quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
Brasil, retrocessos e 'cyberbullying'
O Brasil vive um contexto em que os detentores de práticas reacionárias de todo tipo, dos políticos envolvidos com o governo Michel Temer (inclusive o próprio presidente) aos valentões da Internet, chamados de cyberbullies, se acham no pleno controle de seus atos mesquinhos, achando que, à menor adversidade, podem dar a volta por cima e até cometer represálias.
Isso é muito preocupante, sobretudo num cenário de estabilidade forçada em que o jogo de interesses tudo faz para fazer prevalecer e permanecer um sistema de privilégios de poder e de valores conservadores ou retrógrados em que seus detentores parecem gozar de imunidade e impunidade.
Escândalos graves ocorrem, confusões e impasses atingem tais pessoas, e tudo depois é abafado ou atenuado com a blindagem garantida pela ilusão que varia desde a posição social, a brecha das leis e a própria privacidade da aparente segurança no lar.
No caso do cyberbullying, isso faz de seu praticante um pretenso "rei" da Internet. Ele comanda campanhas de ataque contra alguém que simboliza um ponto de vista ou mesmo uma posição social ou etnia que não corresponde ao que ele gosta. Através de uma comunidade na qual ele participa, qualquer uma - pode ser "Eu Odeio Acordar Cedo", "Eu Curto Sertanejo" ou "Eu Estou com a Galera na Balada" - ele chama outros membros associados para participar de uma humilhação.
É aí que, por exemplo, espaços de recados da vítima viram falsos chats em que primeiro são escritos comentários irônicos, que depois "evoluem" para ofensas e agressões para terminar com ameaças de morte ou coisa parecida.
Não obstante, o líder de tais agressões organiza um blogue ofensivo, no qual usurpa o acervo pessoal da vítima - como textos de blogues ou fotos pessoais - para reproduzi-los indevidamente para fins de calúnia e difamação, escrevendo comentários ofensivos ou fazendo paródias com fim claramente depreciativo.
A ilusão da impunidade faz com que o agressor, quando é denunciado por tal página ofensiva, reaja ainda com gozações, e, sabendo do endereço da vítima, visita a cidade desta para fazer ameaças, pouco se importando se sua valentia-ostentação desperte a desconfiança de milicianos ou traficantes que fazem ponto no local e confundem o cyberbully com um membro de uma quadrilha rival.
Crente de que pode tudo, o valentão digital mantém no seu ciclo vicioso. Cria textos de ofensa, é criticado e denunciado com isso, e reage com mais textos de ofensa. Quando denunciado com mais intensidade, vai para a cidade da vítima fazer ameaças. e fica repetindo tudo como num disco riscado.
Estamos acostumados a achar e admitir que mudanças só tendem para o pior e tragédias e fracassos são sempre para pessoas humanistas e de visão mais progressista. O Brasil tem o vício de puxar as coisas para trás, proteger valores ultraconservadores ainda que sob o preço do sangue alheio. E garantir abusos de pessoas dotadas de algum privilégio ou influência social.
Hoje esses valores estão em crise e são essas pessoas que surtam. Mais do que propagadores do ódio e praticantes de desordens nas redes sociais, os cyberbullies são "patrulheiros" de valores antiquados ou pré-estabelecidos, que correm o risco de soar obsoletos por causa das campanhas na Internet.
Daí que páginas ofensivas atingem porta-vozes de causas humanistas ou de visões questionadoras sobre o "estabelecido". enquanto os agressores acham que estão protegidos. A verdade é que isso exige que as leis devam ser revistas, criando punições duras na Internet.
Tudo isso tem que ser feito não para reprimir aqueles que trazem informações que vão contra dados oficiais e nem sempre verídicos ou transparentes, mas para intimidar quem realmente queira depreciar e ofender quem discorda do "estabelecido", mesmo usando como pretexto alegações morais ou criem farsas como parodiar e depois criar falsas denúncias contra a blogueira Lola Aronovich.
A verdade, também, é que muitos dos cyberbullies são empresários, políticos, celebridades, busólogos, membros de fãs-clubes de ídolos popularescos, produtores de rádios, filhos de advogados e juristas, entre outros de alguma forma ou de outra alinhados com o esquema de poder. Alguma coisa tem que ser feita para dar um freio a esses abusos, pois as pessoas detentoras de alto status social já estão indo longe demais com seus interesses e opiniões retrógrados.
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