sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Jean-Baptiste Roustaing, a base do "movimento espírita" brasileiro


As supostas profecias de Francisco Cândido Xavier sobre a humanidade depois de 2019 revelam que a figura "incômoda" de Jean-Baptiste Roustaing continua firme e forte governando nos bastidores do "movimento espírita" brasileiro.

Antes que alguém pergunte quem foi o tal de Roustaing, vamos fazer um ligeiro relato sobre este advogado francês, que viveu entre 1805 e 1879 e havia sido responsável pelo livro Os Quatro Evangelhos, escrito a partir de informações mediúnicas trazidas por uma única pessoa, a aristocrata Emile Collignon.

Supostamente atribuído aos quatro evangelistas - João, Lucas, Mateus e Marcos - mais personalidades como Moisés, Os Quatro Evangelhos, divididos em três volumes (a edição brasileira da Federação "Espírita" Brasileira dividiu em quatro), o livro, embora tivesse recebido relativos elogios de Allan Kardec, foi por este severamente criticado.

Kardec identificou em parte do texto algumas semelhanças ao que o pedagogo de Lyon escreveu em livros como O Livro dos Espíritos e O Evangelho Segundo o Espiritismo, mas a obra de Roustaing era criticada pelo fato de ser um livro cansativo e cujo trabalho se utilizou de uma única médium.

Diante da precariedade de recursos para comunicação com os espíritos falecidos, Kardec recomendava, com seu Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos (CUEE), que todo trabalho mediúnico se fizesse consultando médiuns diferentes, que vivessem distantes entre si e não tivessem qualquer tipo de ligação uns com os outros.

Roustaing, porém, fez o trabalho com apenas uma médium e aceitou que os supostos espíritos que haviam se manifestado por intermédio de madame Collignon teriam sido mesmo os dos quatro evangelistas e outros profestas dos tempos bíblicos.

O advogado não gostou das críticas feitas educadamente pelo pedagogo de Lyon e tornou-se seu desafeto. Escreveu artigos atacando violentamente Kardec, chamando-o de "preconceituoso" e "ultrapassado", se aproveitando da desmerecida decadência que o professor Rivail (sobrenome de batismo de Kardec) sofreu diante da reviravolta católica na política francesa.

Enquanto isso, Roustaing era visto como "mais moderno" e havia se introduzido no Brasil quase que juntamente com as obras de Kardec, e Os Quatro Evangelhos caíram como luva quando o nascente "movimento espírita", ainda antes da FEB e através de figuras como Luiz Olímpio Teles de Menezes, na Bahia, surgiu discriminado pela Igreja Católica.

A partir dessa época, o "espiritismo" passava a se moldar de forma a não causar ruptura com os dogmas e valores católicos, desenvolvendo uma adaptação doutrinária que encontra seu auge nos dias de hoje, quando o "espiritismo" brasileiro se perde em pregações religiosas e de cunho moralista, incapaz de levar adiante as lições de Allan Kardec.

Roustaing tinha todos esses valores nos volumes de seu livro. Ele, no entanto, causou polêmica em duas ideias radicais, uma que descrevia que Jesus não teve corpo físico, e outra, que os humanos podeiram reencarnar em animais irracionais, plantas e até vermes.

Na primeira tese, Roustaing descrevia que Jesus tinha um corpo fluídico, nascido de uma Maria que nunca havia perdido a virgindade (tese surreal defendida radicalmente pelo Catolicismo), e, portanto, não teria sofrido as dores que sofreu na cruz, fingindo sofrer realmente a dor que nunca chegou a sentir.

Na segunda tese, os humanos que falhassem na evolução moral poderiam retroceder, reencarnando como animais, plantas ou mesmo vermes, havendo o caso dos "criptógamos carnudos", que seriam protozoários, insetos ou mesmo simples vermes que portariam almas de humanos falidos.

As duas teses carecem de lógica e criaram uma polêmica grave que criou problemas para a expansão do roustanguismo na França e no resto do mundo, principalmente o Brasil. Mas seu "profetismo" e suas pregações moralistas criaram bases sólidas para o "movimento espírita" brasileiro e inspiram, até hoje, os ideais defendidos pela FEB e por entidades ou pessoas dissidentes, mas afins à federação.

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