CAMILA PITANGA PERDEU O AMIGO E COLEGA DE CENA DOMINGOS MONTAGNER, QUE MORREU AFOGADO DURANTE UM MERGULHO.
Estranhos fatos ocorrem. Uma atriz que havia declarado seu ateísmo e parecia não seguir religião alguma, depois que sofreu uma tragédia foi agradecer justamente a uma seita igrejista, o oposto de sua natureza, por ter sobrevivido a um acidente.
Sabe-se que Camila Pitanga, durante um intervalo de filmagem da novela Velho Chico, da Rede Globo, conversava com o amigo e colega de cena Domingos Montagner que, apesar de veterano aos 54 anos, estava em plena ascensão e com uma comédia cinematográfica em lançamento.
Foi Domingos dar um mergulho e um forte movimento das águas o fez se afogar, morrendo pouco depois, Camila ia nadar, também, mas Domingos a impediu, salvando sua vida. A morte de Domingos Montagner causou comoção nacional e o ator não viveu para gravar suas últimas cenas, que a produção da novela resolveu substituir por uma câmera subjetiva.
Lamentamos com profunda sinceridade a tragédia, já que foi um desfecho triste para um ator como Domingos Montagner, que se revelou uma grande figura humana e um excelente profissional da atuação. Tanto que a impressão de sisudez de seus personagens de novela se comprova falsa, pela constatação de que ele teve origem como palhaço de circo, tinha grande desenvoltura como ator de teatro e era muito descontraído e jovial nos bastidores.
Mesmo assim, é muito estranho Camila Pitanga, ateia e sem religião, recorrer justamente a um "centro espírita" de Abadiânia, Goiás, para falar justamente com o "médium" João de Deus, um latifundiário, um igrejista, com atividades "mediúnicas" tão duvidosas que, quando ele esteve gravemente doente, não fez cirurgia espiritual de si mesmo, mas recorreu a um hospital de elite.
"O barbeiro corta o próprio cabelo?", alega João de Deus, se esquecendo de que existem casos surpreendentes de auto-cirurgia, e mostram o quanto o "espiritismo" que se diz tão forte sempre arruma desculpa quando se fraqueja de forma vergonhosa. Há uma lista de 10 mais incríveis casos de auto-cirurgias feitas por "barbeiros" que não têm medo de "cortar o próprio cabelo".
Um dos famosos casos foi o do médico russo Leonid Rogozov, lotado em uma base na Antártica, descobriu que estava sofrendo, em 1964, de uma apendicite aguda. Ele não podia viajar para um hospital porque a apendicite poderia se romper, causando a morte, devido a variações climáticas.
Ele resolveu então fazer uma cirurgia de risco, com ajuda de um meteorologista, o motorista da equipe e os próprios assistentes do médico. A cirurgia foi bem sucedida e o médico teve duas semanas de recuperação, que foi completa a ponto do médico ter condições de trabalhar depois de então.
Camila se dirigiu à Casa Dom Ignacio de Loyola, acompanhada do pai, o ator e cineasta Antônio Pitanga. Antônio é a segunda personalidade que teve sua comemoração de uma efeméride profissional um tanto abalada pelas circunstâncias tristes de entes queridos.
Este ano, o ator e dublador Nizo Neto, filho de Chico Anysio, não pode celebrar os 30 anos do filme Curtindo a Vida Adoidado, no qual dublou o personagem-título, Ferris Bueller (interpretado por Matthew Broderick), porque perdeu o filho Ryan Brito, afogado depois de uma ingestão de ayahuasca. A ex-mulher de Nizo, a atriz Márcia Brito, recorreu a um "médium" que mandou uma suposta mensagem de Ryan, com aquele mesmo apelo religioso de sempre.
Antônio Pitanga está a comemorar, sobretudo com documentário sobre sua vida e carreira, os 55 anos de lançamento do filme Barravento, de Glauber Rocha, lançado no final de 1961 e que tinha o pai de Camila Pitanga como protagonista. Neste caso, a tragédia não foi direta, mas a filha se sentiu abalada com a morte de Domingos, com a qual estabeleceu uma relação comparável a de amigos de infância.
É estranho, portanto, que Camila tenha recorrido a um "centro espírita" e um suposto médium de trajetória irregular para agradecer o fato de ter sobrevivido. Nem precisava gastar dinheiro para tal viagem, poderia agradecer numa meditação, sem um destinatário definido. Até visitar uma igreja católica seria menos arriscado do que recorrer a uma doutrina irregular e cheia de contradições graves, que é o "espiritismo".
O grande problema é que os "centros espíritas" acabam se beneficiando com a adesão de famosos cuja visita acaba se tornando uma propaganda para a seita igrejista que adula Allan Kardec. Dentro da competição religiosa, é ótimo, para o envaidecimento dos "espíritas", acolher ateus que acabam se subordinando a uma "conversão espírita", um processo que existe, embora os "espíritas", meio "sem querer querendo", digam que nunca obrigam os outros à aderir a esta religião.
NOVELA TERIA SIDO AMALDIÇOADA?
A própria novela Velho Chico já surgiu cheia de problemas e incidentes sérios. Segundo a jornalista Fabíola Reipert, do portal R7, a novela era para ser exibida às 18 horas, com orçamento baixo, mas foi para as 21 horas por insistência do autor Benedito Ruy Barbosa. Com orçamento baixo, a exibição das 18 horas teria cortado boa parte das viagens arriscadas a lugares nas margens do Rio São Francisco.
Tanta coisa poderia ser evitada. A novela já teve seu argumento apresentado aos executivos da Globo em 2009, mas ficou engavetada. O casal protagonista nem iria ser Domingos e Camila, mas Eriberto Leão e Letícia Sabatella, que recusaram os papéis. Escolhida para substituir Letícia, Camila teve dificuldades para se acostumar ao papel na novela.
Houve desentendimentos entre o diretor Luiz Fernando Carvalho e Benedito Ruy Barbosa. O autor chegou a fazer comentários homofóbicos, dizendo que sua obra não era "novela de bicha", teve uma filha demitida da equipe por brigar com Luiz Fernando e este, vendo que a novela estava com baixíssima audiência, ainda recusou as sugestões de mudanças propostas por Sílvio de Abreu, diretor do núcleo responsável pela novela.
O estresse das gravações foi tanto que a morte de Domingos Montagner não foi a primeira perda trágica na novela. O ator Umberto Magnani, ultimamente em plena ativa e que, na novela, fez um padre, sofreu um acidente vascular cerebral e morreu pouco depois. Sua ausência foi compensada por outro personagem, outro padre interpretado por Carlos Vereza, "espírita" que havia feito o médico Adolfo Bezerra de Menezes no cinema.
O próprio trocadilho com Francisco Cândido Xavier, embora parecesse uma mera coincidência, também deve ser ao menos cogitado. Chico Xavier é muito cultuado por produtores de TV e, sobretudo, de novelas, e os próprios folhetins televisivos oferecem o padrão de narrativa usado por romances supostamente mediúnicos.
Quanto à escolha de Camila Pitanga de recorrer ao "médium" João de Deus para um simples agradecimento, é possível que tenha sido uma indicação de alguém da Globo. Uma moça que havia assumido seu ateísmo não teria feito por conta própria uma escolha de ir a um "centro espírita" em lugar distante, vendo que o "espiritismo" tem um ranço igrejeiro e deísta acentuados.
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