segunda-feira, 27 de julho de 2015

"Espiritismo" se nivela a retrocessos religiosos do tempo de Jesus


Os rumos do "movimento espírita" no Brasil se tornam tão preocupantes que nota-se que a doutrina acaba recuperando os vícios e extravagâncias dos antigos aristocratas religiosos e dos exploradores da fé religiosa que eram tão combatidos por Jesus de Nazaré.

Muito se superestimou tanto o caráter bondoso de Jesus de Nazaré quanto das críticas que ele fazia às elites religiosas de seu tempo. Da primeira forma, ele reduziu-se a um patético e piegas pacifista a ser complacente com a crueldade dos homens, Da segunda forma, Jesus foi convertido num ferrenho "senhor dos exércitos" que não obstante combatia a caridade que ele próprio defendia.

Mas Jesus buscava a coerência e ela não é devidamente compreendida, porque o Jesus histórico hoje é praticamente pouco conhecido e ainda depende de descobertas e pesquisas arqueológicas, históricas, sociológicas e antropológicas para analisar sua pessoa humana fora da mistificação religiosa não raro surreal e fantasiosa.

Jesus demonstrava profundo conhecimento político e uma análise bastante abrangente da sociedade. Muito das conversas que ele dava quando visitava as casas das pessoas se perdeu. As conversas que permaneceram para a posteridade foram dadas por terceiros, mas o tendenciosismo religioso do Império Romano fez criar toda uma série de deturpações ao longo dos séculos.

O que se sabe é que Jesus não aprovava a pompa religiosa da época. Exemplificava fariseus e saduceus, que, apesar de diferentes, se uniam pelo excesso de formalidades religiosas que os faziam distantes da sociedade.

Jesus criticava todas as práticas religiosas de ritos, dogmas e extravagâncias que, depois, passaram a fazer parte também do Catolicismo medieval, que se apropriava do carisma de Jesus para distorcer suas lições originais. Nas mãos dos medievais, Jesus tornou-se seu anti-cristo.

O "avanço" do Catolicismo medieval se propagou por toda a Europa e se prolongou em países como Portugal, considerado um dos menos desenvolvidos do continente, que adotava práticas medievais até meados do século XIX, quando o Reino Unido e a França viviam transformações profundas de caráter político, científico e econômico, em que pese o despotismo bonapartista francês.

O Catolicismo português, de moldes medievais, influenciou diretamente o "desenho" da mentalidade religiosa do Brasil colonial, com a ação de padres jesuítas, como Padre Anchieta e Padre Manoel da Nóbrega (que "reapareceu" como Emmanuel, o mentor de Francisco Cândido Xavier), cuja hegemonia se encerrou no século XVIII, mas deixando profundo legado para a posteridade.

POMPAS, RITOS E FALSAS MODÉSTIAS

Com isso, os jesuítas foram reabilitados quando católicos com algumas práticas flexíveis e conhecedores superficiais da obra de Allan Kardec, sobretudo a partir de O Evangelho Segundo o Espiritismo, decidiram fundar o "movimento espírita", já na década de 70 do século XIX, mas oficialmente consagrada com a fundação da Federação "Espírita" Brasileira em 1884.

Desde então, surgiram "centros espíritas" que aos poucos evocaram espíritos de freis, sorores, freiras, irmãos, irmãs, padres, santos que passaram a ser seus "protetores espirituais". Uma multidão de jesuítas "há muito desencarnados" passou a ser orientadora das atividades "espíritas" realizadas até hoje.

E aí surgem as mistificações e deturpações que conhecemos. Surgem as abordagens moralistas e apenas os ritos religiosos são mais "modestos" em relação aos católicos. No entanto o "espiritismo" nem por isso tornou-se melhor que a Igreja Católica.

Pelo contrário, o "espiritismo" reproduziu as piores qualidades do Catolicismo medieval, tirando apenas os pontos mais coercitivos e inserindo no seu conteúdo práticas hereges duvidosas, feitas sob o rótulo de "mediunidade".

Mesmo assim, nota-se que a pompa religiosa dos "espíritas" não difere muito dos fariseus e saduceus dos tempos de Jesus. Da mesma forma, os vendilhões dos templos que encontram paralelo exato nos neo-pentecostais, também não deixam de ter seus equivalentes no "espiritismo". Vide o mercado de livros "espíritas", com suas grandes vendas "para a caridade".

Se, nos tempos de Jesus, os sacerdotes que ele criticava tiravam onda nos seus templos e se sentavam nos bancos da frente para orarem, fingindo falsa humildade e bajulando suas divindades com doações ínfimas e orações que mais se destacam pela forma das palavras do que pelo conteúdo e intenção, no "espiritismo" a coisa não é diferente.

Vide, por exemplo, a falsa imponência de Divaldo Franco. que como um fariseu moderno faz pose de suposta serenidade, fazendo suas orações com a beleza das palavras arrumadas, que acobertam o envaidecimento e o charlatanismo de sua religiosidade espetacularizada pela verborragia discursiva.

Ou então o falso lirismo que envolve Chico Xavier e suas frases diabéticas de auto-ajuda barata, que servem apenas como adornos de pompa religiosa que apresentam uma humildade de fachada e um verniz de falsa simplicidade que se apoia, sobretudo, em uma bibliografia contraditória, confusa, prolixa e de leitura bastante pesada e penosa.

O que Jesus faria com os "espíritas" brasileiros? Iria acolhê-los como velhos amigos e abraçá-los com o maior carinho fraterno? Não. Jesus lhes decepcionaria, chamando-os de hipócritas, bajuladores e exploradores da boa-fé humana, usurpadores de tragédias familiares, mistificadores de segunda categoria e plagiadores literários, já que é difícil enganar o bastante culto e observador Jesus.

Afinal, trata-se da velha pompa, das velhas extravagâncias, dos velhos e velhacos envaidecimentos, do verniz de perfeição e humildade tão viscosos quanto o da pretensa simplicidade dos fariseus e saduceus. Sem falar do comércio de livros "espíritas", literatura ruim que se baseia em moralismos e mistificações.

Tudo isso lembra a velha hipocrisia religiosa que Jesus combatia, com suas palestras bastante informativas e esclarecedoras, e claras e fáceis de entender do contrário das complicações rebuscadas e prolixas dos velhos religiosos que o ativista judeu contestava. O "espiritismo" resgatou essa velha hipocrisia e apenas adaptou-a aos contextos atuais, sem no entanto eliminar sua essência.

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