quinta-feira, 7 de julho de 2016

A ilusão da invulnerabilidade dos retrógrados

A TERRA MAIS PARECE UM AMBIENTE A SER TOMADO PELO BOLOR.

A onda de retrocessos sociais expressa dois problemas. Um é o consentimento da sociedade moderna para que movimentos retrógrados aconteçam, reivindicando a volta de padrões antiquados de vida social, geralmente focados na Idade Média ou na Antiguidade do Oriente Médio.

Machistas, racistas, neo-nazistas, patrimonialistas, todas as facções retrógradas da sociedade se rebelam de uma forma ou de outra, em ocorrências que variam da formação do governo de Michel Temer, no Brasil, à chacina cometida numa boate gay em Orlando, na Flórida, passando pela tentativa de destruição de uma cidade síria pelo Estado Islâmico ou o assassinato da parlamentar britânica Jo Cox por um neo-nazista.

A fúria daqueles que sonham com o retorno de sociedades atrasadas, como supostos paraísos austríacos de gente exclusivamente branca, nações teocráticas, sociedades elitistas, cidades escravocratas, estruturas familiares conservadoras, mostra o quadro surreal em que vivemos.

Pois isso é resultante de uma nostalgia doentia que move iniciativas tão extremistas. Sejam os corruptos do Congresso Nacional brasileiro com saudade da "mamata" da ditadura militar, quando a sociedade era castrada e forçada a se resignar com os arbítrios políticos, sejam os membros do Estado Islâmico que acreditam em nações misticamente fortes e autoritárias.

Mesmo o "espiritismo" brasileiro se insere nesse quadro, pois a religião não consegue disfarçar sua herança do Catolicismo medieval português, já que em muitos momentos chega a ser mais católico que a Igreja Católica, com o agravante de que aproveitou diretrizes que os católicos não seguem mais. Defender a Teologia do Sofrimento é uma delas.

As próprias figuras de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco se inserem nesse quadro, por mais que seus defensores insistam num inexistente futurismo em suas pregações. Isso porque Chico Xavier e Divaldo Franco personificam tipos antiquados de personalidades, lembrando, respectivamente, um caipira da República Velha e um catedrático das velhas escolas dos anos 1920-1940.

O conteúdo religioso deles também é reflexo disso. E as pessoas que os glorificam sentem saudade de uma moral religiosa que assegurasse relações hierárquicas, conservadorismo ideológico sustentado por pretextos moralistas e pela utopia do prêmio póstumo das "bênçãos futuras", uma forma confusa e vaga de definir as "recompensas" prometidas para os sofredores pela religião "espírita".

Há um saudosismo doentio em todos os aspectos, que no entanto garante uma estranha confiabilidade dos seus detentores. Todos parecem empenhados e confiantes em recuperar padrões obsoletos de vida social, que nada dizem para os dias de hoje, mas cujos defensores persistem em resgatá-los e fazer prevalecer até em sociedades futuras.

É como se o passado quisesse ser dono do futuro. É a rebelião do mofo tóxico contra o ar puro. É a recusa de admitir novos tempos e a teimosia em recuperar o irrecuperável, criando uma ilusão de tranquilidade ou, na pior das hipóteses, de triunfalismo da parte de seus defensores ou agentes.

Afinal, existe também a pressão de outra parte da sociedade, que quer reafirmar os novos tempos, e não aceita que antigas desigualdades ou antigos dogmas, mesmo obsoletos, retornem como se fossem atuais, e a intransigência dos retrógrados revela o quanto pessoas desse nível ainda se mantém numa ilusão de invulnerabilidade, como se acreditassem num triunfo futuro.

Esse é o grande problema da humanidade. É um grande risco do futuro ficar refém do passado. E tal coisa é expressa por diversos movimentos sociais, políticos e religiosos que querem que a Terra volte aos estágios medievais ou teocráticos, retomando estruturas arcaicas de sociedades desiguais, misticamente subordinadas e rigidamente hierarquizadas. Cabe pensarmos nesse grave problema.

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