terça-feira, 25 de outubro de 2016

Pioneiro dos 'fakes', Chico Xavier é endeusado nas redes sociais


Pioneiro dos fakes, Chico Xavier só poderia ser idolatrado nas redes sociais. É assustadora a adesão de chiquistas no YouTube e no Facebook, criando redutos de fundamentalismo religioso e deslumbramento cego que atingem níveis preocupantes.

É bom deixar claro que a suposta psicografia de Francisco Cândido Xavier consiste numa fraude por uma simples questão de observação. Afinal, nas suas obras tidas como "mediúnicas", observam-se graves irregularidades que destoam severamente dos aspectos pessoais dos falecidos, desde o estilo de escrita até a caligrafia da assinatura.

Semelhanças não justificam autenticidade, por si. Afinal, se existem cem semelhanças e, no entanto, uma única diferença contradiz a natureza pessoal do alegado espírito, não há como legitimar porque se trata de uma farsa. Como num produto pirata, por exemplo.

Daí que só mesmo o deslumbramento religioso alimentado por uma engenhosa campanha de marketing de Antônio Wantuil de Freitas e, depois, da parceria da FEB com a Rede Globo de Televisão, Chico Xavier pôde estar associado, tendenciosamente, à ideia de "bondade máxima" e "perfeição espiritual", virtudes facilmente questionáveis se observarmos os bastidores de suas atividades.

Tudo isso foi um discurso construído, manipulado, devido ao fato de que o Brasil possui uma emotividade religiosa forte, mesmo que ela se revele abertamente piegas, ultraconservadora e, outrossim, reacionária. Pois os defensores de Chico Xavier nas redes sociais se revelam altamente reacionários.

Isso influi pelo fato de que nas redes sociais o reacionarismo cresceu de forma a fazer campanha contra o governo Dilma Rousseff e permitir o retrógrado governo de Michel Temer que abrirá caminho, provavelmente, a um futuro governante do traiçoeiro PSDB, responsável por grandes desvios de dinheiro público para os cofres tucanos localizados em "paraísos fiscais" no exterior.

Os reacionários das redes sociais, chamados de "midiotas" ("midiota" é um neologismo que mistura as palavras "mídia" e "idiota"), demonstram ser pessoas subservientes com o status quo, seja ele político, acadêmico, econômico, empresarial, lúdico (fama), tecnocrático e midiático.

Eles possuem um perfil conservador que revela valores machistas, racistas e de outros preconceitos sociais. Um exemplo é defender que nerds (tipo de jovens de baixo status social) devem namorar somente mulheres siliconadas. A roupagem moderna da linguagem e do visual, além de um apetite "punk" de reagir às críticas não os faz menos reacionários, em níveis ideológicos medievais.

Vários desses reacionários usam fakes para empastelar fóruns na Internet, desmoralizar petições de abaixo-assinados, humilhar vítimas em seus perfis sociais, haquear e até criar blogues ofensivos. Uns apenas restringem seu reacionarismo a uma ação furiosa de humilhação. Outros já partem para outros crimes, como os de difamação e calúnia, entre outros crimes praticados nas redes digitais.

Os chiquistas ficam apenas na ação furiosa, mas não são raros aqueles que chegam a ameaçar e caluniar os discordantes, ou mesmo usar de ironia com palavras falsamente dóceis. Diante de um internauta que criticou o superficialismo e a pieguice das músicas "espíritas", um fundamentalista disparou: "a música do Kardec (sic) é tão doce".

Há até o famoso contraste, movido pela ilusão das aparências, entre Chico Xavier cegamente endeusado e o ex-presidente Lula cegamente hostilizado. Iludidos com a aparência do "velhinho frágil" de um e do "proletário robusto" de outro, usam das atribuições artificiais das aparências para adotar sentimentos extremados dotados de muito juízo de valor e inúmeras fantasias.

É só observar as coisas. No YouTube, existem vídeos que mostram Lula como um "grosseirão", como um "cometedor de gafes", como um "líder mafioso" e existe até um vídeo supondo que ele "ameaçou de morte" o juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato. Um monte de mentiras do mal e calúnias gratuitas, publicadas impunemente no portal de vídeos.

No mesmo portal, Chico Xavier é alvo de "mentiras do bem". Há o vídeo que de forma debiloide usa um sonho de 1969 para confirmar como "profecia" relatos de militares dos EUA que viram naves extra-terrestres anos antes, em 1964 e 1967. Uma "profecia" que "confirma" o que ocorreu antes dela!!

Mas isso é só um detalhe. A "profecia" da "data-limite" cria uma multitude de vídeos no YouTube, uma série de entrevistas que são pura perda de tempo, divagações pseudo-científicas a partir de um sonho comum, que qualquer um tem quando dorme, mas em se tratando de Chico Xavier vale a sua carteirada de ter seu devaneio onírico promovido a "profecia científica", para delírio dos incautos.

São tolices que crescem como bolas de neve, com falsas análises científicas e falsas abordagens filosóficas, criando um engodo discursivo pseudo-intelectualizado que faz com que Chico Xavier tenha uma falsa superioridade em tudo, praticamente sendo promovido a "dono da verdade absoluta" sob a aceitação bovina de seus seguidores.

Isso é muito grave e faz com que as redes sociais, antes tidas como redutos de esclarecimento e revolução social, se reduzirem a antros de fundamentalismo religioso e reacionarismo de toda espécie. Isso é muito nocivo, na medida em que as novas tecnologias se tornam instrumento do mais puro obscurantismo ideológico.

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