quarta-feira, 15 de julho de 2015

"Boa teoria" não é suficiente para confirmar prática mediúnica

FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, ONDE FICA O NÚCLEO DE ESPIRITUALIDADE E SAÚDE.

O Brasil é marcado pela mediocridade triunfante, pelo pretensiosismo tardio e pelo simulacro de sabedoria. Há canastrões de tudo quanto é tipo, que se julgam "inteligentes", "abertos a tudo" e que cumprem o rigor das leis, se dizem "muito talentosos" e acham que possuem as melhores virtudes.

O nosso país, que tenta criar uma equação que some mediocridade, pretensiosismo e sucesso, tenta criar as mais belas teorias para justificar os piores procedimentos e sustentá-los com intenções supostamente mais nobres.

Isso acontece em vários setores. O "espiritismo" não é diferente. Ele também cria as mais belas teorias e se sustenta nas mais nobres intenções para respaldar suas práticas por vezes omissas e por outras falsas, produzindo mistificação em vez de ciência e "mentiunidade" em vez de mediunidade.

Essa é a grande desvantagem do "movimento espírita" ter deixado de lado a postura abertamente roustanguista. Com Jean-Baptiste Roustaing, os "espíritas" pelo menos se posicionavam em favor da mistificação religiosa e dos métodos duvidosos de mediunidade relacionados ao autor de Os Quatro Evangelhos.

O roustanguismo, durante anos, caiu bem no "espiritismo" de fachada que na verdade era apenas um meio-termo entre um Catolicismo medieval moralista, dogmático e sacramental e as heresias religiosas e ritualísticas clandestinamente praticadas.

De um lado, uma religião oficial de conteúdo ultraconservador e reacionário, de outro ritos improvisados e feitos a partir de habilidades duvidosas e métodos misteriosos. Passando longe das recomendações de Allan Kardec e dos mensageiros agrupados pelo Espírito de Verdade, os "espíritas" estão mais próximos da Idade Média do que podem imaginar.

Mas, diante do Brasil cheio de pretensiosismo, feito para tentar explicar a supremacia da mediocridade e da incompetência em vários setores, da segurança à música popular, os "espíritas" tentam mascarar suas posturas originalmente medievais, influenciadas pela herança do Catolicismo medieval português trazida pelos jesuítas.

Mesmo quando admitem que os jesuítas do passado foram promovidos a patronos, protetores e mentores de "centros espíritas" e supostos médiuns, o "movimento espírita" brasileiro tenta se afirmar, até com certa arrogância, que mantém-se "rigorosamente fiel ao pensamento de Allan Kardec".

USAM ATÉ ERASTO, SEM SABER DO PUXÃO DE ORELHA QUE RECEBERAM

Muitos "espíritas", independente do vínculo que tem com a cúpula da Federação "Espírita" Brasileira, já que existem dissidências tão "espiritólicas" quanto os que estão dentro da instituição, tentam de tudo para dar a impressão de que "mantém toda fidelidade a Kardec".

Eles usam até mesmo, em causa própria, os alertas de Erasto, o discípulo de Paulo de Tarso (o "São Paulo" dos católicos, não o jornalista gaúcho do Pasquim), de que a Doutrina Espírita corre o perigo de ser maculada por oportunistas capazes de distorcer e eliminar a essência do pensamento trazido pelo pedagogo francês. Não sabem o puxão de orelha que Erasto deu a eles.

É como se as raposas que invadiram os galinheiros fingirem apoiar uma mensagem de um fazendeiro alertando sobre o risco das raposas invadirem o abrigo das galinhas para devorá-las. Ou, numa outra metáfora, lobos vestindo peles de cordeiros e tentarem manter o vínculo definitivo ao "novo rebanho".

Há muitos falsos espíritas que fingem reprovar os falsos espíritas. No fundo, são desculpas para mascarar divergências pessoais e alimentar disputas de poder ou vaidades de seus membros. E quantos são os mitificadores e religiosistas que se mascaram de pretensos seguidores do cientificismo kardeciano!

Observa-se, por exemplo, que existem até setores "espíritas" nas faculdades brasileiras. Há setores "espíritas" na Universidade de São Paulo, destacando-se o acadêmico Alexandre Caroli Rocha, que tenta apresentar uma postura "cética" só para dar a impressão de que não aprova automaticamente a desnorteada e fraca mediunidade de Chico Xavier, que só sabia falar com a mãe e com Emmanuel.

Mas o que age de maneira decisiva para manter os dogmas "espíritas" e respaldar o religiosismo histérico de seus membros e, sobretudo, supostos médiuns, com uma roupagem falsamente científica, é o Núcleo de Espiritualidade e Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Através de figurões como Alexander Moreira-Almeida, a classe de pesquisadores "espíritas" procura se apoiar em estudos científicos na área da Medicina, com uma inclinação interdisciplinar à Psicologia, Biologia, Química e Física, entre outras áreas.

Em certos casos, eles tentam apreciar a teoria do Magnetismo do alemão Franz Anton Mesmer, como forma de desenvolver a teoria das práticas mediúnicas. Criam um suporte "científico" que parece verossímil e, à primeira vista, legitimável pela comunidade acadêmica.

MÉTODOS DUVIDOSOS

Os métodos usados pelos acadêmicos "espíritas" contradizem toda a pose de seriedade e todo o discurso de rigorosa racionalidade que não só Alexander Moreira-Almeida como outros como Jorge Cecílio Daher Jr. adotam para tentar dar confiabilidade às suas pesquisas.

Um exemplo é quando os acadêmicos tentaram pesquisar o suposto pioneirismo científico de até seis décadas, atribuídos ao (não assumidamente) fictício André Luiz, em livros como Missionários da Luz, que seus pesquisadores alegam tratar de temas "inexistentes" em bibliografia produzida na época da elaboração da obra "espírita", 1945.

Só que o trabalho acadêmico pesquisou apenas livros produzidos a posteriori, já que as fontes bibliográficas dos anos 1940, que Jorge Daher e seus parceiros julgam "escassa e altamente conflituosa". não foram consultadas.

Os acadêmicos se contentaram em se apoiar nas obras de terceiros para supor que quase não se discutia glândula pineal nos anos 1940 e, quando se discutia, discutia mal. Soa risível a classificação de "conflituosa", porque é da natureza do debate científico haver conflitos entre teses.

O endereço do trabalho acadêmico sobre Missionários da Luz mostra um levantamento bibliográfico que confirma isso: livros escritos de 1977 em diante, alguns relativamente mais recentes (como de 2005 e 2009), sem qualquer crédito a obras dos anos 1940, mesmo se fossem reedições ou reimpressões de datas posteriores.

Daí que confiar no que terceiros descrevem, alegando "inexistência" de trabalhos consistentes sobre a glândula pineal publicados nos anos 1940, é anti-científico, porque é da obrigação deles ter recorrido às fontes originais, como as de Gladstone, Weiekely e Bargmann, que se destacaram com pesquisas sobre glândula pineal na época.

Mesmo obras anteriores puxavam o amplo debate que havia nos bastidores da ciência, e certamente as obras da década de 1940, embora aparentemente "poucas", podem ter sido significativas. O caráter conflituoso poderia revelar não apenas a natureza do debate científico, mas também as possíveis linhas de investigação e pesquisa adotadas.

FINALIDADE DISCUTÍVEL

Uma outra pesquisa adotada pela Universidade Federal de Juiz de Fora consiste em relação às cartas "psicografadas" de Francisco Cândido Xavier, que apontavam uma estranha autenticidade de 98% (certo, 2% teriam sido fraude), através de critérios bastante duvidosos.

Afinal, os estudiosos se dedicaram demais às teorias sobre a ação psíquica no cérebro, além de falhar nos métodos de avaliação da veracidade das supostas mensagens mediúnicas, onde meios mais complicados foram adotados, quando uma avaliação mais simples e direta iria dar num resultado mais realista.

Sabemos que a maioria das "psicografias" de Chico Xavier é fraude, não porque expressamos inveja ou calúnia, como supõem os chiquistas, mas por apontar irregularidades graves em torno das mensagens, sejam cartas ou livros, atribuídas aos autores espirituais.

Isso porque os acadêmicos se preocuparam demais com funções cerebrais, aspectos psicológicos e superestimaram as informações dos falecidos tidas como "complexas" e "de difícil acesso", ignorando que existem recursos de persuasão que se definem como "leitura fria" (cold reading, em inglês).

Na "leitura fria", que nos "centros espíritas" é usada através de uma entrevista em tons fraternais e intimistas dadas por algum tarefeiro, que procura observar discretamente gestos e depoimentos dos entrevistados, observando a forma com que ele assina a lista de presença ou de orações,

Há todo um levantamento de informações dos membros dos "centros espíritas". Até as caligrafias dos papéis de orações para entes queridos, escritas pelos frequentadores, são observadas. A quem dirigem as orações? O entrevistado é apaixonado por alguém? Que perfil é esse entrevistado que quer receber "mensagens" do amigo ou parente falecido?

Tudo é observado. Pesquisa-se de jornais a livros até dados sutis dos parentes que são entrevistados. São aproveitadas até conversas informais que os frequentadores dos "centros espíritas" fazem, no fim de cada doutrinária, com o palestrante que fez aquela exposição agradável. Imagine um exemplo.

Um palestrante encerrou sua exposição e a senhora frequentadora do "centro espírita" adorou tanto a mesma que foi falar com o expositor. Na conversa feita depois que o palestrante se dirigiu à senhora, depois de falar com tanta gente, ela diz algo como:

"Pois é, pena que meu filho Zé não está mais aqui. Sabe como é, ele faleceu em acidente de moto há cinco anos, tadinho, só com 25 anos. E ele, quando era criança, adorava Saltimbancos, que você citou na palestra. Ele era louco por essa peça, cantava as músicas da trilha e viu até aquela adaptação feita pelos Trapalhões. Sei que isso passou quando veio a adolescência, mas sabe, na Universidade Fulano de Tal, ele usou alguns elementos cênicos da peça para o grupo teatral".

Dependendo do caso, gostos e hábitos mais complexos são declarados, sem que o entrevistado saiba. Ou então outros aspectos supostamente inacessíveis. Em outros casos, colhe-se declarações de terceiros, além de farta consulta em escolas, ambientes de trabalho etc.

Isso é ignorado pelos acadêmicos "espíritas", que se acham confiantes de possui uma "boa teoria", sabendo de conhecimentos científicos "terrenos" até ideias de Franz Anton Mesmer. "Bonzinhos", eles são capazes até de ler os livros de Allan Kardec na tradução de Herculano Pires, para darem a impressão de que são os mais exemplares alunos da Ciência Espírita.

Mas a "boa teoria" não é suficiente para confirmar a prática mediúnica. No caso de Chico Xavier, só o fato das mensagens mostrarem sempre apelos religiosos e exibir somente a caligrafia do "médium" já são bastantes para pôr em xeque (e até em xeque-mate) qualquer veracidade em relação à suposta autoria espiritual.

Um "médium" que publicou um Humberto de Campos completamente diferente do que esteve entre nós na Terra não pode ser visto como confiável. Usar a "boa teoria" para respaldar suas práticas duvidosas é inútil diante do caráter duvidoso das atividades de Chico Xavier e seus seguidores. Boa teoria não necessariamente afirma a boa prática.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.