domingo, 28 de dezembro de 2014

Tese da Universidade de Juiz de Fora tende a ter resultado equivocado

JAIR PRESENTE - O JOVEM, FALECIDO EM 1974, É O FOCO DE ESTUDO UNIVERSITÁRIO RECENTE.

A recente notícia de um estudo universitário realizado pelo Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPES) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em parceria com o Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) a partir de projetos de pós-graduação de Alexandre Caroli Rocha e Denise Paraná, caminha para um resultado completamente errado.

Mesmo tendo adotado uma metodologia até certo ponto rigorosa, com depoimentos detalhados de familiares e amigos, ampla pesquisa de documentação e até de escritos pessoais do falecido, além de levantamento em cartórios, a tese, voltada para suposta psicografia de Francisco Cândido Xavier, tem tudo para chegar a uma conclusão nada acertada e favorável ao anti-médium mineiro.

Isso porque a metodologia apenas investiga dados que identificassem com o perfil do jovem falecido, nascido em Campinas em 10 de novembro de 1949, filho de José Presente e Josefina Basso Presente, e falecido afogado numa praia da mesma cidade, em 03 de fevereiro de 1974.

O indício de suposta veracidade, na visão dos pesquisadores, se apoiaria em informações não genéricas, privativas de sua família ou tidas como de seu desconhecimento, que Chico Xavier aparentemente não seria capaz de colher previamente, embora muito se diga de seguidores de Xavier se aproveitarem das conversas com os clientes para colher informações.

Só que mostramos o quanto a pesquisa tende a um resultado equivocado, sem a comparação crítica e questionadora das cartas apresentadas. Treze cartas, entre mensagens e poemas, divulgadas por Chico Xavier, são tidas como de autoria de Jair Presente. Delas, duas amostras mostram o gritante contraste de uma com a outra, num espaço de apenas cinco meses.

Não precisamos pesquisar todas as cartas. Colhemos duas amostras, que revelam a grosseira diferença de linguagem de uma com a outra, e isso em cinco meses, muito pouco tempo para que tais diferenças se tornassem evidentes, e ainda assim uma diferença exagerada, mesmo considerando que a personalidade de alguém possa sofrer grandes mudanças.

Uma carta, a primeira, foi divulgada em 15 de março de 1974, portanto, pouco mais de um mês do falecimento do rapaz. A segunda - evidentemente não a segunda da série, mas a de nossa amostra - data de 25 de agosto do mesmo ano, portanto, com menos de meio ano de publicação em relação a outra mensagem.

Na primeira amostra, nota-se o habitual tom de panfletarismo religioso típico das mensagens supostamente espirituais. Há, nela, o estilo caraterístico da imaginação pessoal de Chico Xavier, com todo o sentimentalismo melancólico que se conhece em seus textos.

Já a segunda amostra choca pela linguagem excessivamente coloquial e pelo discurso nervoso, parecendo de alguém que havia tomado LSD e foi tomado de efeitos colaterais do referido ácido, o ácido lisérgico. Consta-se que a linguagem, com excesso de gírias, teria sido inspirada no vocabulário dos hippies, que estavam muito em moda no Brasil.

Vamos às duas amostras, e a nossa conclusão a respeito da veracidade da autoria de Jair Presente, na suposta psicografia de Chico Xavier, acrescentando que nos faltou verificar os manuscritos dessa mensagem dita espiritual.

PRIMEIRA MENSAGEM ATRIBUÍDA A JAIR PRESENTE, APÓS SEU FALECIMENTO

Data: 15 de março de 1974.

"Meu pai, minha mãe, minha querida Sueli, peço-lhes calma, coragem.

Não estou em situação infeliz, mas sofro muito com a atitude de casa. Auxiliem-me. É tudo, por agora, o que lhes posso dizer. Tenho a mente nublada. Consigo entender muito pouco aquilo que se passa em torno de mim. As lágrimas dos meus queridos me prendem.

Que há, meu Deus?
Não pensem que desapareci para sempre. Estarei, porém, com vocês na condição em que estiverem comigo.

Fortes, me fortalecerão. Desanimados, me farão esmorecer.
É muita coisa para observar, entretanto não posso ainda. Creio apenas que perder o corpo mais pesado não é desvencilhar-se do peso de nossas emoções e pensamentos, quando nossos pensamentos e emoções jazem nas sombras da angústia.

Eu encontrei muito amparo, mas a não ser o meu avô Basso(1), a quem me ligo pelo coração, não tenho ainda memória para funcionar aqui; minha faculdade de lembrar está com vocês, assim à maneira de um balão escravizado. Ajudem-me. Preciso ver e ouvir aqui para retomar-me como sou.

As vozes de casa chegam ao meu coração e, como se continuássemos juntos, vejo-os no quarto, guardando-me as lembranças como se devesse chegar a qualquer instante.

E o meu pensamento não sai de onde me prendem. Agradeço, sim, o amor em suas lágrimas. Agradeço o carinho em suas preces, mas venho pedir-lhes para viverem. Viverem! E viverem felizes, porque assim também serei feliz.

Esqueçam o que sucedeu, ninguém me prejudicou, ninguém teve culpa.

Mal sabia eu que um passeio domingueiro era o fim da resistência física.

O coração parou, ao modo de um motor de que não se descobre imediatamente o defeito.

Sou eu quem deu tanto trabalho aos amigos. Notei quando me chamavam, quando me abraçavam, massageavam e me faziam quase respirar sem conseguir.

Agradeço por tudo. Depois foi o sono, um sono profundo, do qual acordei para chorar com o pranto de meus pais e de meus afetos mais queridos.

Sueli, acalme-se e auxilie os pais queridos.
Nada de lamentações e reclamações.

Deixei o corpo num domingo sem extravagâncias quaisquer.
Há quem pense em drogas, quando se deixa a vida física assim qual me sucedeu. Mas não havia drogas, nem abuso da véspera. Estávamos sóbrios e brincávamos à maneira de pássaros descuidados.

Em qualquer lugar, que me achasse, a queda de forças seria a mesma.

Estou saudoso de tudo, dos familiares queridos, dos companheiros, dos estudos e das aulas; entretanto espero sarar e refazer-me. Para isso você, meu querido pai, e você, querida mãezinha, são as alavancas de que preciso para me levantar.

Aqui comigo estão o meu avô Basso e um coração de benfeitora a quem chamo Irmã Elvira(2). Estou bem, mas é preciso melhorar.
Encaremos a vida como deve ser a vida perante Deus e esperemos o futuro melhor.

Creiam que estou fazendo muita força para não acovardar-me.
Não posso aumentar-lhes os sofrimentos.

Agora, é o momento de pensarmos na fé, na fé viva, que nos ergue o pensamento para a Vida Maior. Abençoem-me e ajudem-me.
Lembrem-me estudando e não morto, porque a vida não admite a morte. Por hoje nada mais consigo escrever.

A garganta, como se eu fosse falar, está constrangida, e as lágrimas estão contidas a ponto de rebentar. Quero confiar em Deus e em vocês e por isso termino com um abraço, deixando aqui a vocês aquele beijo de todos os dias, rogando a Deus para que nos fortaleça e nos abençoe.

Jair Presente (sic)"

MENSAGEM ATRIBUÍDA A JAIR PRESENTE

Data: 25 de agosto de 1974

"Oi, Gente! Vocês aí, vocês mesmo, entocados nos bancos. Papai, minha mãe, Sueli, Carlos, Sérgio, Wilson e conexos.

Não coloquem a imagem desta mensagem no gibi de ensinar; isso é conversa de casa, fora da prensa de imprensa. Se eu não garanto já o jamegão aqui deste modo, vocês estarão aí de olho cumprido e de espírito jururu. É duro isto, mas não fiquem matutando, encucados na ideia de que vou continuar assim; gíria não dá para nós, os que varamos o rio da mudança. Pedi favor para escrever assim, só para mostrar prá vocês que estou vivo, vivinho mesmo.

E quero dizer a meu pai que não fique de pensamento vidrado nas águas; se dei uma de peixe foi para nadar melhor. Fico abilolado quando meu pai começa a embarafustar na lembrança de Praia Azul. Papai tenha paciência. Voltei como vim. Não sabemos como é isso, não. Vamos deixar isso prá lá. Deus sabe tudo e em nossa moringa cabe somente alguma coisa.      Estou bem, estou melhorando, mas vou largar esse negócio de palavras giradas. Já saí da bananosa, começo a compreender que preciso educar meus impulsos. Educar impulsos é qualquer coisa de progresso. 

Não me lembro de haver dito isso, apesar dos livrocas que andei consultando. Isso quer dizer que já não me vejo com trutas que largam os deveres de mão para alfinetar o tempo e acabar com as horas.
Vocês aí!...Carlos que tu tás pensando? Não fique parado, não, depois de saber que o negócio não termina ali no meio das estátuas. Olhe rapaz, os dias vão correndo... Quando puder acompanhe minha mãe para dar serviço no serviço do bem.    Aqueles amizades nas panelas de sopa estão certos e os caras que somos nós, quando longe deles, é que ficamos nas risadas do já era. Trabalhar, meu amigo, trabalhar pelos outros.

Sempre acreditei que mendicância seria preguiça, conversa mole, mas o problema é diferente. Se temos de mudar qualquer coisa, temos de começar mudando a nós mesmos. E só existe uma transformação que vale a pena: ajudar os que precisam mais do que nós para que larguem de precisar.

Você e Sérgio, venham também.

Wilson anda arrepiado num medo fora de série, mas já veio. Está batucando sem passar por cima da verdade. O moço está querendo mesmo transar diferente. Muitas vezes ele me sente perfeitinho junto dele, mas e a paúra? Ele diz que deseja me ver, mas se eu pintar mesmo diante de vocês, já sei que sairão pirandelando por aí. Não conte com isso, não. Essa de parecer fantasma já era mesmo.
Só aqueles caras gamados com casa e comida é que ficam aí, às vezes, até procurando esquecer tudo com umas e outras. Mas vocês já sabem. Essa de pinga não cola.

Gostamos da vida e fomos irmãos de alegria e de esperança; no entanto, nada sabemos de trampar com essa ou aquela prisa. Fomos e somos rapazes decentes e porque largamos cabelos nas caras para não ficarmos caretas, isso não é motivo para sermos espíritos adoidados, querendo o que não se deve querer.

Wilson, tu tás abilolado a toa. Não pense que tudo aqui seja concedido de mão beijada. Prato feito acabou. Mentira não vale. Toda conquista pede tempo e suor, creio que mais suor do que tempo.
Mediunidade é transmissão. Tarei na onda certa? Creio que sim, embora não tenha as palavras para explicar. Vocês agora aí tão interessados em comunicação, saibam disto: cada um dá o que tem. Isto pode ser de coisa passada, mas é muito válido.

A gente aproxima do médium e quer falar, e aí temos de güentar o assunto, porque só falamos em dupla; o médium quando não tem muito exercício nos passa prá trás e fala na frente. Vocês ficam parados na fachada e esquecem a faixa em que nos achamos. Por isso, Wilson, é que nestes casos que hoje vemos é melhor que a cuca não fique botando banca. É hora do coração conversar. Não quero que você esteja santo, mas também não desejo que você fique esperto demais. Nem anjo, nem gato. Fique você mesmo e observe que a crista do problema é auxiliar outros para sermos auxiliados. Hoje vivo partindo para essas novas atitudes que me façam mais útil. Viver bem para encontrar o bem e ser melhor.

Se a gente morresse mesmo, era só seguir entre a preguiça e a rede; no entanto, a morte é uma passagem que parece aquela porta dos contos de fadas. Vocês abraçam a gente movimentando gritos e lágrimas e o cara não consegue falar bolacha. Estamos encantados pela bruxa que não se vê, mas posso dizer que é uma bruxa inofensiva, porque nem a vemos de leve. A morte chega e decerto bate aquela varinha em nossa cabeça; a gente dorme, acorda com vocês chamando e chamando, e aos poucos saímos do barro ou da pedra. O negócio é isso.

Quero que ocês todos fiquem aí até que o mofo espante vocês do saco de pele e ossos; peço a Deus que todos se arrastem de velhos, mas eu não sei se isso vai acontecer. De qualquer modo preparem-se, para vir algum dia. E saibam que só temos aqui o que damos e só sabemos o que colocamos por dentro de nós.

Em negócio de sexy, fiquem acesos para pensar melhor. Não brinquem com fogo, que o fogo nesse assunto queima muito mais do lado de cá.

O que vocês prometem cumpram.

E o que fizerem no campo dos tratos saibam tratar, porque o amor é uma luz que não aparece em querosene de papagaiadas de conversa furada.

Estão abrindo a boca perto de mim, creio que os amigos estão cansados. Já escrevi muito. E se continuasse, o papel necessário, não está apontado no gibi. Vocês não se impressionem com o que digo. Vivam corretos e tarão certos. Não dou para ensinar porque não sou santo. Desculpem.
Mamãe e papai, concedam aí uma bênçãos ao filho agradecido.

Sueli, acertemos tudo no coração para fazer o bem. 

Vocês, meus cupinchas, não fiquem rindo, não. Coloquemos a cuca para jambrar e busquemos o que estiver certo; Carlos, Sérgio, Wilson e nossa amiga, favoreçam este espírito de rapaz supostamente afogado com os pensamentos bons, com o que puderem dar aí para mim; vou melhorar, estou caminhando e caminhando para frente.

Hoje, escrevi adoidadamente, mas voltarei com siso e juízo. Não posso empregar palavras mais fortes neste tchau e é preciso acabar esta carta antes da matina. 

Recebam o maior abraço da paróquia.

Falei mas não sei se disse.

Jair (sic)"

NOSSA CONCLUSÃO

Temos que admitir, só a partir dessa observação, que Jair Presente NÃO escreveu tais mensagens, uma vez que não poderia apresentar contradições tão gritantes de uma mensagem e outra, nem mudanças de comportamento excessivamente bruscas num espaço de cinco meses.

As coincidências de dados verificadas nas supostas mensagens espirituais e na finada vida pessoal do jovem não indicam em si veracidade, e pode mesmo ser que, através de entrevistas ou mesmo por conversas informais, os clientes de Chico Xavier teriam fornecido informações sutis que tornaram o pastiche "mediúnico" bastante sofisticado.

É certo que esta tese é considerada "absurda" pelos seguidores de Xavier, mas o próprio Chico, em cartas ao então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, divulgadas fartamente por Suely Caldas Schubert, também revelaram que Parnaso do Além-Túmulo foi escrito por uma equipe de editores, outra tese também considerada "absurda".

Infelizmente, não temos visibilidade para divulgarmos esse parecer no sentido de contestar, diante do grande público e da comunidade acadêmica, a veracidade da mensagem, não podendo, portanto, impedir que prevaleça a tese favorável a Chico Xavier. Dessa feita, Jair Presente acaba sendo creditado como autor espiritual de mensagens das quais ele nem de longe cogitou escrever.

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