domingo, 23 de outubro de 2016

Dinheiro, leis e influência: o que os conservadores precisam para se manterem

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), REDE GLOBO E FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL (FMI) - Tudo o que os conservadores precisam para prevalecer na sociedade.

Por que os valores conservadores prevalecem? Por que a plutocracia não conhece infortúnios nem limitações pesadas, o que permite que religiosos que expressam os interesses elitistas sempre recomendem aos sofredores sofrerem mais e aos algozes o fiado moral que só trará sua conta em outras encarnações? Por que as elites retrógradas tentam resistir ao tempo e, quando perdem o poder, o retomam à força, mas favorecidas pelas circunstâncias?

O Brasil vive uma retomada conservadora que era impensável cinco anos atrás. Uma volta ao obscurantismo, que nas eleições para prefeito e vereador no Brasil se destacam com a vitória, no primeiro turno, do empresário João Dória Jr. para a Prefeitura de São Paulo, e de Carlos Bolsonaro, filho do ultradireitista Jair Bolsonaro, para vereador no Rio de Janeiro.

É um processo muito perigoso, porque os retrocessos sociais já estão em jogo, num país que ainda não teve as antigas feridas da ditadura militar cicatrizadas. Um país que até aceitou um cenário político mais progressista, em 2003, mas condicionado com alianças conservadoras, repetindo o hábito de acolher parcialmente o novo sem que haja ruptura com o que é velho e obsoleto.

É um terrível cacoete que existe no Brasil. Sempre que existe uma coisa inovadora, seja ela vinda de fora ou aqui implantada por gente idealista, essa novidade é deturpada de forma que se adeque aos padrões decadentes e obsoletos da tendência mais antiga. Essa tendência não é totalmente superada, sua essência está toda inserida, não necessariamente de maneira explícita, na novidade que é acolhida.

Sempre houve o acordo entre o mofo e o fungicida. O fungicida tem que agir de preferência fora do local do mofo. O cheiro de mofo tem que permanecer, ainda que de forma mais sutil. É um hábito que forças retrógradas de algum setor sempre imponham condições para uma novidade ser introduzida, sacrificando sua essência e seu poder de impacto.

No "espiritismo", isso ocorreu. A novidade de Allan Kardec foi praticamente reduzida a uma mera formalidade, quando a deturpação de Jean Baptiste Roustaing recebeu a preferência no "movimento espírita", já que as ideias de Os Quatro Evangelhos condiziam mais com a formação católica dos fundadores "espíritas" brasileiros, que se fundamentou no Catolicismo medieval trazido pelos jesuítas portugueses.

Em outras palavras, o "espiritismo" que se construiu no Brasil quase nada tem da formação iluminista do pedagogo de Lyon e seu cientificismo aberto para debates. Em vez disso, o "espiritismo" brasileiro se limitou a acolher dissidências católicas assim que o Catolicismo mundial adaptou-se às mudanças do tempo, como o crescimento das zonas urbanas e as descobertas tecnológicas.

As mudanças desagradaram os católicos que permaneceram nas suas concepções medievais, sob influência do velho Catolicismo português que foi introduzido no Brasil através da Companhia de Jesus, cujos missionários incluíram a figura do padre Manuel da Nóbrega, que o "movimento espírita" adotou, através de Francisco Cândido Xavier, sob o codinome de Emmanuel.

A frustração em relação ao cancelamento das missões da Companhia de Jesus no Brasil foi compensada quando o "espiritismo", inicialmente com um roustanguismo mais explícito - hoje ele é dissimulado - , passou a acolher espíritos de jesuítas, através do exemplo do "mentor" de Chico Xavier.

Como é de praxe, o "novo" que se condiciona pelos postulados velhos e obsoletos (mas estranhamente considerados "de muita serventia") sempre se impõe como sendo "novo", como uma casa de fachada nova que, escondendo uma construção velha e quase ruinosa, tem que se impor sempre como uma "casa nova".

E isso é que sustentou o "espiritismo", que, mesmo na sua fase recente, a tendência dúbia, que tenta caprichar no aparato de "espiritismo autêntico", bajulando Allan Kardec, usurpando Erasto e adulando personalidades científicas, pratica um igrejismo medieval entusiasmado, em muitos momentos piegas e com um misticismo acima da medida.

E por que o "espiritismo", como outras tendências conservadoras travestidas de "novas", sempre prevalecem e tentam resistir a questionamentos e oposições diversas? Com certeza, não é por méritos naturais, mas por condições que o Brasil tem de fazer prevalecer valores antiquados que, depois de uma fase progressista, voltam com apetite redobrado através do governo retrógrado de Michel Temer.

O que existe são os três pilares que a sociedade conservadora, no Brasil, possui para manter a prevalência de seus mitos, dogmas e práticas. São três recursos que fazem com que mesmo valores aberrantes e práticas escandalosas, quando associados a setores dominantes, são socialmente aceitos. Eles são:

1) DINHEIRO - Com o dinheiro, o poder das classes dominantes se recicla e consegue contornar crises e impasses, sobretudo porque uma boa grana garante prestígio e supremacia, além de garantir a atenuação das condenações criminais diversas. É também sinônimo de sucesso e mérito, bem mais do que as virtudes morais.

2) LEIS - O artifício legal socializa os abusos cometidos pelas classes dominantes, e não apenas as leis do papel, a roupagem legislativa e jurídica que conhecemos, mas também as normas sociais, mesmo as mais implícitas. Ela regula os costumes que fazem com que até quem está no lado de baixo da pirâmide social procure agir da melhor forma possível para favorecer os interesses dominantes e os valores mais conservadores.

3) INFLUÊNCIA - Muitas das "leis" sociais são propagadas, consolidadas e mantidas pela mídia, de forma sutil e até mesmo inconsciente. Isso vem pela própria prática cotidiana, pelo modo conservador de ver o mundo que cria "tradições" que veículos dominantes de comunicação transmitem para o público. É a grande mídia que lança dogmas e totens que a sociedade deve apoiar, e protege ídolos que podem não ter talento nem outros méritos naturais, mas que servem aos interesses estratégicos de entretenimento, política e outros setores das atividades humanas.

Diante disso, foi até fácil a retomada do poder pelas forças conservadoras. No âmbito do dinheiro, as classes dominantes financiaram um ativismo de fachada, feito por grupos pateticamente reacionários como Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line, líderes do que o "movimento espírita", de forma constrangedora, definiu como "começo da regeneração da humanidade" e "início do caminho de libertação do Brasil".

No âmbito das leis, a corrupção de setores do Supremo Tribunal Federal e do Ministério Público fazem com que o uso da legislação se torne parcial, tendencioso e feito ao sabor das conveniências, nem sempre favorecendo o interesse público e levando ao grau extremo a impunidade que os criminosos de colarinho branco já recebiam nos tempos da ditadura militar.

No âmbito da mídia, a Rede Globo e outros veículos, como Folha de São Paulo e a panfletária revista Veja, servem para influenciar a população no seu reacionarismo, embora até programas policialescos como Cidade Alerta (Record) e Brasil Urgente (Band) incitam o ódio com a glamourização da violência e tabloides como o carioca Meia Hora ofereçam ao público doses de sensacionalismo barato e de todo tipo de valor grotesco e aberrante.

São esses três elementos que sustentam a sociedade conservadora que se enriquece às custas do subdesenvolvimento do Brasil. É essa pequena parcela da população brasileira, beneficiada pelos ventos políticos dos últimos cinco meses, que se sente privilegiada com a postura subalterna e ainda miserável que o Brasil se mantém na comunidade das nações, com graves injustiças sociais que o "sistema" não quer que sejam combatidas de verdade. As elites ganham muito com elas.

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