terça-feira, 8 de novembro de 2016

Divaldo Franco e a Escola Sem Partido


O "movimento espírita" apoia a Escola Sem Partido. Um projeto educacional que diz rejeitar a "doutrinação" da ideologia esquerdista, do pensamento crítico e da compreensão questionadora da realidade, mas que sempre acolhe a doutrinação religiosa, diante do respeito dado à formação religiosa dos alunos, que devem ser preservadas intocáveis por essa proposta.

A Escola Sem Partido, idealizada por Miguel Najib e pelo senador Magno Malta, tem origem evangélica, sendo oficialmente lançado em 2004 mas já proposto no Congresso Nacional em 1996. É um projeto que, na prática, retoma os antigos paradigmas educativos que vigoraram até o começo da década de 1950. O projeto foi acolhido pelo Ministério da Educação do governo Michel Temer e será aproveitado pela reforma do ensino médio proposta por seu governo.

Eram padrões pedagógicos em que o ensino era hierarquizado. O professor era visto como um aristocrata do saber e os alunos, submissos aprendizes de lições anódinas que serviam apenas para a vida prática dentro dos limites da sociedade conservadora. Nada de pensar criticamente o mundo, mas, quando muito, usar o raciocínio apenas para resolver cálculos matemáticos ou fórmulas de equações químicas ou físicas.

Mas muito do projeto Escola Sem Partido condiz, e muito, no pensamento do "movimento espírita". As ideias encontram afinidade no pensamento de Emmanuel e também se encaixam no projeto educacional da Mansão do Caminho, de Divaldo Franco.

O trecho a seguir, do tema Importância da Evangelização Infantil - Seara Infantil (os termos "evangelização" e "seara" são jargões católicos), Divaldo Franco se dirige à cúpula da Federação "Espírita" Brasileira, trazendo argumentos que possuem surpreendente afinidade com a Escola Sem Partido, já que as semelhanças programáticas com base nos argumentos dos defensores da ESP são impressionantemente expícitas.

Nota-se que tanto Divaldo Franco descreve a "doutrinação" no sentido religioso, tarefa que é aceita pela Escola Sem Partido, embora num discurso mais sutil. A ESP defende que crenças religiosas sejam preservadas, por mais fantasiosas que sejam. E o projeto educacional da Mansão do Caminho segue a doutrinação religiosa, ensinando coisas como as "crianças-índigo", uma analogia sutil à ideia católica da "profecia do menino Jesus".

Portanto, a "doutrinação" que se condena, nesse projeto pedagógico, é a evocação de personalidades esquerdistas - como Ernesto Che Guevara ou mesmo o ex-presidente Lula - e de novos fatores sociais, como a formação de famílias cujos pais são do mesmo sexo. Isso é visto como "doutrinação esquerdista" e "manipulação política" pelos defensores da Escola Sem Partido, que segue uma orientação mais conservadora.

Vejamos alguns trechos do manifesto de Divaldo Franco, reproduzidos da seleção feita pelo seu seguidor Orson Peter Carrera. O conteúdo das ideias de Divaldo apresenta uma contundente afinidade com a reforma educacional do governo Michel Temer e com o ideário da Escola Sem Partido que a gente até pergunta se esse projeto também não seria "espírita".

05. Existem condições mínimas para que alguém possa desempenhar a tarefa de evangelização? Quais seriam?

Não pretendemos estabelecer regras de comportamento doutrinário, que já se encontram muito bem apresentadas no corpo da Doutrina Espírita, e, em particular, na excelente página “o homem de bem” e a seguir “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec.

Não obstante, a pessoa que deseje desempenhar a tarefa de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil deve possuir conhecimento da Doutrina Espírita e boa moral como embasamento para a tarefa que pretende. Como necessidade igualmente primordial, deve ter conhecimentos de Pedagogia, Psicologia Infantil, Metodologia, sem deixar à margem o alimento do amor, indispensável em todo cometimento de valorização do homem. Aliás, a programação para a preparação de evangelizadores infanto-juvenis tem tido preocupação em oferecer esses elementos básicos nos encontros e Cursos que são ministrados periodicamente em diversas regiões do país sob a orientação da FEB.

06. Que papel cabe aos espíritas de um modo geral, isto é, àqueles que não atuam diretamente na Evangelização Espírita Infanto-Juvenil, para o crescimento e maior êxito dessa tarefa?

O de divulgar este trabalho importante, estimulando os pais para que encaminhem, quanto antes, os seus filhos à preparação e orientação evangélico-espírita, de modo a contribuírem significativamente para os resultados que todos esperamos. Da mesma forma, exemplificarem, levando os filhos às aulas hebdomadárias e mantendo, no lar, a vivência espírita, que ainda é a melhor metodologia para influenciar mentes e conduzir sentimentos.

07. Que orientação os Amigos Espirituais dariam aos pais espíritas em relação ao encaminhamento dos filhos à Escola de Evangelização dos Centros Espíritas?

Informa-me Joanna de Ângelis que, na condição de pais e orientadores, temos a preocupação de oferecer a melhor alimentação aos filhos e aos nossos educandos; favorecê-los com o melhor círculo de amigos; vesti-los de forma decente e agradável; encaminhá-los aos melhores professores, dentro da nossa renda; proporcionar-lhes o mais eficiente médico e os mais eficazes medicamentos quando estejam enfermos; conceder-lhes meios para a manutenção da vida; encaminhá-los na profissão que escolham... É natural que, também, tenhamos a preocupação maior de atendê-los com a melhor diretriz para uma vida digna e um porvir espiritual seguro, e esta rota é a Doutrina Espírita. Portanto, encaminhemo-los às Escolas de Evangelização dos Centros Espíritas, ou, do contrário, não estaremos cumprindo com as nossas obrigações.

08. Que recursos poderiam ser, ainda, acionados para expandir a tarefa de Evangelização Espírita Infanto-Juvenil?

Maior e mais constante contato entre evangelizadores e pais, a fim de os conscientizar da alta responsabilidade que a estes últimos diz respeito, pedindo ajuda e num intercâmbio frequente, já que ambos são interessados na formação moral e espiritual da criança e do jovem. Seria, também, muito válido, que os resultados da Evangelização Espírita Infanto-Juvenil fossem mais divulgados nos Centros Espíritas e se insistisse mais na colocação de que todo bem feito à infância se transforma em bênção no adulto.

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