segunda-feira, 14 de novembro de 2016
"Espiritismo" envergonharia Allan Kardec e Jesus de Nazaré
O velho igrejismo "espírita", trazido pelos seus palestrantes, verdadeiros mercadores das belas palavras, insiste e persiste como se isso fosse o "trabalho do bem". Demonstra cada vez mais o vínculo com a Teologia do Sofrimento, a "pedra do sapato" que gruda nos pés dos "espíritas" comprometidos com a postura dúbia, de bajular Allan Kardec e praticar o igrejismo.
As mensagens "fraternais" são de um igrejismo católico quase explícito, se não fossem dispensadas a batina, as decorações a ouro, as pompas sacerdotais e o senta-e-levanta das missas. Muito fácil promover o desfile das palavras lindas, como se mendigasse fraternidade e teorizasse demais a bondade e a caridade, mas tudo isso é um esforço vão, uma perda de tempo.
Afinal, minutos e minutos se perdem, longos parágrafos se alongam nas divagações sobre "bondade" e "caridade", que mais parecem um emprego de palavras bonitas e bem organizadas a serviço do comércio de livros religiosos. Divagações prolongadas e súplicas chorosas, diante de palavras que cheiram a flores da natureza, não condizem diante da prática do cotidiano caótico em que vivemos.
É vergonhoso ver o "espiritismo" tão perdido nesse jogo duplo, em que de um lado se bajula Allan Kardec, de outro se pratica o igrejismo católico de origem roustanguista. Num país que esconde farsantes por debaixo do tapete, mas se aproveita as ideias retrógradas por ele difundidas, faz sentido a persistência dessa tendência dúbia que norteia o "movimento espírita" e desnorteia o legado do professor lionês.
Um dado exemplo desta postura dúbia é o lançamento do livro Um Sacerdote Espírita - Reflexões Sobre Padre Germano, de Orson Peter Carrara, se referindo a um sacerdote espanhol que teria sido "mentor" da espanhola Amália Domingos Soler, "espírita" de origem católica de meados do século XIX, num tempo em que Allan Kardec já havia falecido e seu legado diluído gradualmente para a catolicização.
Padre Germano foi portanto um suposto espírito católico que apareceu para divulgar mensagens "fraternais". Teria sido um dos primeiros "mentores" católicos a influir na prevalência do "espíritismo místico", em detrimento do cientificismo kardeciano. Germano teria sido também "psicografado" por Francisco Cândido Xavier, em 1932.
Carrara exalta a data de lançamento do livro, 03 de outubro, aniversário de Allan Kardec, dentro da tendência do "movimento espírita" em ficar cismando demais com datas. A data de lançamento é pura coincidência e teria sido até proposital, mas não influi muito até porque o "espiritismo" professado por Carrara é muito distante do originalmente professado por Kardec.
Mas há o chamado "jeitinho brasileiro" e Allan Kardec é servido aos brasileiros em duas traduções igrejistas: a de Guillon Ribeiro da FEB e a de Salvador Gentile, da IDE. São traduções que traem em muitos aspectos o pensamento racional de Kardec e exageram nas referências religiosas descritas pelo pedagogo francês, na prática transformado em um "padre" por essas traduções igrejistas tendenciosas.
É vergonhoso como palestrantes "espíritas" chegam a citar Erasto, de maneira bastante oportunista, pois o espírito do discípulo de Paulo de Tarso se manifestou, nos tempos de Allan Kardec, para prenunciar a farsa que é justamente praticada por aqueles que babam o ovo por Kardec, Erasto e outros que avisaram sobre a deturpação que os inimigos internos do Espiritismo promovem hoje.
Eles avisaram e ninguém deu ouvidos. Cria-se uma desordem doutrinária, cheia de fraudes grosseiras, cheia de pregações moralistas constrangedoras, cheia de aberrações que ofendem a lógica e bom senso, mas que se apoiam nos pretextos de "amor e bondade" que Erasto preveniu, alertando que o amor ao próximo não pode servir de pretexto para tamanhas e tão escandalosas desonestidades.
O "rouba mas faz" do "movimento espírita", consagrado por Chico Xavier, com supostas psicografias que destoam dos estilos originais dos autores falecidos alegados, não pode ser aceito sob a desculpa do "amor ao próximo" nem das "mensagens de amor", do contrário transformaremos a humanidade numa bagunça de falsificadores e bandidos "bondosos".
Imagine um sequestrador imitando um filho, durante um trote telefônico, com um falsete que consegue enganar muita gente, falando em "palavras de amor", "apelos para a paz" etc. Alguém seria feliz por ser enganado através de "mensagens de amor"?
Mas infelizmente o papo do internauta médio é esse: "ah, pouco importa a autenticidade, a abordagem espírita, o que importa é o amor e a caridade, o trabalho pelo próximo". Essa visão um tanto ingênua e tola permite que desonestidades doutrinárias sejam realizadas impunemente sob o pretexto da "caridade", o que faz o amor ser tido como cúmplice de qualquer desonestidade.
O "espiritismo" envergonharia Allan Kardec e Jesus de Nazaré, se eles conhecessem o "movimento espírita" brasileiro. Jesus ficaria indignado com os mercadores das "belas palavras" e provavelmente teria dito: "Para que tanto tempo, tantos livros e tantas palestras só sobre o amor? Querem transformar a ideia da bondade numa mercadoria?".
Kardec iria dizer algo próximo ao que disse sobre Roustaing: "É certo que Chico Xavier e Divaldo Franco falam de coisas positivas e agradáveis, mas torna-se duvidosa a validade de suas pregações, pela presença de ideias sem nexo e desprovidas de coerência lógica".
Os "espíritas" fazem ouvidos de mercador em relação a isso. Acham que Jesus e Kardec topariam qualquer parada, aceitariam tudo como cornos-mansos, aceitando deturpações de seu pensamento. Jesus, então, foi o que mais foi deturpado, sobretudo pelo Catolicismo medieval e por outras seitas dissidentes e derivadas, muitos anos antes de Kardec.
Mas a verdade é que o "movimento espírita" tornou-se vergonhoso, pelo seu roustanguismo que hoje não é devidamente assumido. É uma teia de desonestidades doutrinárias para as quais a alegação de "trabalho pelo amor ao próximo" é uma desculpa para que mistificações e deturpações ocorram impunemente.
É estarrecedor que pessoas no Brasil insistam, com arrogante persistência, na ideia falaciosa de que "não importa a forma como o Espiritismo está sendo feita, o que importa é o trabalho de amor, a dedicação ao próximo, a caridade, a bondade, a misericórdia", uma alegação que encanta muita gente pelo sedutor espetáculo de palavras belas e envolventes.
No entanto, Erasto preveniu sobre o caráter traiçoeiro dessa ideia que é difundida como "verdade absoluta" e que, no Brasil, faz prevalecer o sutil conceito da bondade como supostamente acima de qualquer honestidade ou desonestidade nas atividades "espíritas", dando a impressão de que se pode até mentir "em nome da fraternidade".
Eis o que disse Erasto, na mensagem que Allan Kardec incluiu no Capítulo 20, Influência Moral dos Médiuns, em O Livro dos Médiuns, na consistente tradução de José Herculano Pires, que mais respeita o texto original em francês:
"Os médiuns levianos, pouco sérios, chamam, pois, os Espíritos da mesma natureza. É por isso que as suas comunicações se caracterizam pela banalidade,a frivolidade, as idéias truncadas e quase sempre muito heterodoxas, falando-se espiritualmente.(8) Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".
Essa tese derruba completamente o mito confortável do "vale-tudo" do "movimento espírita" sob a desculpa do "trabalho da fraternidade". A bondade não pode ser usada como desculpa para a desonestidade doutrinária. Não se pode enganar as pessoas em nome do bem, porque o ato de enganar já consiste num mal.
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