terça-feira, 30 de agosto de 2016

Suposta mensagem de Jair Presente aponta fraude em informação "inacessível"

NÃO BASTASSE A LINGUAGEM ESTRANHA, A MENSAGEM SUPOSTAMENTE ATRIBUÍDA AO ESPÍRITO JAIR PRESENTE (FOTO) MOSTRA INFORMAÇÃO QUE HAVIA SIDO CONSULTADA.

Deu no Obras Psicografadas. Analisando mais supostas psicografias de Francisco Cândido Xavier, é citado, entre os casos de "comunicações inesperadas", mais um caso sobre Jair Presente, estudante que havia falecido em fevereiro de 1974 e do qual se atribuem supostas mensagens espirituais trazidas pelo "médium".

Sabemos que, embora acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora, liderados pelo tendencioso Alexander Moreira-Almeida, tentassem afirmar a "autenticidade" das supostas psicografias de Chico Xavier, alegando que as informações apresentadas pelo suposto Jair eram "inacessíveis" ao "médium", há muitas irregularidades que põem em xeque (digamos até xeque-mate) a essa tese.

Devemos levar em conta que Chico Xavier fazia fraude mediante colaborações de terceiros. Esse aspecto não foi levado em conta diante da farsa de Parnaso de Além-Túmulo e nem da sua "série Humberto de Campos / Irmão X". Ele sempre teve disponíveis tanto as consultorias de especialistas literários (embora houvesse um deslize no qual se confundiu Augusto dos Anjos com Antero de Quental) quanto outros escritores que completavam o trabalho.

Isso é tão certo que, dos anos 80 até o fim da vida, Chico Xavier cuidou pouco dos livros que levaram seu nome e é muito provável que ele só tenha assinado os livros que teriam sido feitos por editores da FEB e outras editoras, em certos casos. Doente, mas cheio de compromissos de um popstar religioso, ele nunca teria tido tempo hábil para lançar a média industrial de 15 livros anuais nessa época.

O caso de Jair Presente, aqui apresentado, remete a uma mensagem de 19 de julho de 1975, no qual a linguagem forçadamente informal, que remete a um hippie caricato, é também carregada de igrejismo, como em quase toda mensagem trazida por Chico Xavier. As informações de "difícil acesso" foram, na verdade, extraídas em uma certidão de óbito e uma nota de imprensa.

O suposto Jair teria citado um amigo, Irineu Leite da Silva, que teria falecido aos 35 anos e seria desconhecido da família do suposto mensageiro espiritual. O livro A Vida Triunfa, de Paulo Rossi Severiano, que comenta casos "formidáveis" da suposta psicografia de Chico Xavier, escreve o seguinte a respeito desse dado relacionado a Jair Presente e seu "amigo" Irineu:

"Jair Presente - houve citação em uma de suas cartas do nome de Irineu Leite da Silva, enterrado no “Parque Flamboyant”, em Campinas, Estado de São Paulo. O nome era desconhecido da família Presente, e não havia parentes ou conhecidos ligados a esse espírito, em Uberaba, onde o sensitivo recebeu a carta. A irmã de Jair, Sueli Presente, resolveu averiguar. Telefonou para o sr. Renato Mangiaterra, administrador do cemitério, mas este não encontrou nenhum registro com esse nome. Ela consultou, então, o arquivo do jornal local, e encontrou a notícia da morte de Irineu, no dia mencionado 7/6/1975. Insistiu junto administrador do cemitério e este descobriu que ele havia sido registrado com o nome de Pirineu, daí a confusão na informação prestada quando da primeira consulta. O Dr. Mario Boari Tamassia, escritor e jornalista, foi pessoalmente ao cemitério e documentou a veracidade da informação espiritual. Os dois dados absolutamente corretos, a referência ao dia do óbito (7/6) e a menção do cemitério, quando há três cemitérios em Campinas, são fatos indiscutíveis que dão o que pensar".

No final de nosso texto, mostraremos a mensagem do suposto Jair Presente na íntegra, para que o leitor pesquisasse com mais abrangência e para servir de referência ao trecho pesquisado. Quanto aos dados de Irineu Leite da Silva, a irmã de Jair, Sueli Presente, foi pesquisar os dados e encontrou um obituário citado no jornal Correio Popular, de Campinas. Mais adiante, um obituário foi encontrado com os dados que coincidem com os utilizados pela mensagem.


Isso mostra o quanto se deve tomar cuidado quando se alega "autenticidade" em supostas psicografias que apresentam informações supostamente inacessíveis. Devemos prestar atenção para a esperteza de Chico Xavier, e pelo fato de que ele sempre teve muitos colaboradores em sua volta, já que, evidentemente, ele não iria cometer fraudes sozinho, mas também suas obras "mediúnicas" estão longe de serem honestas, pelas irregularidades evidentes que aparecem.

Portanto, mesmo informações de "difícil acesso" eram mostradas por colaboradores, eram trabalhos engenhosos de pesquisas que complementam a "leitura fria", recurso da manipulação de mente, no qual o entrevistador, mesmo em conversas informais, arrancava do interlocutor não só informações e dados sutis mas também reações psicológicas que apresentam também outros dados subliminares.

Note que o famoso juízo de valor de Chico Xavier é reproduzido na suposta mensagem espiritual, quando se nota o trecho "Esse Jair não tem jeito, não" e "isso é bobagem da grossa", ditos em bastidor pelo próprio "médium" mineiro, o que desfaz a credibilidade da "psicografia", diante de dado tão tendencioso.

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SUPOSTA MENSAGEM DO ESPÍRITO JAIR PRESENTE

Divulgada por Francisco Cândido Xavier, em 19 de julho de 1975.

A mensagem

Minha querida madre, pater meu e minha sorela Sueli, somos presentes dando presença. E não quero começar papeando sem dar a Deus, nosso Criador e Pai, o respeito nosso.

O que há na paróquia é que vocês estão querendo aquelas conversadas de espírito de família. E acontece que, na cuca do meu grupo, a lembrança me bate forte. Não posso dar a silenciada. É preciso falar, porque os nossos daqui me permitem aquela boa gíria das amizades fiéis.

Às vezes, penso que é preciso acabar com essas dicas de fantasma-sorriso, mas a vida é nossa e como deixarmos de ser nós mesmos, dentro da vida? Nesse sentido, minhas palas hoje são melhores, estou incrementado nos estudos para retirar todos os meus grilos xexelentos. Quero carregar outra moringa nos ombros. E o negócio é esse aí: se não trabalhar, não entendo; se não entendo, não vale estudar.

Quando vim pra cá, percebi de repente que não passava de sabereta, embrulhando muitas lições aprendidas aí em bobagens que não tinham tamanho. Agora, vou tirando letra em muitas coisas que necessito guardar em mim para ser melhor. Muita gente bem de nossas turminhas deu para pensar que sou espírito vagau perdido na marginália. Pobres meninos patetas que éramos; querendo inventar uma língua nova, complicamos os comunicados nas melhores comunicações.

Entretanto, para Deus o sentimento é que tem valor, o coração é que fala. Posso latinizar as notícias da maneira mais sofistiqué, mas se não der de mim aquela sinceridade tou na lona da paranoia e isso eu não quero mais. Esse negócio de dar fio nas patotas que mandam fumo ou avançam no lesco-lesco dos comeretes a se arrancarem para umas e outras é perigo na certa. Quero o pensamento jóia para falar mesmo sem alinhavar as palavras fora da costura da boa gíria.

Mandem-se para cá e vocês vão ver como é duro varar o arco e virar a bola de pé pra frente no quadrado das notícias. Assim sendo, vocês todos podem perdoar os cabeludos que vierem pra cá sem preparação, bancando caretas nas lições de Cristo. Perdão, sim, porque seria difícil, pra mim, falar francês, no português brasileiro, exibindo qualidades que não tenho. De uma coisa, porém, vocês fiquem sabidos: é que já sei que trabalhar para os outros é o caminho melhor. Digo isso, embora esteja parado como nos tempos da Geografia, explicando pro professor como se vai à Guiana Inglesa, sem nunca ter ido lá, nem pra inglês ver. Já sei. Isso é progresso.  isposição mesmo pra fazer o que sei, só amanhã.

Apesar de tudo, Sueli, digo a você: a mediunidade é servir para sermos servidos. Todos precisamos de alguma coisa. Estendendo as mãos para o auxílio a quem sofre é o mesmo que receber outras mãos que chegam do Alto pra carregar-nos sobre as lutas de cada dia. Para mim, caridade é o melhor negócio da vida. A pessoa ajuda e recebe muito mais do que dá. Geralmente, querida irmã, somos alguém a servir, mas a pessoa servida representa em si um grupinho grande. E o grupinho se inclina pra nosso lado e dá uma melhorada geral em nossos caminhos. Aqui vejo muita gente fora da Terra, aprendendo isso! Entregando benefícios e recebendo benefícios maiores. Não estou ensinando você a paparicar Deus com papos furados ou com caldos melosos de conversa amolecida na adulação. Estou fazendo as palas do ato. Porque o assunto mais importante é agir mesmo.

Aqui está conosco o Joãozinho Alves e pede aos pais aquela confiança em Deus que não desanima. Ele está melhor e mais forte. E outro amigo, aqui ao lado do seu adoidado irmão, é o Irineu Leite da Silva, um moço do fino que vestiu paletó de madeira em 7 de junho passado. Estava eu entre aqueles que trabalhavam no Parque dos Flamboyant, quando ele foi considerado pessoa de sono eterno. Mas acordou junto de nós e está bem. Mesmo assim pede orações pelos pais, Sérgio e Rita, e insiste para que todos os entes queridos se consolem.

Afinal de contas essas paqueradas da morte acontecem com qualquer, E os caras do mundo precisam contar com isso. Não querem oi que ninguém morra. Queremos que todos os nossos irmãos do mundo transitem por todos os consultórios de plástica, tirando sarro nas rugas, que chegam com as janeiradas de natalício a natalício. Desejamos que todos cheguem aqui mambeando de velhice, sem coragem de olhar pros retratos solenes de 20 ou 40 anos de retaguarda - mas esse derbi da morte é um estripitisi de amargar. Dizemos amargar porque só colocamos jiló nesse assunto com tanto choro de lado que os panos do último dia é que são mesmo de amedrontar qualquer um. Pensemos na morte com fé em Deus. Afinal de contas, aí no mundo quem dorme está sempre treinando para ressuscitar.

Meu pai abrace Sérgio, Wilson e todos os meus sócios de pensadas e notas. Não creio que a rapaziada esteja acreditando muito no que digo. De vez em vez, escuto algum deles a dizer: “Mas esse Jair não tem jeito, não”. Mas isso é bobagem da grossa. Quem tem jeito para melhorar e consertar é só aquele Cristo amoroso e bom de todos os dias. Mas, isso é isso. Se fosse eu o vivo da história, talvez não acreditasse no amigo morto e ficaria ainda mais vivo, se ouvisse mensagens dos que houvessem caído em algum barato do pró-terra-de-pedra e cipreste, antes de mim.

Sueli, aos corações do Grameiro, o meu ‘muito obrigado’, aos companheiros do Grupo de Meimei aquela saudação embandeirada de preces pela felicidade de todos. Agora é parar. Terei falado o que não soube dizer. Estava com saudade de dar uma falada com vocês e dei papo. Deus me perdoe, é o que peço. Entretanto, vamos deixar seriedades pra lá e vamos dar aquele abraço da finalizada. Pai, mamãe, Sueli, estou feliz vendo vocês unidos. Tchau pra vocês. Tudo de bom. Noite calma e tempo de bênçãos. Ponho aqui a saudade pra quebrar. Um beijão do filhote adoidado e do irmão agradecido, mas que lhes oferece nestas páginas o maior amor da paróquia.

Jair (sic)

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