sábado, 7 de maio de 2016

A complacência com os deturpadores do Espiritismo

O SABER VOANDO EMBORA, AO LONGE...

O que faz uma mentira perdurar? É a aliança de interesses e a aparente pertinência de sentido que uma mentira traz para um considerável grupo de pessoas. Se a mentira soa vantajosa e carrega, em si, uma série de ideias agradáveis e não apresenta, de forma explícita, graves prejuízos, ela pode durar décadas tendo o status de uma verdade indiscutível.

A deturpação da Doutrina Espírita pode não ter vingado, em primeira instância, nos primórdios da Federação "Espírita" Brasileira, por ser uma ação expressa apenas pela atitude sisuda de dirigentes. Foi preciso criar um astro, praticamente um astro pop, para transformar a deturpação em um fenômeno popular, a partir da figura de um esquisito caipira católico que se afirmava paranormal.

Foi aí que se construiu, a partir da figura de um certo Francisco de Paula Cândido, depois renomeado Francisco Cândido Xavier, o mito Chico Xavier que conhecemos. Mito que, de obstáculo em obstáculo, se agigantou de maneira avassaladora a ponto de criar dificuldades para desconstruir essa imagem mitológica que praticamente ganhou foros de "dona do Brasil".

Pois Chico Xavier, o "dono do Brasil", o "acionista majoritário da verdade", o "vice-Deus" colocado acima de tudo e de todos no território nacional, e o tão festejado "senhor dos mortos", criou uma complacência por parte da opinião pública, devido a seu mito que junta aspectos agradáveis associados à religiosidade e aos paradigmas de humildade vindos do Brasil-colônia.

É bastante surreal que muitos brasileiros creditem o "futurismo espiritualista" a um caipira católico, ultraconservador, com índole de interiorano da República Velha saudoso do Segundo Império, um homem do século XIX em pleno século XX mas que, mesmo morto, é tido como fiador do Brasil do século XXI.

MITOS

É assustadora a ganância que os dirigentes da FEB tiveram para alimentar o mito de Chico Xavier, que, antes de se descobrir a campanha limpa de mitificação do inglês Malcolm Muggeridge - que criou uma Madre Teresa de Calcutá (depois reconhecida como uma megera sisuda e insensível) adocicada e maternal - , era trabalhado de maneira confusa e à mercê de escândalos.

Todos estão acostumados com a imagem "amorosa" de Chico Xavier, do "adorável filantropo", e chegam a criar fantasias em torno dele. mas poucos sabem o quanto o ambicioso Antônio Wantuil de Freitas, o tirânico presidente da FEB, é responsável por boa parte desse mito, quando era trabalhado de maneira confusa.

Outro responsável pelo mito Chico Xavier foi Roberto Marinho, o "dr. Roberto" das Organizações Globo, que abandonou a antiga hostilidade ao anti-médium mineiro e apresentou Malcolm Muggeridge ao "movimento espírita", relançando o mito de Chico numa campanha "limpa", com os mesmos elementos trabalhados por Muggeridge para o mito de Madre Teresa.

As pessoas se acostumam fácil com certas coisas e isso é um perigo. Se impõe algo prejudicial à coletividade e se força sua estabilidade diante de tantos argumentos e pretextos, e nenhuma oposição é manifesta, pelo menos de maneira intensa e eficaz, essa coisa nociva permanece, prevalece e as pessoas vivem satisfeitas diante dessa mazela cotidiana.

A mentira e a mistificação são a mesma coisa. Ficamos séculos acreditando em interpretações medievais da vida de Jesus. em aspectos surreais de passagens da Bíblia (como o Mar Vermelho se dividindo como se fosse uma gelatina cortada ao meio), e isso tem o preço muito caro de ver mentiras e fantasias transformadas em verdades indiscutíveis, em dogmas difíceis de serem contestados.

NEO-OBSCURANTISMO

O "espiritismo", embora não compartilhe de muitos dogmas católicos, cria outros novos. Pior: atribui, equivocadamente, a Chico Xavier, supostos pioneirismos científicos que, na verdade, são atribuições roubadas de feitos científicos sérios, ocorridos bem antes das datas atribuídas, trazidos por renomados pesquisadores como o estadunidense Percival Lowell e o alemão Wolfgang Bargmann.

O "espiritismo" diz valorizar a busca do Conhecimento e as atividades científicas, mas seu sutil obscurantismo faz com que irregularidades na mediunidade ou pontos obscuros na vida de ídolos da doutrina sejam ocultos, traindo a busca do Conhecimento e da verdadeira informação.

Por exemplo, prefere-se lançar livros mistificadores sobre Chico Xavier, sem que encontre respaldo unânime dos próprios seguidores, como a "profecia da data-limite", do que relançar um livro que estuda irregularidades de suas supostas psicografias, como O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, de Attila Paes Barreto.

A própria Ciência Espírita de Allan Kardec nem de longe é apreciada. A recomendação, por exemplo, de que um espírito do além tem que se manifestar por meio de diferentes médiuns estranhos entre si e sem qualquer relação ou vínculo, por distante que seja, é simplesmente ignorada.

Aqui, basta um médium-estrela dizer que incorporou um espírito para as pessoas aceitarem. Tudo no faz-de-conta, recheado de mensagens de "amor e fraternidade". Como a "democracia" no discurso demagógico político, a "fraternidade" integra a demagogia religiosa, o que faz os brasileiros terem ignorado os alertas do espírito Erasto, divulgado por um médium (discretíssimo) na época de Kardec.

Erasto havia dito que os espíritos mistificadores falariam em "coisas boas" para seduzir as pessoas e inserir nelas ideias levianas. Kardec também alertou sobre um dos processos de obsessão espiritual, a fascinação, na qual o espírito leviano também enfatiza ideias como "amor", "caridade" e "fraternidade" para depois manipular as pessoas com dogmas igrejeiros.

Daí que é preocupante a ampla complacência da deturpação da Doutrina Espírita feita pelos festejados Chico Xavier e Divaldo Franco. Protegidos pela sua roupagem religiosa, eles não são investigados nem analisados com isenção, adorados cegamente mesmo sob o pretexto da pretensa isenção. Com eles, deturpar o Espiritismo foi mais fácil do que tirar doce da mão de uma criança.

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