sábado, 4 de julho de 2015

Waldo Vieira, Nosso Lar e o caso "André Luiz"


O ex-integrante do "movimento espírita", o mineiro Waldo Vieira, falecido há dois dias em Foz do Iguaçu, onde viveu suas últimas décadas estando à frente da Conscienciologia e Projeciologia - doutrinas místicas pretensamente "racionais" - , nos faz refletir, com sua trajetória, sobre muitos enigmas e irregularidades do "espiritismo" e, em especial, de Chico Xavier.

Waldo teria sido um suposto médium desde os nove anos de idade. Atuava em Uberaba, mais tarde cidade adotiva de seu ídolo desde então, o anti-médium mineiro Francisco Cândido Xavier. Há mistérios sobre quando começou a parceria e os contatos, o que cria um enigma em torno do caso do suposto espírito André Luiz e o principal livro a ele relacionado, Nosso Lar (1943).

Teria Waldo entrado em contato com Chico Xavier quando aquele era criança, mesmo que seja por intermédio de seus familiares? Teria o livro Nosso Lar adiantado aspectos que eram vistos na Conscienciologia? Seria Cognópolis uma réplica da "cidade espiritual" de Nosso Lar?

É claro que, em princípio, há o problema de atribuir a Waldo Vieira a "paternidade" do personagem André Luiz, por ter sido o recém-falecido um pré-adolescente na época. Mas algumas coisas chamam a atenção nas relações entre Waldo, Nosso Lar e o suposto espírito de André Luiz, nome que havia sido de um falecido irmão de Chico Xavier.

Em primeiro lugar, André Luiz teria sido um médico. É a profissão de familiares de Waldo e, posteriormente, a dele próprio. O livro Nosso Lar mostra um enredo que lembra ficção científica, e Waldo era um grande colecionador, desde pequeno, de revistas em quadrinhos, o que incluía também obras de ficção científica, que faziam muito sucesso naqueles tempos.

É certo que Nosso Lar foi claramente baseado em A Vida Além do Véu (Life Beyond the Veil), do sacerdote anglicano ou reverendo inglês George Vale Owen. que havia sido lançado no Brasil, em 1921, pela Editora da FEB (Federação "Espírita" Brasileira), com tradução de Carlos Imbassahy, o pai.

Só um parêntesis. Carlos Imbassahy fazia parte do grupo de espíritas autênticos que tentaram recuperar na FEB a prometida fidelidade às bases doutrinárias de Allan Kardec, ao lado de Deolindo Amorim (pai do jornalista Paulo Henrique Amorim), José Herculano Pires (sobrinho do artista caipira Cornélio Pires), entre outros. Imbassahy é pai de Carlos de Brito Imbassahy.

Voltando a Nosso Lar, o que se indaga é que a obra, de conteúdo pretensamente futurista embora fale de passado - a suposta vida espiritual de André Luiz nos anos 1930 - , faz uma abordagem então pouco usual na obra de Chico Xavier, e havia um motivo para que esse arremedo de ficção científica, mesmo sob o pretexto de narrar o "mundo espiritual", seja feito.

Aparentemente, a tradicionalista FEB não iria investir em livros de conteúdo futurista, ainda mais por causa da preocupação com uma descrição da religiosidade ainda mais nostálgica, vinculada à abordagem católico-medieval do Cristianismo primitivo. Ainda mais Chico Xavier, um caipira católico, que não iria por si só embarcar na Era de Ouro da Ficção Científica dos anos 1940.

O possível gancho é que Chico Xavier talvez conhecesse o menino Waldo e possivelmente tivesse acolhido suas sugestões sobre o livro Nosso Lar. Em todo caso, o personagem André Luiz teria sido aperfeiçoado por Waldo através das ideias a ele atribuídas, nos livros que este escreveu com Chico ou sozinho.

Oficialmente, há várias hipóteses sobre a suposta personalidade brasileira que teria sido André Luiz. Os médicos Osvaldo Cruz, Miguel Couto e Faustino Esporel, este também dirigente esportivo, teriam sido alguns dos cotados, além de Carlos Chagas, hipótese que, aparentemente, era defendida por Waldo Vieira e é considerada a mais aceita entre os "espíritas".

De qualquer forma, Waldo contribuiu para o "desenho" do pensamento do personagem André Luiz, e sua colaboração para a construção do personagem, seja de forma direta ou indireta, seja mandando sugestões ou colaborando a quatro mãos com Chico Xavier. Não fosse Waldo Vieira, o personagem André Luiz não teria tido as caraterísticas supostamente científicas que apresentou.

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