quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

"Espiritismo" brasileiro e sua mania de vitimismo


O "espiritismo" brasileiro tem mania de triunfalismo, dando a impressão de que seus deturpadores são tão poderosos que possuem um "poder de Fênix", se recuperando facilmente de cada decadência. Como se a deturpação do legado de Allan Kardec tivesse um poder sem controle que nem as derrotas pudessem derrotar em definitivo os deturpadores.

A mania de vitimismo se manifesta de diversas maneiras. Uma é a falsa modéstia misturada com falsa autocrítica: "As críticas à nossa religião nos ajudam muito, contribuem para que possamos melhorar sempre", dizem os deturpadores, como se aquilo que eles fazem de traição aos ensinamentos de Allan Kardec fosse um ato sem propósito.

Só que eles traem, de propósito e sem o menor escrúpulo. Desvios doutrinários explícitos e gravíssimos são observados nos livros lançados por Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, e a deturpação que os dois fizeram nos livros não é um ato feito sem querer ou por acidente. O que eles fizeram não foi uma questão de "entusiasmo demais com o cristianismo" mas um plano proposital de desfigurar o legado kardeciano com Catolicismo medieval.

Chico e Divaldo não deturparam o "espiritismo" porque "se empolgaram demais" com suas origens católicas. Nada disso. Eles inseriram conceitos igrejistas de propósito, para desfazer o cientificismo kardeciano original. Os dois sempre foram ligados a J. B. Roustaing, e nos seus livros há desvios doutrinários que se chocam com os ensinamentos espíritas originais.

Criticar o "espiritismo" não consiste em querer que os deturpadores permaneçam e finjam que estão aprendendo as lições direitinho. Não adianta haver a promessa de "aprender melhor a obra de Allan Kardec", mesmo com a obrigação de interpretar corretamente suas ideias, se depois há a volta ao mais entusiasmado igrejismo, com apetite redobrado e tudo.

O "espiritismo" brasileiro está decaindo porque houve um caminho aparentemente conciliador que se revelou desastroso: a aparente coexistência de deturpadores e autênticos, na promessa de recuperação das bases kardecianas, apenas dentro dos pontos normais do Cristianismo, sem igrejismos. Só que o igrejismo não só continuou como se ampliou severamente e tudo da deturpação do Espiritismo se manteve, como muitas práticas, ritos e dogmas.

Não há como o "espiritismo" brasileiro de base roustanguista se achar triunfalista, julgando que pode sobreviver a todo tipo de crise, até mesmo no momento em que é derrotado. Os deturpadores chegaram ao ponto de se acharem acima de tudo, e acima do próprio Allan Kardec, e esperam que seus críticos recuem e corram para os braços deles em plena retratação.

Não, isso não é possível. Os deturpadores do legado kardeciano não podem estar acima da Codificação, sob a desculpa de "promover a caridade" - na verdade, uma caridade de resultados pífios - , e não podem fazer o Espiritismo autêntico ser refém da deturpação de seus próprios postulados, pois isso seria impor a supremacia do Contrassenso sobre o Bom Senso.

A crise do "espiritismo" brasileiro se torna grave pelas más escolhas cometidas. Se o "espiritismo" brasileiro se tornou conservador e não progressista, se traiu os ensinamentos kardecianos com igrejismo e tudo o mais, não há como abafar isso com relativismos inúteis.

O que se vê é que o "império dos místicos" no "movimento espírita" está ruindo de vez e todo aquele rol de dissimulações está se dissolvendo, porque hoje, apesar de vivermos um período socialmente frágil no Brasil, ainda se pode difundir ideias, diferente da ditadura militar que fez com que a deturpação do Espiritismo se reciclasse com tamanhas dissimulações.

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