quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Só no Brasil os "médiuns" fazem o que querem

CHICO XAVIER E DIVALDO FRANCO - PRÊMIOS NA TERRA E CULTO À PERSONALIDADE.

No Brasil em que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário mostram suas irregularidades no trato com as leis e com o interesse público, o "espiritismo" também segue o, vejam só, "espírito" do lugar e também mostra suas grandes aberrações.

O Brasil deixou que a deturpação do Espiritismo, alertada por Allan Kardec em seu tempo, fosse bem sucedida e, como se não bastasse isso, prevalecesse até mesmo sobre o Espiritismo original. Os "espíritas" brasileiros cometem graves traições ao legado deixado por Kardec, mas juram de pés juntos que a ele mantém "rigoroso respeito" e "fidelidade absoluta".

A figura aberrante do "médium" ocorre de tal forma que surge até um dado irônico. Os médiuns que viveram no século XIX, na França, eram aristocráticos e de boa posição social, mas superavam em humildade, discrição e despretensão aos "humildes médiuns" do Brasil, que vivem da ostentação, do culto à personalidade e na busca de prêmios na Terra a pretexto de serem homenageados pelo "trabalho do bem", eufemismo para o Assistencialismo que fazem por promoção pessoal.

Ser "médium" no Brasil acabou significando fazer o que quer. Comete traições graves ao legado kardeciano, lançando livros ou palestras de apelo igrejeiro e medieval, mas cria malabarismos discursivos para dar a falsa impressão de que "aprendeu direito" as lições do professor francês.

Os "médiuns" dizem falar com os mortos, mas a verdade é que eles produzem mensagens apócrifas, já que elas nem de longe refletem o estilo original que os mortos se notabilizaram em vida. Com suas pretensas mediunidades, dão a falsa impressão de que, ao morrer, as pessoas perdem a personalidade e viram funcionários de igreja, uma ideia agradável para muitos, mas que não tem pé nem cabeça.

O grave disso tudo é que os "médiuns" sofrem o culto à personalidade, se sobrepondo até às ações aparentemente filantrópicas que dizem fazer. Rebaixam a ideia de "bondade humana" a um subproduto de suas imagens pessoais, como se a "bondade" pudesse ter um copyright de propriedade dos "médiuns" e, fora isso, tal virtude só é admissível para qualquer outra pessoa como se fosse uma franquia na qual a marca dessa qualidade fosse controlada pelos ídolos "espíritas".

Em outras palavras, em tese qualquer um pode praticar bondade e caridade, mas o vínculo ideológico que o "espiritismo" quer inserir nas pessoas é que essa bondade é uma franquia cujos "direitos autorais" devem estar vinculados aos "médiuns", estando a bondade "acessível a todos" mas de propriedade intelectual dos referidos religiosos.

A blindagem que a sociedade brasileira deu aos "médiuns" é tal que nem a camiseta do Você e a Paz que o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., exibiu para divulgar sua "ração humana", condenada por entidades nutricionais e pelos movimentos sociais por oferecer risco à saúde e tratar o pobre de maneira desumana, chamou a atenção do mais dedicado jornalista investigativo.

Não houve escândalo, e nem mesmo quando Divaldo Franco posou ao lado de João Dória Jr. se deu qualquer interrogação. Até que ponto um "médium espírita" pode apoiar um alimento condenado pelos movimentos sociais, mesmo quando o religioso é considerado "ativista" e, tido como "humanista", até que ponto ele pode apoiar um projeto considerado desumano para os pobres? Ninguém teve coragem de responder.

Os "médiuns" gozam de uma imunidade tal que supera até mesmo a que beneficia políticos do PSDB. A coisa chega ao ponto da permissividade, podendo-se criar mensagens fake se valendo do prestígio religioso e de boas relações com a sociedade.

Se alguém, por exemplo, ter um suposto projeto assistencial conhecido, realiza palestras com mensagens dóceis de auto-ajuda e diz conversar com padres e freiras falecidos, e decidir, por exemplo, lançar uma mensagem da própria mente, mas atribuída ao espírito do ator Domingos Montagner, as chances de êxito na farsa chegam a ser totais.

Os "médiuns" brasileiros apresentam, de forma explícita, caraterísticas que haviam sido reprovadas com firmeza por Allan Kardec, em várias de suas obras. Mas é em O Livro dos Médiuns que essa reprovação se torna mais evidente, apresentando, como aspectos negativos, aqueles relacionados até mesmo aos "renomados" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco: textos rebuscados, ideias truncadas, uso de nomes ilustres para impressionar o grande público etc..

O "espiritismo" brasileiro só está deixando de ser o "PSDB das religiões" porque o próprio PSDB está, aos poucos, deixando de ser blindado. O cacófato do jargão "solta o cano que não cai" ("só tucano que não cai") está dando lugar ao "só espirre, tá, que não cai" ("só espírita que não cai").

A situação atingiu níveis insustentáveis. Afinal, já era de extrema gravidade as traições que os "médiuns" fizeram aos postulados espíritas originais. A inserção de ideias meramente especulatórias, como as do "mundo espiritual" feito ao capricho das paixões materialistas - servindo de desculpa para a apologia do sofrimento humano, herança da Teologia do Sofrimento defendida por Chico Xavier - , é um exemplo gritante de como os "espíritas" brasileiros fugiram das lições originais.

Os "médiuns" foram beneficiados por uma campanha ideológica que fabricou consenso entre os brasileiros. Os "médiuns" podem fazer o que querem na vida, se algo errado é notado entre eles, atribui-se responsabilidade a "incômodos irmãozinhos do além", como se o "médium" não pudesse ser responsável pelos próprios erros. Aos "médiuns" só se atribui "decisão própria" quando seus atos são reconhecidamente positivos; quando negativos, a culpa é dos "espíritos inferiores".

Essa malandragem, associada à carteirada religiosa, faz com que os "médiuns" virem donos da verdade, donos dos mortos, senhores da opinião pública. Se as ideias transmitidas por eles contrariam o bom senso e a coerência, põe-se o bom senso e a coerência no lixo. Se as mesmas vão contra a realidade dos fatos, que se acredite na falácia de que "existem certas coisas que fogem da compreensão racional humana".

É preocupante saber que os "médiuns" se julgam acima de tudo, e que a sociedade consente que a eles se conceda a posse da verdade e da bondade. Todos "podem ser bondosos", desde que a partir da influência deles, "não precisando" seguir a religião deles, mas de uma forma ou de outra "sendo sempre bons" sob a sombra dos "médiuns" considerados "proprietários da verdade humana".

E é muito fácil adotar esse status "sobrehumano", ser visto como "decidido" só quando acerta, mas, quando erra, ser visto como "manipulado por outrem". Os erros cometidos pelos "médiuns" são de decisão própria deles e mesmo admitir que eles são falíveis não é o bastante, porque em muitas vezes os "espíritas" admitem isso para obter a moratória e evitar pagar pelos erros cometidos.

O que se fez no "espiritismo" brasileiro com a deturpação é da mais extrema gravidade. O que está em jogo é a traição cometida em relação ao legado original de Allan Kardec, que nada tinha a ver com os devaneios igrejeiros, esotéricos e pseudocientíficos cometidos pelos "espíritas" a partir dos "médiuns" deturpadores.

O pedagogo francês penou para divulgar os postulados originais. Pagou os custos de viagens e outras contas com o próprio dinheiro, divulgou praticamente sozinho seu trabalho, sem receber patrocínio e ainda foi duramente criticado e até humilhado por suas ideias científicas.

Daí ser terrível que, no Brasil, pessoas que distorceram, ao sabor das ideias influenciadas pelo deturpador pioneiro J. B. Roustaing, agora vendam a falsa imagem de "kardecistas", a ponto de desmoralizar esse termo, que hoje nada tem a ver mais com Kardec.

"Kardecismo", hoje, é um eufemismo para um engodo doutrinário que mais parece um "catolicismo de chinelos" dotado de Astrologia, ideias medievais, moralismo social e Assistencialismo. O termo "kardecista" está tão desmoralizado que os espíritas autênticos o substituíram por "kardeciano".

As pessoas põem tudo debaixo do tapete, para proteger os "médiuns" alvo de sua idolatria obsessiva. Mas até isso contraria os ensinamentos kardecianos originais. O próprio Kardec, estimulando o questionamento aos deturpadores do Espiritismo, recomendou que é melhor cair um do que cair uma multidão. No Brasil, o que se pensa é o contrário: melhor cair um país inteiro do que caírem os "médiuns espíritas".

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