quarta-feira, 26 de abril de 2017

A que interessa o "espiritismo" adotar uma postura "dúbia"?


Resolver um problema adotando, como solução, o próprio problema. É assim que os "espíritas" esperam resolver a crise, sempre apostando na ladainha de "ler melhor os livros de Allan Kardec", coisa que se faz muito há pelo menos 40 anos, sem resultado algum.

O "espiritismo" brasileiro hoje paga o preço extremamente caro de suas más escolhas. Optou pelo roustanguismo e depois se envergonhou disso, e escondeu Jean-Baptiste Roustaing debaixo do tapete, enquanto Kardec passou a ser alvo de intensa bajulação e imenso pedantismo.

Aliás, pedantismo é o que se mais usa no interior do "movimento espírita", desde que a "fase dúbia" surgiu após o fim da Era Wantuil. A evocação de personalidades não só do Espiritismo autêntico, mas cientistas, intelectuais e ativistas sérios, tornou-se um hábito oportunista e um tanto pedestre dos "espíritas", querendo se apropriar do prestígio destas personalidades que realmente deram contribuições valiosas à humanidade, mas sem ter a mesma competência deles.

As más energias que o "espiritismo" traz às pessoas, uma constatação que horroriza os "espíritas" que nunca aceitariam essa tão triste conclusão, se deve por essas más escolhas e pela progressiva dissimulação que culminou na "fase dúbia" de hoje.

Perdido entre um roustanguismo envergonhado e uma falsa recuperação dos postulados kardecianos, o "espiritismo" brasileiro se perde por tentar explicar tamanhas contradições e equívocos, pondo reputações construídas e exaltadas em grave risco.

Isso porque vários palestrantes e escritores "espíritas" chegam a adotar posturas categóricas e taxativas que depois tentam minimizar, pressionados pelas críticas. Isso contradiz a preocupação dos "espíritas" em ficar com a verdade, usando como pretexto a ligação com Deus, Jesus e Kardec.

A contradição, neste caso, se dá, por exemplo, porque um palestrante "espírita" escreveu que o sofredor tem que amar suas próprias desgraças e fingir para si mesmo que está tudo bem, e que o sofredor só tem que combater seu maior inimigo, que é ele mesmo.

Aí as pessoas reagem e o próprio palestrante, envergonhado, tenta dizer que "não foi bem assim" o que disse, desmentindo as ideias que, na véspera, afirmou de maneira taxativa. "Não, não disse para a pessoa amar o sofrimento e ser inimiga de si, mas extrair as lições do sofrer e cultivar o amor próprio desfazendo de seus vícios", diz o mesmo palestrante antes convicto, agora intimidado.

Isso mostra a falta de segurança que o "espiritismo" traz às pessoas. Não há um apoio moral consistente nem um auxílio realmente fraterno. Que amigo se espera de alguém que, ouvindo as pessoas reclamarem de tantas desgraças, diz para elas as suportarem e "tirarem bom proveito delas"?

São tantas contradições que não há como encontrar coerência e bom senso. E os piores "espíritas", do contrário que se imagina, não são os "centros" de fundo de quintal, mas pessoas "conceituadas" como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, os maiores deturpadores da Doutrina Espírita em toda sua história.

Isso porque eles já corromperam o conceito de "médium", abolindo com o sentido intermediário original. Viraram dublês de pensadores e de ativistas, numa pretensa filantropia que soa mais como propaganda para eles mesmos do que para um projeto de ajuda social definitiva. E, além disso, poucos conseguem ver o aberrante defeito do "culto à personalidade", que é a marca infeliz dos "médiuns" no Brasil.

E com tantas deturpações e distorções, a que interessa praticar o igrejismo e a "mediunidade" de faz de conta e, ao mesmo tempo, alegar "rigor absoluto" ao legado kardeciano? Alguns deturpadores do Espiritismo chegam a, cinicamente, dizer que "não existem vários espiritismos" mas "um só, o de Kardec". E eles são os que mais deturpam, exaltando Chico e Divaldo.

Que interesse tem tanta dissimulação, se, pelo menos, quando a "fase dúbia" surgiu, por volta de 1975, havia o pretexto dos deturpadores do Espiritismo tentarem agradar o espírita autêntico José Herculano Pires, fingindo cumprir o dever de aula.

Hoje, com os "espíritas" abraçados à Rede Globo e ao conservadorismo social, eles não precisam de tanto jogo de cena. Poderiam dizer que Jean-Baptiste Roustaing é "melhor" que Allan Kardec porque este "peca" pelos "excessos do pensamento científico". Criava-se um discurso, a mídia solidária fabricava consenso e todos dormiriam tranquilos com a impressão de que Os Quatro Evangelhos tem um conteúdo "mais interessante" que o dos livros kardecianos.

O problema, talvez, vem das pretensões arrivistas que sempre apelam para um pretexto vanguardista. É a mesma intenção que faz, por exemplo, o Mário Kertèsz, o ambicioso barão da mídia da Rádio Metrópole FM, ter optado por entrevistar o ex-presidente Lula, quando ele poderia ter entrevistado tucanos ou peemedebistas baianos. Isso porque Kertèsz queria se passar por "generoso" diante das esquerdas e fazer a Rádio Metrópole atrair o apoio da mídia esquerdista para depois liquidá-la.

A associação com Kardec, portanto, é que faz os roustanguistas enrustidos se projetarem. Eles se promovem às custas do prestígio intelectual do pedagogo francês, por mais que cometam sérias traições a ele. O arrivista sempre se afasta do Titanic que afunda, se uma pequena balsa salva-vidas lhe garante vantagem e promoção pessoal.

Daí as armadilhas da psique humana. Pessoas que se passam por modestas, despretensiosas e coitadas para se promoverem às custas de um movimento social mais avançado, de forma a conquistar o poder caindo de pára-quedas e se achando "donas da área". Os deturpadores do Espiritismo, no Brasil, se acham "donos de Kardec".

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