, que era amiga de tiranos e magnatas corruptos.

É um envaidecimento descomunal, no qual os "espíritas" até forjaram uma "polêmica" em torno de Chico Xavier, minimizando a "vaidade" aos níveis de um "compreensível bom gosto", como Chico usar uma peruca cafona e Divaldo Franco se vestir à maneira de um professor aristocrático dos anos 1930 e 1940.

Mas a verdade é que o "espiritismo" brasileiro é uma fogueira incessante de vaidades. Na prática, ele reciclou as velhas presunções de fariseus e saduceus, tão reprovados por Jesus de Nazaré devido à falsa humildade, ao orgulho mórbido, à falsa sabedoria e ao eruditismo pedante e ornamentado.

É uma religião que acaba não assistindo devidamente as pessoas, mas antes trazendo azar por conta de suas péssimas energias. Ouvimos muitos relatos de pessoas que só viram tragédias e infortúnios acontecerem depois que abraçaram o "espiritismo" brasileiro, não raro com muita dedicação, admiração e respeito, para depois terem que sofrer de alguma forma o mau agouro.

Os "espíritas" tentam desmentir seus erros e equívocos, ou então minimizá-los. Tentam até dizer que fazem "espiritismo autêntico, igual ao de Kardec" mas "abraçando o sentimento de religiosidade brasileiro". Tentam desmentir que trazem azar, culpabilizam as vítimas, e, em seu pedantismo, chegam mesmo a fazer juízos de valor indevidos quando sofredores lhes descrevem sua situação.

Alguns palestrantes "espíritas" mais ambiciosos chegam mesmo a usurpar não só o cientificismo de Kardec, mas até mesmo os alertas do espírito Erasto chegam a ser deturpados de maneira leviana e tendenciosa, usados pelos "espíritas" para a causa própria destes, para tirar vantagem fácil.

Erasto havia dito que é mais válido rejeitar dez verdades do que aceitar uma única mentira. Pois no "espiritismo" se aceitou a sua mentira, da deturpação popularizada, de maneira mais irresponsável possível, por Chico Xavier, Divaldo Franco e seus seguidores.

Ver que essa mentira se impõe como "verdade indiscutível" é terrível, tanto quanto os esforços dos "espíritas" em usar até o YouTube para que seus conceitos igrejistas dignos do Brasil-colonial sejam permanecidos de maneira pétrea, irremovível e inquestionável. É como se dissessem para ninguém mexer no bolor que está no alto da parede.

O "espiritismo", como adaptação do Catolicismo medieval que a própria Igreja Católica não se interessa mais, aproveitou a bagagem ideológica descartada pela religião romana, que com todo o seu conservadorismo, pelo menos obteve muitas transformações. É claro que, na Natureza não se dá saltos, e recentemente a megera Madre Teresa de Calcutá foi declarada oficialmente "santa". Mas aí os "espíritas" também saíram extasiados.

De que adianta o desapego a ouros, dinheiro, luxo e extravagâncias se há o ouro simbólico do prestígio religioso, o refinamento de cidades espirituais imaginárias mas tidas como "reais" pelos caprichos místicos dos "espíritas" cegos no seu triunalismo?

Que paixões tão levianas, tão morbidamente sensuais, movidas pela sedução de mitos de suposta bondade, movem as pessoas em torno de Chico Xavier, Divaldo Franco e seus seguidores? Paixões dignas dos mais mórbidos aristocratas dão um tom diferente à orgia ideológica dos "espíritas".

Afinal, não são menos orgiásticas as histerias em torno de mitos de "amor e bondade" dos ídolos "espíritas". Não são menos eróticos os êxtases em torno de supostos símbolos de "caridade e fraternidade". Não deixa de ser uma masturbação o desfile de "palavras lindas" e "mensagens de amor" do ideário "espírita", como não é menos sensualismo a aceitação de tudo que ídolos como Chico Xavier dizem para as pessoas, sem dar chance ao questionamento.

É uma orgia sem órgãos sexuais, sem a fortuna material, mas com outros objetos de sentimentos igualmente fúteis e mórbidos, que cegam com o deslumbramento que atinge níveis de êxtase. Isso não é uma energia saudável, porque, uma vez contestados em uma vírgula sequer, os adeptos do "espiritismo" brasileiro se espumam de raiva e rancor, mesmo quando se disfarçam de "belas palavras".

Por isso a fortuna imaginária, o sensualismo simbólico, a obsessão e o apego a mitos como Chico Xavier e Divaldo Franco que faz os "espíritas" sucumbirem a ilusões tão terríveis do que os afortunados da matéria, dos enriquecidos do luxo e do dinheiro.

E é esse ouro das "palavras de amor" e do sensualismo da mitificação e da mistificação que tornam os "espíritas" cegos com seu próprio porvir, sem saber que sua doutrina faz procedimentos que seriam condenáveis por Allan Kardec, Erasto e Jesus de Nazaré e que o além-túmulo revelará na sua forma mais chocante, enviando os "espíritas" para o local que suas imaginações criaram: o umbral.

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