O mercado de trabalho seria mais justo e teríamos menos desempregados se os empregadoes abrirem mão de parte de sua ganância econômica e dos preconceitos sociais movidos pelo status quo, pelos estereótipos e pela visão moralista do ato de estudar.
O que se observa nas instituições, sejam elas públicas ou privadas, seja no trabalho celetista - ou seja, com regras reguladas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), uma das heranças da Era Vargas - , seja no serviço público, é uma demonstração de preconceitos sutis, aliadas a uma falta de jogo de cintura para lidar com a crise econômica.
Aluguéis caros demais para lojas permanecerem mais tempo instaladas, impostos completamente injustos que cobram demais sem motivo, programas de ensino ou de estudo para concursos que estão acima da natureza das profissões, estereótipos que acabam "filtrando" demais e de forma errada o perfil "ideal" do "bom profissional", tudo isso corrompe o mercado de trabalho e se torna um problema maior do que a aparente falta de dinheiro.
O empregador exige demais, tanto que acaba concebendo um tipo de profissional fora da realidade. Durante muitos anos o mercado de trabalho insistiu em dar preferência a um tipo aberrante de um profissional ao mesmo tempo mais jovem possível e com maior experiência de trabalho também possível.
Era o mito do "veterano júnior", que complicava as coisas e forçava nos jovens uma experiência que eles não tinham naturalmente. Além disso, novos conceitos de Administração vinham denunciando esse mito como discriminador social, cujas vítimas eram pessoas com mais idade e ainda muita disposição e criatividade para se dedicarem ao trabalho.
Recentemente, veio o mito do "profissional-humorista", feito sob o pretexto de interagir no ambiente social de trabalho. O profissional comunicativo e brincalhão, não necessariamente criativo, mas correto o suficiente para desempenhar um trabalho rotineiro e eficaz, só que com diferencial de poder interagir com os colegas e estabelecer um ambiente de trabalho mais animado, tornou-se o mito da moda.
Só que mais uma vez o mercado de trabalho discrimina e não consegue achar, salvo raras exceções, um profissional ideal. O profissional ideal foge das mãos do empregador, e ele muitas vezes pode ser aquele rapaz tímido que parecia nervoso e hesitante nas entrevistas de emprego.
E, da mesma forma que as empresas não querem arriscar, contratando pessoas diferenciadas que podem até não saber tudo - como por exemplo desconhecer aplicativos de Informática usados por uma empresa - , mas tendem a ser excelentes profissionais, as organizadoras de concursos públicos também estabelecem critérios completamente equivocados.
Diante de uma visão ao mesmo tempo tecnicista e moralista do modo de estudar - moralista porque entende o ato de estudar de maneira cruelmente rigorosa, como se o saber fosse um processo acumulativo e não um modo de compreender melhor os assuntos envolvidos - , os concursos públicos também contribuem para contratarem os servidores errados.
Instituições como IBGE, INSS, universidades públicas ou mesmo o IPHAN chegam a ter concursos em que a exigência de Matemática ou Raciocínio Lógico não têm aplicação nas funções correspondentes, como assistente administrativo ou mesmo técnico em Comunicação.
Em muitos casos, a exigência desmedida de certas matérias faz com que se joguem fora os melhores servidores, "queimados" num programa de estudo torturante, em que os candidatos se concentram no que não sabem, deixam de estudar o que sabem para poupar tempo e acabam fazendo provas medíocres, eliminando a chance de aprovação.
Questões extremamente longas, com longos enunciados e alternativas prolixas, que sobrecarregam as provas num curto prazo de tempo, acabam não avaliando bem o candidato, já que há os chamados "surfistas de concursos", que sem entender direito o conteúdo do programa estudam pouco e mesmo assim passam pelos clichês ajudados por certos professores concurseiros da moda.
Dessa forma, as instituições contratam servidores medíocres, o que acaba tendo os efeitos desastrosos que conhecemos, principalmente num governo como o de Michel Temer, em que a baixa competência, a falta de caráter e a falta de entendimento das leis deixa muitos serviços a desejar.
Imagine então um concurso que exige Matemática a um técnico de Ciências Sociais do IPHAN, IBRAM ou similar? O servidor a ser contratado será um bom matemático, o que não tem a ver com a função exigida, e muito provavelmente tenderá a ser um entendedor medíocre da área em que escolheu para o serviço público.
Muitos problemas de emprego poderiam ser resolvidos se os empregadores reverem seus conceitos e verificarem seus preconceitos. Fora isso, poderia resolver os problemas financeiros com mais negociação e habilidades, dentro de uma política que possa moderar impostos, aluguéis e fazer com que empresários e burocratas tenham também que ceder, abrindo mão do excedente de dinheiro que exigem, do qual sempre tem utilidade supérflua.
É deixando de exigir o supérfluo e passando a rever os conceitos do profissional que querem que fará as empresas e instituições melhorarem o mercado de trabalho, procurando encaixar nele não as pessoas que possuem status quo e aparência atraentes, mas aqueles que podem desempenhar um bom trabalho, de maneira espontânea e criativa. O mercado de trabalho precisa se reinventar.
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