terça-feira, 4 de abril de 2017

O sentido dos gozos das "bênçãos futuras"

OS PRAZERES MUNDANOS DA TERRA SÃO BEM CONHECIDOS. MAS OS PRAZERES MUNDANOS DO "OUTRO LADO" AINDA PRECISAMOS ENTENDER.

O prestígio religioso e as paixões religiosas são armadilhas das mais terríveis. Tentações das mais traiçoeiras, elas são como armadilhas camufladas com a relva do bosque, em que o buraco onde cairá a presa é totalmente coberto para dar a impressão de inexistência.

Desta forma, tantos gozos, prazeres e luxúrias se escondem pela roupagem da simplicidade, da humildade, do espiritualismo. Quantas mensagens cruéis se escondem no balé de lindas palavras, quanto prazer pela desgraça alheia se disfarça com lindas estórias de superação, nos fazendo acreditar que é muito fácil suportar desgraças que nos fazem bater o coração com tantos sobressaltos!...

A mancenilheira, árvore linda de belíssimas folhas, com um tronco modesto mas bonito de se ver, e cujas frutas parecem maçãs e, consta-se, têm sabor delicioso, é totalmente venenosa. O risco de morte existe num simples toque em seu tronco. Comer as frutas, então, é quase certeza de infecção generalizada e mortal.

Imagine alguém falar umas frases dotadas da mais perfumada beleza, de seus lindos vocábulos, com argumentos aparentemente coerentes. Imagine o quanto belas palavras podem ferir, defendendo que devamos abrir mão de tudo, em nome do prêmio dos céus, pouco importando se desperdiçamos nossa limitada encarnação com desgraças e fracassos retumbantes. Vejamos algumas frases hipotéticas:

"Se você desenvolveu seus talentos, desenvolva outros. Se tudo dá errado, aceite as derrotas e aproveite as circunstâncias infelizes para desenvolver outras habilidades".

"Aquela garota com quem você sentiu afinidade profunda representa suas ilusões. Agradeça a circunstância dela ter se afastado de você e ter se desposado com outro homem. Aceite a outra, com a qual você não se identifica e até sente repulsa, grande oportunidade para resolver as diferenças".

"A empresa onde você trabalha é corrupta? Semeie a honestidade nela, transforme-a num lugar de solidariedade e trabalho".

"Você, mulher, apanha do marido? Tenha paciência, sorria para ele e seja gentil, para que ele possa de repente sentir alguma compaixão por você".

"Perdeu tudo na vida? Agradeça, porque você terá ganhos melhores e mais duradouros!".

Você é induzido a acreditar que esse balé de palavras lindas seja sempre benéfico e instrutivo para sua vida. Tudo parece lindo, mas quem sabe se não há juízos de valor, preconceitos, recados cruéis e sádicos por trás de palavras que parecem, à primeira vista, tão confortadoras?

Nas décadas de 1940 e 1950, fez muito sucesso um personagem de cartum chamado Amigo da Onça. Criação de Péricles Maranhão, consistia num sujeito franzino, vestido smoking branco, com cabelo engomado e bigode fininho, que sempre se comportava de maneira gentil com as pessoas que sofrem ou estão a sofrer alguma desgraça. Cada charge mostrava uma frase descontraída e simpática do Amigo da Onça, cruel com sua simpatia e palavras cordiais.

Esquecemos o quanto a religião, que precisa de uma "reserva" de sofredores para forjar caridade, usa palavras bonitas e todo um aparato de simpatia e cordialidade para forçar a aceitação da desgraça. É aquela coisa: "para inventar uma caridade, inventam-se primeiro os desgraçados".

Os "espíritas" tentam, com seu balé de palavras, dizer que "ninguém nasceu para sofrer". No primeiro instante, dizem que o sofrimento é lindo e que acumular desgraças traz bênçãos para o futuro. Depois fazem rodeios e tentam argumentar que "não é pelo prazer de sofrer" , mas pela necessidade de "entender o sofrimento", e só o fazem isso depois de receberem críticas.

Imagine o caso do governo Temer. Ele queria cortar investimentos sociais quase que por completo e teve que recuar diante da pressão popular. Mas primeiro ele expôs sua intenção de cortar investimentos e deixar as populações carentes na mão.

Fala-se muito em "bênçãos futuras", como se isso fosse um prêmio de loteria. Ninguém sabe o que é essa tal de "bênção" e o acúmulo de desgraças humanas é defendido pelos "espíritas" como se fosse uma competição visando um troféu. Os "espíritas" tanto falam em abrir mão dos gozos materiais mas eles mesmos esperam os gozos simbólicos da "pátria espiritual".

Muitos que recorrem aos "centros espíritas" para fazer tratamento reclamam do azar que acabam contraindo. E não são em "centros" de fundo de quintal, de falsas médiuns escancaradas que só se comunicam com os mortos de mentira que vestem cobertores brancos. São em casas tidas como "conceituadas", pois os erros, no "espiritismo" brasileiro, são feitos por "peixe grande", mesmo.

Muitas pessoas recorrem a esses tratamentos visando justamente obter sorte para o trabalho, abrir mão de prazeres mundanos, buscar nova orientação de vida e o que ocorre? Atraem circunstâncias infelizes, se tornam reféns dos próprios prazeres mundanos dos quais querem fugir, as únicas oportunidades vitais que conseguem segue esse triste universo.

E, para piorar, ainda contraem animosidades por nada, num pequeno e leve debate inimigos perversos surgem do nada, criando páginas ofensivas na Internet, das quais é preciso muito esforço jurídico para bani-las, e isso quando a Justiça anda corrompida, tendo um valentão como Alexandre de Moraes na corte do Supremo Tribunal Federal.

Enquanto os "espíritas" pouco se importam se os sofredores perdem encarnações inteiras com sofrimentos e desgraças que impedem até a justa ação da iniciativa, do trabalho e do esforço, machucando a paciência humana com humilhações, sobressaltos e ameaças, os próprios religiosos acham que podem reduzir o número de reencarnações necessárias para conquistar o "gozo maior" no "outro lado da vida".

Criam balés de palavras bonitas, expostas em palestras e em livros que vendem como água. Escondem a fortuna que pegam para si e só mostram as migalhas que transferirão para a "caridade". Fazem turismo espalhando a deturpação do Espiritismo e, quando entram em contato com as elites do poder e do dinheiro, não é para cobrar, mas para adular, em troca de medalhas, diplomas e outras condecorações.

Desta forma, há todo um teatrinho no qual os "espíritas" - sem excluir o "renomado" Divaldo Franco ou, em outros tempos, Chico Xavier - expõem sua linda coreografia de palavras aos públicos de elite, sob a ânsia de arrancar aplausos e posar ao lado de aristocratas nas colunas sociais. Isso em si já consiste em gozos terrenos, no qual a vaidade é uma tentação que aparece discretamente, mas com seu poder secreto ainda maior.

Diante desse mercado de palavras bonitas e atos filantrópicos de fachada, que mais servem para glorificar o benfeitor do que ajudar os necessitados - as ajudas até existem, mas são muito medíocres e sem eficiência definitiva - , vamos lembrar da lição presente em O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, na tradução de José Herculano Pires.

Nele, há uma mensagem publicada no Capítulo 20, Trabalhadores de Última Hora, no item III, "Trabalhadores do Senhor", no qual o Espírito da Verdade, em mensagem enviada por um discreto médium a serviço de Kardec, em Paris, no ano de 1862, dá um recado que poucos imaginam ter serventia justamente aos vaidosos malabaristas das palavras dóceis do "movimento espírita":

"Mas infelizes os que, por suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita, porque a tempestade chegará e eles serão levados no turbilhão! Nessa hora clamarão: 'Graça! Graça!' Mas o Senhor lhes dirá: 'Por que pedis graça, se não tivestes piedade de vossos irmãos, se vos recusastes a lhes estender as mãos, e se esmagastes o fraco em vez de o socorrer? Por que pedis graça, se procurastes a recompensa nos prazeres da Terra e na satisfação do vosso orgulho? Já recebeste a vossa recompensa, de acordo com a vossa vontade. Nada mais tendes a pedir. As recompensas celestes são para aqueles que não houverem pedido recompensas da Terra'".

Os que sofrem fazem sua parte para superar seus vícios e desenvolver novas habilidades. As confusas energias do "espiritismo" que deturpa o legado de Kardec é que não deixam, forçando os infelizes que querem deixar a superfície a seguirem a corrente que os empurrará de volta ao lugar onde querem deixar. E não raro se afogam e morrem na praia.

Mas, ainda assim, os sofredores se esforçam e um dia, ao se recusarem a aventura masoquista de seguir a corrente para se manter reféns das tentações mundanas que querem romper, terão algum benefício, trazido não pelo milagre disforme da "bênção futura", mas pelo resultado de algum raciocínio inusitado para resolver seus problemas.

Por outro lado, os "espíritas", apressados em obter o passaporte para o Céu, caprichando o máximo nas belas palavras e ações de fachada, já receberam as recompensas terrenas do prestígio religioso e conquistaram o céu imaginário das paixões religiosas. Eles que se contentem com a reputação terrena, aparentemente inabalável, de seus fanáticos seguidores, e com as ilusões que a magia do deslumbramento religioso envolve em torno de si.

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