sexta-feira, 21 de outubro de 2016

O sofredor não está na Terra para "turismo". E o palestrante "espírita"?


O "espiritismo" comprova cada vez mais estar voltado para a Teologia do Sofrimento, corrente medieval da Igreja Católica que estabelece que as desgraças são o caminho da "purificação da alma". Isso é provado pela série de textos de "conselhos morais" que sempre impelem o deserdado da sorte a aceitar sua sina e até abrir mão de seus potenciais.

Fala-se até que o espírito não está na Terra para "turismo". Mas os "espíritas" pouco se importam se a pessoa desperdiça a vida com o acúmulo de desgraças. "Só viveu sofrendo? Pouco importa! Tem a verdadeira vida, a reencarnação, não custa recomeçar...", é a resposta mais provável.

Fica uma grande contradição. Os "espíritas" dizem que a pessoa não está na vida para ter moleza, mas tem que caprichar no "aprendizado", que é o eufemismo para o acúmulo de desgraças que chega na vida, como um remédio tomado em excesso.

Assim como o remédio é receitado com uso excessivo, para garantir o lucro da indústria farmacêutica, que se enriquece às custas de pacientes que usam remédios como quem pega um doce na geladeira, o "espiritismo" vira uma "indústria de sofredores" para garantir a lotação dos "centros espíritas" e a venda em massa de produtos associados.

"Abra mão de tudo, se for necessário. Deixe de lado seus talentos, recomece os planos de vida do zero", "reavalie seus desejos de forma radical". Essas são as recomendações que levam no exagero o sofrimento e as necessidades de reavaliar desejos, vontades e habilidades.

Na dose certa, as adversidades ensinam a pessoa, sim, a fazer uma revisão do que ela quer fazer ou deseja ter na vida. Mas o "espiritismo" não quer saber de dose certa: o excesso é "dose certa". Tendo como maior postulado a Teologia do Sofrimento católica, mais do que os ensinamentos morais do professor Allan Kardec, o sofrimento é "somente um detalhe".

É fácil negar a individualidade no "espiritismo". A anulação do indivíduo, induzido a ser diferente do que é, e, às vezes, abrindo mão até de aprendizados, pois, dependendo do caso, a pessoa que sofre desilusões e aprende a ser diferente, quando entra em contato com o "espiritismo", sofre adversidades que o empurram para voltar às ilusões abandonadas.

Tivemos queixas de rapazes que se desiludiram na adolescência, não conseguindo conquistar moças de perfil sexualmente atraente, aprenderam a gostar de moças com perfil mais modesto e personalidade mais interessante, e, quando se tornaram "espíritas", passaram a atrair somente as chamadas "periguetes", que levam a efeitos mais grotescos a obsessão pelo sexo que os rapazes abandonaram.

O sujeito vira brinquedo das adversidades, e, do contrário que os "bondosos espíritas" dizem, nem de longe isso traz o aprendizado. Ou, se traz, é pela dor e pela degradação típica de quem sofre danos morais em situações que dariam um livro de Franz Kafka.

É até irônico que os "espíritas" reprovam tanto o suicídio, mas para eles pouco importa se o sofredor suporta adversidades pesadas e tem um caminho apertado para a superação. Não se trata de mil portas fechadas e uma janela aberta, mas um pequeno buraco que mais parece o vão livre entre a porta e o chão.

E se o sofredor não está na Terra para "fazer turismo", o que faz então os palestrantes "espíritas", viajando no bem bom, com o dinheiro da "caridade" e os generosos patrocínios das elites da fortuna terrena, percorrendo as mais belas cidades do Brasil e do mundo, ganhando condecorações e fazendo palestrinhas tolas que divagam sem necessidade sobre o amor e a felicidade, qualidades das quais é inútil se perder na avalanche de teorias infindáveis, palavras mortas que só servem para enfeite.

É muito fácil dizer para o sofredor "se mexer", ainda que só lhe reste o direito de respirar - se ele não viver no Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo ou Porto Alegre, que, com poluição e multidões de fumantes inveterados e narcisistas, nem direito à respiração se tem - , enquanto o palestrante "espírita" está feliz com o mercado das lindas palavras, recebendo medalhas e diplomas. Como é bom usar belas palavras como passaporte para o turismo da vaidade sob o manto da fé.

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