segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Caridade paliativa: quando a ajuda pouco beneficia

ADIANTA DAR ABRIGOS E COBERTORES PARA QUEM CONTINUA VIVENDO NA RUA?

O que é caridade paliativa? Também conhecida como "assistencialismo" é uma ajuda que apenas minimiza o sofrimento das pessoas, mas sem muita eficácia. São apenas ajudas parciais, poucos benefícios que mais parecem ações emergenciais, mas que são atos filantrópicos que se tornam superestimados pela sociedade.

O caso da oferta de sopas, por exemplo, mostra o grau paliativo dessa caridade. No mundo desenvolvido, as sopas dos pobres eram vistas apenas como atos extremos em momentos de crise gravíssima, como aconteceu durante a agonia da Segunda Guerra Mundial. Nunca são vistas como atitudes transformadoras, antes atos emergenciais que só evitam sofrimentos extremos.

Só neste Brasil confuso e desgovernado (leia-se governo Michel Temer, um caos absoluto) é que a caridade paliativa é vista como "profundamente transformadora". Muitos chegam mesmo a defini-la como "revolucionária", sem saber direito o nível e o alcance de seus atos, superficiais e limitados.

Daí que houve a gafe de muitos "espíritas", quando defendem Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, definirem seus atos "filantrópicos" como sendo "revolucionários", sem se informarem direito do que são esses atos e se realmente eles trazem algum resultado.

A verdade é que esses atos não trazem resultados profundos nem concretos. Se trouxessem, até as áreas de influência de Chico Xavier e Divaldo Franco, respectivamente a cidade mineira de Uberaba e o bairro de Pau de Lima, em Salvador, seriam modelos de progresso e desenvolvimento humano, a ponto de qualquer um poder sair na rua de noite sem perigo.

Mas ocorre o contrário. As duas regiões estão entre as mais violentas do país, com assustadoras ocorrências de assaltos à luz do dia e assassinatos quase todos à noite, obrigando as pessoas a se acostumarem a dormir sob o som de metralhadoras e revólveres soando durante a madrugada.

As caridades dos dois não tiveram profundidade. A de Chico Xavier era muito vaga, apenas doações, donativos, que não transformam muito. A de Divaldo Franco inclui um projeto educacional inócuo e religioso, que faria os defensores da ultraconservadora Escola Sem Partido ficarem tranquilos e felizes.

No entanto, por que as duas caridades são tidas como "revolucionárias"? É porque ela causou transformações profundas na sociedade? De jeito nenhum. O que há é uma visão equivocada que exalta a caridade quando ela é feita sob o selo de uma religião. Num país em que se chamou uma ditadura militar de "revolução", chama-se de "revolucionária" a Educação que não revoluciona de jeito algum, mas que fascina por causa do selo religioso que carrega.

Paulo Freire, notável educador brasileiro, ajudaria zilhões de vezes mais do que os dois anti-médiuns juntos. Isso porque o método do pedagogo pernambucano era realmente revolucionário, permitindo as pessoas em pensar criticamente a sociedade e agir de maneira a combater as injustiças e desigualdades sociais, que a caridade paliativa da religião não se dispõe a enfrentar.

Só que aí os deslumbrados religiosos deixam a máscara cair. Tanto posam de "progressistas" falando de Chico Xavier e Divaldo Franco, mesmo não podendo esconder seus valores conservadores, que no entanto reagem a qualquer comentário sobre Paulo Freire chamando-o de "comunista" e "fabricante de guerrilheiros".

Há o aspecto de que a caridade que se protege sob o manto da religiosidade não afronta as desigualdades sociais, na medida em que esse espetáculo da bondade aparente mostra sempre os pobres e doentes resignados, os ricos mantendo seus privilégios e os religiosos se promovendo com uma ajuda que rende mais publicidade do que benefícios.

Foi patético e constrangedor ver Divaldo Franco aparecer no Fantástico, da Rede Globo, tido como "maior filantropo do Brasil" com um projeto assistencial que não ajudou sequer 1% da população de Salvador, quanto mais um país inteiro. E isso mostra o quanto a caridade paliativa exagera na publicidade, deixando que os incautos acreditem, mesmo sem saber por quê, que tais caridades "revolucionam".

É essa publicidade que engana as pessoas e faz com que movimentos religiosos se promovam diante da boa-fé das pessoas. Uma bondade que não tem vida própria, não tem brilho próprio, se tornando apenas um subproduto de uma instituição religiosa, o que desmascara o aparente mérito da caridade paliativa que praticamente nada traz de mudanças profundas e significativas para a sociedade.

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