sexta-feira, 3 de junho de 2016
Triunfalismo, um sentimento muito perigoso
Um dos vícios mais perigosos do "movimento espírita" é o triunfalismo. A ideia de se achar vitorioso em toda derrota, de achar que todo ataque alheio é propaganda de sua causa, isso revela não um sentimento de perseverança, de humildade e esperança, mas um tipo de arrogância pessoal dos mais preocupantes.
Observando as crises do "espiritismo" brasileiro, é preocupante o sentimento de triunfalismo de seus integrantes. Eles acham que as "pedras" que "chovem" sobre eles são um tipo de propaganda em favor da causa, que os ataques são uma campanha favorável.
O próprio Chico Xavier sempre se valia dessa estratégia para se sobressair. Ele foi uma das pessoas mais astutas e espertas que o país já teve. Sua esperteza é comparável a de Eduardo Cunha hoje, só que com habilidade maior e uma vantagem: poderia se esconder pela imagem dócil de um velhinho doente e por atos de aparente bondade.
O mito de Chico Xavier se construiu passando por cima de vários escândalos, vários deles comprovadamente desfavoráveis ao "médium". A sorte é que no Brasil muitas pessoas vivem da doença infantil do deslumbramento religioso e não há jeito de derrubar a imagem, digna de contos de fadas, do "homem chamado Amor".
Um desses escândalos foi o caso dos pastiches literários. Quem tem um hábito regular de leitura e é capaz de discernir estilos pessoais de diversos escritores sabe muito bem que os livros que Chico Xavier atribuía a autores espirituais destoa severamente do que estes haviam deixado em vida.
O pior, o mais grave, é que Chico Xavier, devoto da Teologia do Sofrimento - corrente católica que faz apologia do sofrimento humano - , botou sob a responsabilidade de Auta de Souza, Humberto de Campos e outros a defesa dessa lamentável causa.
Imagine se, por exemplo, um jornalista de Veja, como Reinaldo Azevedo, criasse um texto que dissesse ter sido psicografado e, atribuindo a autoria ao político cubano Ernesto Che Guevara, inventasse que o "espírito" defendesse o livre-mercado e a privatização de tudo, até da creche pública da esquina.
O triunfalismo de Chico Xavier é tão preocupante que, volta e meia, a sua imagem de "bondoso" se recicla de maneira preocupante. É o Brasil de Michel Temer. Michel Temer "é" Chico Xavier, é Divaldo Franco. É o Brasil retrógrado travestido de moderno, como o Catolicismo medieval do "médium" é travestido de filosofia futurista.
Acham os chiquistas que todo tipo de adversidade favorece seu triunfo. Manipulam a Teologia do Sofrimento para levar vantagem. Daí que, quando atacados, se acham os maiorais, acham que todo ataque é propaganda, toda adversidade lhes traz vantagem, todo obstáculo é um novo caminho, toda derrota lhes garante a vitória.
FORMA DOENTIA DE COMPLEXO DE SUPERIORIDADE
Isso não é um sentimento de perseverança nem de esperança. Antes fosse uma arrogância, uma manifestação das mais doentias de complexo de superioridade, e isso é uma coisa tão grave que, quando alguém demonstra um sofrimento desses, é bom sentir pena e buscar algum socorro. O triunfalista não está bem da cabeça.
A arrogância se dá porque o triunfalista ignora a autocrítica, não aceita a derrota, criando um discurso que pode parecer doce como mel e sugerir uma falsa humildade e uma pretensa perseverança, mas revela um conteúdo chantagista, cruel.
A pessoa que diz se achar vitoriosa em todo tipo de derrota é, muitas vezes, aquela que não aceita ser derrotada. E a lógica mostra que é muito mais grave alguém se achar invencível quando é derrotado sempre do que aquele que vence sempre e se acha invencível.
Pelo menos o vitorioso que se acha invencível tem como atenuante a consciência de que ganha todas. Ele sabe, pelo menos, que venceu e não vê obstáculos contra ele ou, se vê, os derruba facilmente. Ele tem noção de que posição está, e é sincero na sua arrogância.
O derrotado que se acha invencível é bem pior. Combinando coitadismo e complexo de superioridade, pode revelar uma personalidade ainda mais traiçoeira e ambiciosa. E que sentimentos de vingança ou revanche podem esconder de almas que se dizem "vitoriosas a cada derrota que sofrem"?
Tiranos surgiram nessa combinação indigesta entre derrota e arrogância, e não são as doces palavras de que "as derrotas acumuladas são um triunfo que glorificará a pessoa no futuro" que farão do triunfalista uma pessoa admirável. Hitler também surgiu nesse "mar de derrotas" encaradas como se fossem "vitórias".
O "espiritismo" sofre uma grave e irrecuperável crise. Isso porque suas contradições estão sendo expostas como carne viva, como feridas que não se cicatrizam. Palestrantes "espíritas" continuam bajulando Allan Kardec e exaltando Chico Xavier sem perceber que já não convencem demais com essa atitude de confundir contradição com equilíbrio, acendendo velas a dois senhores opostos entre si.
"INDÚSTRIA DA BONDADE"
Lendo Kardec e depois lendo Xavier, observa-se que contradições sérias e extremas ocorrem. E Chico Xavier revela-se o inimigo interno da Doutrina Espírita, na medida em que ele acoberta todo esse rol de mistificações, que rebaixam o Espiritismo a um subproduto do Catolicismo medieval, com pretensas alegações de "amor" e "bondade".
Sob essa roupagem, Chico Xavier insere princípios da retrógrada Teologia do Sofrimento, de maneira explícita mas nunca oficialmente assumida pelos "espíritas". Mas é preocupante que os chiquistas tentem a todo momento reabilitar o mito desse farsante, desse estelionatário moral, que não cobrava dinheiro, mas cobrava outros preços severos à vida humana, como a conformação do sofrimento de quem sofre e o perdão que este deva ter aos mais abusivos e cruéis algozes.
Cria-se um exército de flagelados, resignados com suas desgraças, para que a "indústria da bondade" se faça, para transformar os privilegiados em "bonzinhos" ajudando os sofredores e infortunados que aguentam "qualquer parada".
A ideia é criar um teatrinho de "caridade" nos quais os sofredores têm sempre que fazer um papel de conformistas e resignados, de forma que os privilegiados possam investir no bom-mocismo, passando uma falsa impressão de que eles "são também generosos".
Por trás disso, valores moralistas retrógrados são preservados, porque a Teologia do Sofrimento sempre condena o questionamento, a contestação, a reclamação. E isso em si demonstra uma falta de humanismo.
Chico Xavier era desumano. Reprovava sempre o dom humano de questionar e reclamar, que na pré-história impulsionou a espécie humana a criar utensílios e desenvolver o Conhecimento. Desta forma, Chico Xavier expressou uma contradição grave em relação ao pensamento kardeciano.
Diante dessa contradição demolidora, continuarão os "espíritas" a se manterem triunfalistas com essa postura "dúbia" que insiste em persistir? Estão eles confiantes de que sua doutrina está acima de tudo, da lógica, da coerência, do bom senso e até da realidade?
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