segunda-feira, 13 de junho de 2016

Jair Bolsonaro e Eduardo Cunha: dois graves perigos para a nação


Um grande mal no Brasil é a emoção subjetivista e exaltada. Tanto no lado "positivo" de endeusar Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco quanto para esculhambar o PT, as pessoas são tomadas de uma cegueira sentimental muito perigosa, que trava o raciocínio e atrofia o nível de compreensão aos níveis aberrantemente surreais.

Sabemos, no caso do "espiritismo", o quanto é perigoso o endeusamento a duas figuras ordinárias, para não dizer levianas, como Chico Xavier e Divaldo Franco, associados a velhos e duvidosos paradigmas de "bondade" e "humildade" que nunca realizaram transformação profunda e verdadeira na sociedade e nunca passou de um faz-de-conta dotado de muita pieguice.

As pessoas chegam mesmo a aceitar que nomes como Humberto de Campos e Auta de Souza sejam usurpados de maneira mais fútil, batizando até mesmo "centros espíritas" - usurpação da qual nem o médico Carlos Chagas escapa - e cujas obras "mediúnicas" a eles associadas nem de longe mostram seus estilos pessoais.

Tudo na mais absoluta impunidade. Os "espíritas" realizam verdadeiros trotes caligráficos, através das supostas cartas de entes queridos falecidos, e pessoas chegam a se comover sem perceber as fraudes escandalosas que estão por trás. Se iludem com vagas semelhanças sem saber das diferenças que derrubam qualquer indício de veracidade em tais "mediunidades".

É com esse nível míope de compreensão, baseado em paradigmas morais de erros e acertos que deixam muita gente boa desprevenida e vulnerável, que os brasileiros foram manipulados por TVs, revistas e jornais a sentir rancor pelo PT, baseado nos estereótipos e nas invencionices de jornalistas da grande mídia brasileira, cada vez menos comprometidos com a honestidade da informação, como a Veja, Globo, Estadão, Band, Isto É e Folha de São Paulo.

O estereótipo do gordo de aparência enérgica de Lula, cuja aparência de antigo operário remeteu, apenas por coincidência, ao vilão Brutus das estórias do Popeye, era trabalhada de maneira pejorativa pelos meios de comunicação, associada a de um suposto mafioso cuja única preocupação era desviar dinheiro público para contas pessoais e de seus amigos.

Já o estereótipo de Chico Xavier sempre foi trabalhado, pela mesma mídia corporativa, de forma "agradável", como o choroso velhinho frágil que supostamente representava a personificação da perfeição e do amor, através de clichês que não mediam escrúpulos de sucumbir à mais enjoada pieguice.

A realidade mostra o quanto as aparências enganam. Chico Xavier era um espertalhão, um plagiador de livros, fazia pastiches literários grosseiros, era um moralista retrógrado, defendeu a ditadura militar, fazia juízos de valor dos mais deploráveis (como no caso das vítimas do incêndio de um circo em Niterói) e falou mal de pessoas pelas costas (como no caso dos amigos do jovem Jair Presente).

Já Lula procurou, como governante, mesmo com vários senões, fortalecer a autoconfiança do Brasil no circuito das nações emergentes, manobrando a economia de forma a permitir o desenvolvimento associado às melhorias sociais, num processo indolor em que o poder aquisitivo dos brasileiros era recuperado por uma elevação salarial gradual e um controle maior de preços.

Mas as pessoas esculhambaram um líder político que se esforçava em reduzir o analfabetismo e o desemprego e promover a melhoria de qualidade de vida. E, junto à imagem falsa de "brutamontes" de Lula, seguiu-se à imagem "maquiavélica" da "bruxa megera" de Dilma Rousseff.

Por outro lado, à imagem "apaixonante" de Chico Xavier, tido como "caipira inocente", se somou a do "professor à moda antiga" de Divaldo Franco, com ternos brancos e cabelo engomado à maneira dos anos 1940, tido como pretenso pensador e dublê de filósofo, encantando muitos incautos saudosos dos antigos catedrásticos dos tempos da vovó.

Presos nas impressões das aparências, os brasileiros perdem a noção da realidade apegados a valores do status quo ou de convicções pessoais. E que permite que as pessoas apoiassem a saída de uma chefe política que buscava resolver a crise do país e que seja substituída por um cenário político ainda mais tenebroso.

PERIGO À VISTA

Diante do conforto do sofá, pessoas que não são acostumadas a se mobilizar por coisa alguma, que compram alimentos sem saber o preço mas juram que não tem dinheiro para gastar nisso ou naquilo (e ainda torram dinheiro com cigarros ou tatuagens), passaram a "se mobilizar" pela saída de Dilma Rousseff praticamente sob as ordens impostas pela Rede Globo de Televisão.

Patéticos cidadãos vestidos de uniforme da Seleção Brasileira de Futebol - ignorando que a CBF tem tenebrosos casos de corrupção, de roubalheira explícita - iam para as ruas defender até a volta da ditadura e da tortura e uns se atreviam até a pedir pena de morte para os petistas, em manifestações que se destacaram mais pelo pitoresco do que por qualquer tipo de ativismo.

Sob a representação de "personagens" como Kim Kataguiri, o "revoltado" Marcello Reis, Fernando Holiday e o "Batman do Leblon", "mascotes" como o Pato da FIESP, e apoiado por famosos como Thiago Lacerda, Marcelo Serrado, Susana Vieira, Luciano Huck, Regina Duarte, Alexandre Frota e o roqueiro Lobão, os protestos anti-Dilma feitos "contra a corrupção" permitiu a ascensão de corruptos no poder.

A votação de 17 de abril na Câmara dos Deputados revelou dois desses corruptos, seu então presidente, Eduardo Cunha, e um dos votantes, o ex-militar Jair Bolsonaro. Bravateiros políticos, Cunha é conhecido por praticar corrupção desde quando presidia a Telerj e Bolsonaro era considerado encrenqueiro e desordeiro, tendo sido punido várias vezes quando servia o Exército.

Tanto Cunha quanto Bolsonaro são vistos erroneamente como "perigos menores" pela população que vive o conforto de seus sofás, diante da cômoda e preguiçosa sintonia da pouco confiável Rede Globo, num momento em que os jornalistas não só desta rede mas também do canal pago Globo News, deram para mentir.

É constrangedor ver, por exemplo, que a maneira confusa, desonesta e agressiva com que o vice de Dilma e convertido no seu opositor, Michel Temer, assumiu o poder junto de opositores da presidenta afastada e até mesmo de membros do PSDB, partido derrotado nas eleições presidenciais, é vista por analistas e jornalistas sérios do mundo inteiro como um golpe e a mídia brasileira, sobretudo a Globo e a Veja, desmentir isso e ainda acusar os estrangeiros de "desinformados".

O governo de Michel Temer demonstra uma coleção surpreendente de escândalos e arbitrariedades, que não permitiram sequer que o povo brasileiro sentisse qualquer otimismo, O projeto de governo com medidas retrógradas que desfazem conquistas sociais históricas e ameaçam a validade de importantes artigos de leis como a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) e até da Constituição de 1988, só garantiram 11% de aprovação do cambaleante governo.

A crise do governo Temer, cujo projeto político, segundo especialistas, resultou da parceria de Aécio Neves com Eduardo Cunha, também sinaliza para a "alternativa" de Jair Bolsonaro, que se anunciou pré-candidato à presidência da República para 2018. Bolsonaro é identificado com ideais fascistas, o que pode ser um perigo mortal até para a sociedade que comemorou o "Tchau, Querida" (termo pejorativo de anti-petistas baseado na despedida de Lula num telefonema ilegalmente divulgado).

Bolsonaro é considerado um ídolo por uma parcela de cariocas ultraconservadores, vários deles associados a atividades como cyberbullying. É um grave risco a vitória eleitoral de um fascista como ele, que levaria o Brasil a aprofundar os retrocessos que já estão nas mentes dos tecnocratas associados a Michel Temer.

As vitórias eleitorais de Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro revelam o grau de influência que o decadente Estado do Rio de Janeiro oferece ao país, um Estado que está longe da antiga modernidade que se achava inabalável no território fluminense.

O Rio de Janeiro já encara um neocoronelismo manifesto tanto pelo cenário político de Eduardo Paes e companhia, quanto por casos de pistolagem na Baixada Fluminense e com um machismo radical que faz o sucesso de subcelebridades como Solange Gomes e Renata Frisson (Mulher Melão) e permite que mais de 30 homens estuprem uma adolescente indefesa. E que teve na "cosmopolita" Ipanema um episódio de linchamento com morte digno de cidade atrasada do interior.

É esse Estado do Rio de Janeiro e sua respectiva capital, que já não fazem mais jus à modernidade a que estavam associados há 30 anos, que oferece para o Brasil verdadeiros monstros morais como Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro. O primeiro ameaçou governar o país como o vice de Michel Temer e o segundo é favorito para a sucessão presidencial em 2018.

Os dois representam catástrofes políticas e sociais que os brasileiros deveriam se alertar. Eles não são os heróis que a Rede Globo oferece ao público em suas zonas de conforto, mas dois tiranos que podem destruir o país e pôr as conquistas históricas do povo brasileiro a perder. É bom que nos lembremos da triste experiência da ditadura militar que quase botou o Brasil na falência.

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