domingo, 24 de setembro de 2017

A perigosa ascensão de jovens fascistas derruba a ideia de "crianças-índigo"

ARTHUR MOLEDO, DO MOVIMENTO BRASIL LIVRE, FAZENDO CARETA, E EDUARDO BOLSONARO, FILHO DE JAIR, SEGURANDO UMA PLACA FAZENDO APOLOGIA À VIOLÊNCIA.

A catarse coletiva, que se volta para a histeria religiosa e a mitificação e o fanatismo cegos - que no "espiritismo" é expressa na imagem glamourizada dos "médiuns" e sua "caridade de novela da Globo" - , também se volta para manifestações de ódio, o que pode parecer dois aspectos bastante opostos, mas não são.

A verdade é que hoje existe o contexto ultraconservador que reúne tanto a "bondade espírita" quanto os manifestos reaças que se observa desde os tempos do Orkut, com as ondas de ataques coletivos de cyberbullying - ataques combinados por vários internautas que simulam fóruns de discussão feitos para insultar internautas de sua escolha - que hoje culminaram no chamado "tribunal do Facebook".

Antes tidas como possíveis paraísos de revoluções sociais de caráter progressista e arrojado, as redes sociais da Internet se transformaram em redutos de puro obscurantismo social, em que pessoas expressam abertamente seus preconceitos, em certos casos sem o cuidado de esconder seus nomes, e muitos deles atuam humilhando, de maneira perversa, internautas que não correspondem aos padrões sociais e pontos de vista aceitos pelos jovens mais conservadores.

O reacionarismo crescente nas redes sociais é um reflexo da decadência de uma parcela da pirâmide social - o "topo" da mesma - , que prevalecia soberana desde o auge da ditadura militar e sobreviveu ao período de redemocratização e de breves políticas progressistas, como a Era PT (2003-2016).

Hoje o "alto da pirâmide", já dotado de avançado estado de perecimento, luta para sobreviver acima de tudo e de todos, implantando uma pauta social retrógrada, na qual se defende até o fim das conquistas trabalhistas e a volta dos velhos padrões sub-humanos dos primórdios da Revolução Industrial, mais os padrões escravagistas que vigoraram no período colonial no Brasil.

O "alto da pirâmide" também luta para que suas convicções estejam acima de toda compreensão lógica da realidade. A coerência é jogada na lata de lixo. Esse processo ganhou o nome de "pós-verdade", um fenômeno não originário do Brasil, mas que encontra em nosso país um terreno fértil para exercer supremacia nos tempos sombrios em que vivemos.

Até os "espíritas" adoram a "pós-verdade". Francisco Cândido Xavier foi o que mais simbolizou os paradigmas de pós-verdade no Brasil. Chico Xavier, de criador de confusões, pastichador literário e deturpador do Espiritismo, tornou-se o "dono da verdade", sobre a qual exerce, mesmo postumamente, um monopólio de prevalência pessoal, garantida pelas paixões religiosas.

É um quadro desolador, que se torna mais preocupante quando se observa, nas ruas das grandes cidades, sobretudo as capitais do Sul e do Sudeste - hoje mergulhados num surto provincianista e reacionário - , uma despreocupação muito grande das pessoas, que agem como se estivessem num paraíso florido quando ignoram a catástrofe social que está em andamento.

Os próprios "espíritas", com sorridente cinismo, estão apoiando os rumos ultraconservadores do Brasil de hoje e o que se observa nas publicações e palestras "espíritas" são combinações de apelos para os desafortunados "aceitarem (e até amarem) o sofrimento" com outros que falam em "esperanças" e "tempos melhores já em andamento (sic)".

O periódico "Correio Espírita", de Niterói, chegou a ventilar que a "Pátria do Evangelho" sonhada por Chico Xavier já foi inaugurada. O periódico, corroborando os devaneios de diversos "espíritas" - de Divaldo Franco ao escritor Robson Pinheiro - , já afirmou que o período atual é "de profunda regeneração social".

Com base nessas alegações, inferimos, que a ideia deles de que o Brasil, "mesmo com dificuldades, ingressou numa nova fase de mudanças benéficas que colocarão o país em posição de destaque no mundo". Ou seja, a causa do "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" teria se "concretizado" de acordo com o que diz o "movimento espírita".

Só que, na prática, vemos o Brasil retomar sua posição subalterna no concerto das nações. E, para piorar, a interpretação subliminar da ideia de "coração do mundo" e "pátria do Evangelho" remete a um misto de imperialismo com teocracia, fazendo surgir a perspectiva sombria de que os espíritos medievais que reduziram a Doutrina Espírita, da forma como é feita no Brasil, a uma reciclagem do Catolicismo jesuíta do período colonial, estariam, com isso, querendo recriar o Império Romano.

Enquanto "espíritas" ficam falando em "despertar da humanidade", "conscientização da juventude" e "início de um período de regeneração", o que vemos é o contrário. Enquanto "espíritas" sonham com a fantasiosa ideia de "crianças-índigo", supostos prodígios comprometidos com o progresso moral e intelectual da humanidade, o que se observa é a manifestação cada vez mais aberta de preconceitos sociais e incitações ao ódio e à violência.

Na foto que ilustra esta postagem, observa-se o filho do político Jair Bolsonaro, o também parlamentar Eduardo Bolsonaro, segurando uma placa com a frase "Eu vou pacificamente te matar". Ele aparece sorrindo, com uma pistola em outra mão, ao lado de um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), Arthur Moledo, que segura um fuzil enquanto faz uma careta de puro escracho.

O MBL, que comandou as passeatas contra a presidenta Dilma Rousseff, depois expulsa do poder, tem como principais membros-fundadores Renan Santos, Kim Kataguiri e Fernando Holiday, em plena ascensão pessoal. Holiday foi eleito vereador por São Paulo, pelo direitista DEM. Kataguiri é um dublê de intelectual que é convidado para palestras e vai lançar um livro de artigos (muito mal escritos e desinformativos) publicados na Folha de São Paulo.

A ascensão dos jovens fascistas ganhou impulso quando eles conseguiram, através de uma campanha nas redes sociais, cancelar prematuramente uma exposição sobre diversidade sexual chamada Queermuseu, no Santander Cultural, em Porto Alegre, que se encerraria no próximo mês mas foi encerrada há poucos dias.

Promovido pelo banco espanhol, o evento não era uma baixaria, mas uma coleção de obras que estimulavam o debate e o questionamento social, focalizando sobretudo a causa LGBTT (sigla que se refere a lésbicas, gays, bissexuais, trangêneros e travestis). Mesmo assim, o evento foi atacado por supostas alusões à pedofilia e zoofilia.

Outro fato preocupante é que as encrencas em que se meteu o deputado Jair Bolsonaro - pai de Eduardo, que por sua vez foi acusado de tentar agredir verbalmente uma ex-namorada e tem como delirante proposta legislativa a criminalização do comunismo - , além de renderem punições brandas ao ex-militar, também lhe favorecem em visibilidade e valentia, sendo um dos políticos com potenciais chances de vencer as eleições presidenciais do Brasil.

Isso é muito perigoso. Jair segue aquele tipo de político de extrema-direita que nem mesmo as elites empresariais brasileiras, associadas ao capitalismo dos EUA, querem como governante. Essas elites, que tomam as rédeas da população brasileira, temem que Jair Bolsonaro atue como um direitista que "vai longe demais", como os extremistas que, a serviço do capitalismo, podem governar de forma personalista e prejudicar até mesmo as determinações do empresariado.

Ainda assim, a ideia de que um governo fascista é uma hipótese provável para o Brasil é assustadora e real. O trágico cenário brasileiro não é uma paranoia, porque, infelizmente, existem debilidades sociais brasileiras que podem abrir caminho para um quadro desse porte.

A continuidade de pautas reacionárias, com um Legislativo indiferente ao povo e um Judiciário atuando de maneira seletiva conforme interesses dominantes, pode fazer o Brasil regredir ainda mais, causando uma ameaça maior aos brasileiros.

A ascensão da juventude reacionária dos "bolsomitos" (seguidores dos Bolsonaro), do MBL, do Vem Pra Rua e dos Revoltados On Line (nome que é um aviso aos "espíritas", que dizem condenar a revolta e apostam nestes movimentos reacionários para "regenerar o Brasil"), ao menos, derrubou a tese de "criança-índigo", na medida em que mostram jovens cada vez mais truculentos e trogloditas, que apostam em valores retrógrados e na coerção violenta para defender seus interesses.

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