segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Livro de Chico Xavier e "André Luiz" mostra conceito roustanguista de Zoantropia


Um livro de Francisco Cândido Xavier mostra claramente um conceito trazido pela obra Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing. O livro Libertação, de 1949, da "série André Luiz", que narra supostas colônias espirituais e supostos umbrais, a partir do drama de uma rebelião de "espíritos das trevas" reunidos numa entidade chamada "Dragões do Mal", é descrita uma punição já trazida pela obra de Roustaing. A obra é uma espécie de ficção científica de qualidade menor.

Ela consiste na Zoantropia, descrita no livro, não exatamente com esta palavra, mas pela descrição de formas animalescas que espíritos condenados incorporavam em seu perispírito, como o caso de uma senhora que em encarnação precedente cometeu duplo homicídio e depois suicídio. As formas animalescas foram descritas de forma repugnante, como na alegoria de demônios nas antigas ilustrações medievais. Vejam um trecho, extraído da página 84, no capítulo 12:

"Impressionado com a lição que recebíamos, contemplei a paisagem ao redor, cotejando-a com a da câmara em que Margarida experimentava aflição e tortura. Os impedimentos aqui eram muito mais difíceis de vencer. O cubículo transbordava imundície. Nas celas contíguas, entidades de repugnante aspecto se arrastavam a esmo. Mostravam algumas características animalescas, de pasmar. A atmosfera para nós se fizera sufocante, saturada de nuvens de substâncias escuras, formadas pelos pensamentos em desequilíbrio de encarnados e desencarnados que perambulavam no local, em deplorável posição.

Confrontando as situações, monologava mentalmente: por que motivo singular não operara nosso orientador no quarto da simpática senhora, que amava por filha espiritual, para entregar-se, ali, sem reservas, ao trabalho de assistência cristã? Vendo-lhe, porém, a solicitude na solução do problema
afetivo que atormentava o adversário, entendi, pouco a pouco, através da ação do mentor magnânimo, a beleza emocionante e sublime do ensinamento evangélico: 'Ama o teu inimigo, ora por aqueles que te perseguem e caluniam, perdoa setenta vezes sete'".

Note-se sempre o mesmo apelo "científico" que se encerra com um apelo igrejista. É praxe no "espiritismo" brasileiro: há, seja em trechos de livros, em livros inteiros ou em palestras e artigos, toda uma verborragia que evoca tendenciosamente fatos e personagens científicos, ou descrições supostamente científicas, e no final há sempre apelos igrejeiros de "fraternidade", "perdão" e "caridade", dentro de uma perspectiva análoga à da Igreja Católica.

É, portanto, um trecho que revela o quanto a obra é inspirada em Os Quatro Evangelhos de Roustaing, pela forma com que se fala das condenações humanas - Kardec refutava o o punitivismo na natureza das reencarnações - e pelo igrejismo em que se recorre para a "salvação humana".

SUPOSTO ESPÍRITO EM FORMA ANIMALESCA, QUE O ANTIGO ASSISTENTE DE WALDO VIEIRA, WAGNER BORGES, DISSE TER REGISTRADO EM CÂMERA.

COLABORAÇÃO DE WALDO VIEIRA

Nas obras de Chico Xavier, observa-se certas "parcerias" que desmontam a veracidade mediúnica. No caso de "Humberto de Campos / Irmão X", observa-se que os livros foram quase todos escritos, a quatro mãos, por Chico Xavier e Antônio Wantuil de Freitas, presidente da FEB.

No caso de "André Luiz", o que vemos é que, depois dos primeiros trabalhos terem sido feitos por Chico e Wantuil, sendo Nosso Lar embasado na tradução em português, já publicada na FEB, de A Vida Além do Véu (Life Beyond the Veil), do reverendo inglês George Vale Owen, a colaboração de Waldo Vieira, antes possivelmente limitada a sugestões, tornou-se mais tarde co-autoral.

Observa-se que George V. Owen publicou A Vida Além do Véu em mais de um volume, o que indica uma certa semelhança com o livro de Roustaing. Suposta psicografia, trazida não por um católico mas por um protestante, também revela uma interpretação da temática espírita através de paixões religiosas terrenas.

Neste caso, Chico Xavier preferiu fazer diferente, colocando suas "séries" e outros livros atribuídos a outros autores espirituais. Consta-se que, dos anos 1970 até o fim, as atividades bibliográficas de Chico Xavier tenham sido mais raras e que boa parte dos livros, dessa época, que levam o seu nome não tiveram sua participação em uma única vírgula, sendo apenas trabalhos feitos por editores da FEB nos quais Chico apenas avaliava rapidamente e aprovava.

Voltando ao caso "André Luiz", Libertação já mostra Waldo Vieira como colaborador, com o tema da Zoantropia mais tarde inserido na Conscienciologia e Projeciologia, seita criada por Waldo depois que rompeu com Chico Xavier, devido ao escândalo da fraude de Otília Diogo, a ilusionista que se passava pela irmã Josefa e outros supostos espíritos materializados. É provável que o livro ...E a Vida Continua já não tenha os dedos de Waldo nem Wantuil (já doente), mas de Chico e editores da FEB.

Um ex-colaborador de Waldo Vieira, o "médium" carioca Wagner Borges, havia filmado um suposto espírito tomado de Zoantropia, ou seja, apresentando formas animalescas, o que pode dar indícios de fraude. Não há uma tese científica que pode indicar tal existência e mesmo abordagens ufológicas, quando atribuem tais seres a "extra-terrestres", são ainda bastante especulativas.

Não é impossível, no entanto, que esse "ser" seja, na verdade, alguém fantasiado - usando alguma máscara nos olhos com efeito fosforescente e usando umas asas de fantasia carnavalesca - , que corre num cenário noturno de relva diante de filmagens de baixa resolução. Com a "escola" que se tem do "espiritismo" deturpador e fraudulento, tudo se pode esperar em mentiras e armações.

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