sábado, 18 de novembro de 2017

João Dória Jr. suspende farinata. Mas o estrago já foi feito


É possível que as pessoas se empenhem em esquecer a terrível "farinata" do prefeito de São Paulo, João Dória Jr., e busquem reabilitar o deturpador Divaldo Franco e seu evento Você e a Paz, deixando tudo para lá, inclusive o silêncio da mídia, diante do envolvimento de um "espírita" no apoio ao duvidoso projeto.

Esta semana o prefeito da capital paulista anunciou o cancelamento da "farinata" - que foi alvo de inquérito até do Ministério Público de São Paulo - e a substituição do alimento pelo programa "Alimentação Saudável", no qual priorizará no investimento em alimentos produzidos por pequenas propriedades de agricultura familiar para serem fornecidos nas escolas públicas e instituições religiosas.

Certo. O programa é copiado do que o antecessor Fernando Haddad, do PT (partido ideologicamente oposto do de Doria, PSDB), já fazia com maior amplitude, mas menos danoso. Pode ser um oportunismo político, mas é uma medida mais benéfica para a população. Mas isso não quer dizer que o caso "farinata" não produziu seus danos.

O estrago já foi feito. João Dória Jr., o arcebispo dom Odilo Scherer e a executiva da Plataforma Sinergia, Rosana Perrotta, são seus responsáveis oficiais do engodo, e respondem diretamente pelos atos de concepção do produto, feito ao arrepio das normas de nutrição e até de higiene e saúde pública.

Mas Divaldo Franco não pode escapar pela porta dos fundos, beneficiado pelo silêncio da imprensa, no qual nenhum jornalista teve o cuidado de refletir por que o nome de Divaldo e o do Você e a Paz apareciam na camiseta do prefeito de São Paulo. Aquilo não era coisa tipo um adolescente vestindo uma camiseta do grupo Nirvana, mas um vínculo de imagem, um esforço de associação do "médium" e seu evento à "farinata".

Como anfitrião do evento que lançou oficialmente a "farinata", Divaldo também tem que arcar com as consequências. Nem a firmeza caraterística de Allan Kardec o "médium" baiano seguiu, preferindo deixar o produto ser lançado sem qualquer apresentação de exames técnicos e documentos comprovando sua qualidade.

Divaldo Franco entrou em contradições até com a sua reputação de "sábio" e "humanista", porque apoiou um produto que os movimentos sociais definiram como "ofensa à dignidade humana". Como suposto "cientista", Divaldo não sabe que o Guia Alimentar para a População Brasileira desaconselha que um regime de alimentação saudável priorizasse um composto processado, em forma de biscoito ou granulado, recomendando alimentos em estado e qualidade próximos aos oferecidos pela Natureza.

Divaldo passou a situação como "desinformado" ou "complacente" com o produto, o que derrubou de vez a reputação do "médium", que meses antes havia feito um juízo de valor bastante severo contra refugiados do Oriente Médio, supondo que eram "reencarnação de antigos colonizadores" e alegando que eles retornavam à Europa "para retomar os tesouros do Velho Mundo".

Tal juízo de valor pode indicar, até mesmo, intolerância religiosa, não bastassem os potenciais danos morais que podem ser causados a indivíduos ou famílias que tomarem conhecimento dessa declaração do "maior orador espírita".

Certamente, a "farinata" passa mas a indigestão causada pelo episódio causaram um arranhão em Dória, Scherer, Perrotta e Franco, pelas posturas que tomaram e pela inicial insistência com que tentaram empurrar um produto condenado por entidades de saúde e movimentos sociais.

No caso de Divaldo, sua imagem de "ativista" foi derrubada quando foi apoiar um projeto alimentar condenado pelos verdadeiros ativistas sociais. E mais, o episódio mostra o quanto se agravou a crise no "espiritismo" brasileiro, sempre perdido em suas más escolhas.

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