quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Posturas diferentes de dois atores, sendo o pior caso o de um "espírita"


Duas posturas bastante diferentes revelam que nem sempre o rótulo de "espírita" merece a imunidade que se atribui a seus palestrantes, celebridades e "médiuns". Depois que Divaldo Franco abriu seu Você e a Paz para o lançamento oficial de um alimento duvidoso, não há como dizer que os "médiuns" não podem ser responsabilizados pelos graves erros, como nenhum outro "espírita" em atitudes do nível.

Vamos comparar dois casos, em que um ator não necessariamente "espírita" dá um exemplo de humanismo e generosidade humana que faltou a outro ator, que, sendo um declarado seguidor do "espiritismo", tendo interpretado uma de suas antigas figuras, adotou posturas de profundo e retrógrado preconceito social e ainda apoiou notícias falsas, ou seja, mentiras, publicadas por outrem.

Semana passada, o ator Pedro Cardoso estava no programa Sem Censura, da TV Brasil - integrante da Empresa Brasileira de Comunicação, ligada ao Governo Federal - , a princípio para lançar seu romance sobre a crise social do Brasil, O Livro dos Títulos, quando se recusou a ser entrevistado pela jornalista Katy Navarro, apresentadora do programa.

Pedro Cardoso disse que não iria dar entrevista alguma para uma empresa com funcionários em greve e acrescentou a isso outra indignação, que é a do presidente da EBC, o jornalista Laerte Rímoli, ter compartilhado de memes (ilustrações com mensagens divulgadas nas redes sociais) debochando de uma declaração da atriz Taís Araújo.

Taís, negra assim como seu marido e também ator Lázaro Ramos e os dois filhos do casal, desabafou, numa palestra, que as pessoas "mudavam de calçada" ao verem ela e seu filho. Uma postagem montava o fundo com Taís e seu filho com a imagem de uma menina branca apavorada, e outra mostrava um executivo de pára-quedas. Em ambas, a mensagem jocosa de que as duas figuras estariam fugindo de Taís e seu filho, como se fossem um "problema".

Pedro fez um discurso no qual lembra as raízes africanas de todo o povo brasileiro e disse respeitar todo o pessoal da EBC, ganhou um comentário solidário de Katy, que manifestou respeito à decisão do ator, e este, ao se retirar, abraçou a apresentadora. Em seguida, Pedro se juntou aos grevistas na entrada da TV Brasil e gravou um vídeo de apoio aos funcionários.

Até o fechamento deste texto, não pegamos informações sobre a religião de Pedro Cardoso, mas observa-se que sua conduta está acima dessas crenças e que, mesmo sendo ele primo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ator, consagrado pelo seriado A Grande Família, da Rede Globo (no qual interpretou o picareta Agostinho Carrara), se aproxima mais das posturas progressistas, e ainda alfinetou a televisão dos tempos de FHC:

"O mundo mudou muito. E uma coisa principal: o Brasil mudou, muito mais que a televisão brasileira. A TV brasileira ainda está igual ao Brasil do FH [Fernando Henrique Cardoso] e nós estamos num Brasil pós-Dilma, embora ela ainda esteja [no governo]. E a gente tem que retratar este Brasil que mudou. Se a gente ficar fazendo a televisão que era da época do Fernando Henrique, o público vai fazer outra coisa", afirmou o ator.

VEREZA INTEGRA ATÉ INSTITUTO MILLENIUM

Enquanto isso, o ator Carlos Vereza, um dos propagandistas do "espiritismo" brasileiro - cada vez mais voltado ao conservadorismo ideológico, sintonizado com Michel Temer, João Dória Jr. e Aécio Neves - , tendo interpretado o médico Adolfo Bezerra de Menezes, tornou-se um dos militantes da chamada "direita hidrófoba" do país.

Um dos integrantes do Instituto Millenium - entidade similar aos antigos IPES-IBAD na combinação de aparato intelectual e ativismo direitista - , Vereza, que participou da novela Velho Chico da Rede Globo, teria indicado seu amigo "médium" João Teixeira de Faria, o João de Deus, à colega Camila Pitanga ir agradecer por ter sido poupada de uma tragédia que matou seu amigo e par romântico na novela, Domingos Montagner.

Tido como "amigo de Lula" (no mesmo sentido de José Sarney, por exemplo), João de Deus apareceu recentemente num clima de muita cumplicidade ao lado do presidente Michel Temer, que, embora tenha declarado "nunca ter ido a um centro espírita", tem seu projeto de governo, ultraconservador, apoiado pelo "movimento espírita".

Vereza apoiou uma fake news divulgada pelo filho do ultradireitista Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, na qual distorce um trabalho escolar, sobre identidade de gênero, promovido pelo colégio carioca Pinheiro Guimarães, como uma medida que forçava alunos rapazes a se vestirem de rosa e usarem batom para ganhar pontos na escola.

Horrorizado ao ver muitos famosos transexuais - como a modelo Lea T e o ator Thammy Miranda, nascidos sob gênero sexual oposto ao atual - , Carlos Vereza havia recorrido, recentemente, ao presidente Michel Temer, pedindo medidas de combate à "ideologia de gênero", demonstrando o nível homofóbico do famoso ator e "espírita" convicto.

"Tem professores tirando o artigo “o” e o artigo “a” e colocando “x”, estão brincando de Deus e mudando toda a biologia. Por mais que eles inventem, homem não tem útero. E mulher não tem pênis", disse o ator, que alegou que a causa LGBT está "traumatizando e erotizando" as crianças.

A verdade, porém, é que o trabalho escolar, uma exposição de sala de aula, não teve qualquer intenção de influenciar os alunos, mas de promover um debate a respeito de mudanças de âmbito sexual e afetivo na sociedade brasileira, sem desconsiderar as relações heterossexuais tradicionais.

Vereza foi um enérgico opositor aos governos de Lula e Dilma Rousseff e acabou aderindo a uma notícia falsa divulgada por um Bolsonaro. É mais uma adesão de um "espírita" a uma figura retrógrada, pela afinidade de sintonias a pessoas que simbolizam algum obscurantismo moralista que voltou à tona no Brasil desde 2016.

Sabe-se que Francisco Cândido Xavier também manifestou sua sutil homofobia, no final dos anos 1960, auge do movimento hippie. Chico Xavier havia dito que o homossexualismo era "compreensível", mas era fruto da "confusão mental" dos espíritos encarnados, que "não teriam definida sua sexualidade".

Recentemente, através de correntes como as de Divaldo Franco, o "espiritismo" brasileiro adotou uma postura supostamente anti-homofóbica. O conservadorismo ideológico precisava ser dissimulado, pois o "espiritismo" igrejeiro e catolicizado não podia exceder no seu moralismo, já medieval demais para carregar, também, posturas homofóbicas que nem mesmo a Rede Globo e a Veja aceitam.

Mesmo assim, o "espiritismo" brasileiro demonstra estar afastado de qualquer intenção e prática humanistas. O "médium" Divaldo Franco perdeu a chance de, no caso da "farinata", adotar uma postura de coragem contra o produto, tal como foi a atitude de coragem de Pedro Cardoso em se recusar a divulgar o próprio livro num programa de TV em protesto contra o racismo e as arbitrariedades do governo Temer, que congelou os salários dos funcionários da EBC.

O conservadorismo do "espiritismo" brasileiro e sua adesão a personalidades políticas decadentes e retrógradas derrubou de vez a imagem de "progressista" oficialmente associada aos "espíritas". O "espiritismo" está até mesmo aquém do Catolicismo, que, mesmo com seus dogmas, consegue se adaptar às mudanças sociais, enquanto os "espíritas" se voltam para as raízes jesuítas do Brasil colonial.

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